O adeus ao milagre que foi Kimmy Schmidt?
Unbreakable Kimmy Schmidt chegou ao fim com a estreia da segunda metade da quarta e última temporada. E poderá dar num filme em breve.
Unbreakable Kimmy Schmidt era sobre como uma mulher podia ultrapassar um enorme trauma sem deixar que este a definisse ou a destruísse. Ao mesmo tempo, era uma máquina incessante de comédia absurda, de uma densidade inacreditável de ideias estúpidas e tiradas hilariantes, apontadas a alvos como a cultura pop ou o abuso de poder. Manteve-se assim, entre o sério e o disparatado, desde o início, em 2015, até ao fim, à segunda metade da quarta e última temporada, cujos derradeiros seis episódios chegaram ao Netflix a 25 de Janeiro.
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Unbreakable Kimmy Schmidt era sobre como uma mulher podia ultrapassar um enorme trauma sem deixar que este a definisse ou a destruísse. Ao mesmo tempo, era uma máquina incessante de comédia absurda, de uma densidade inacreditável de ideias estúpidas e tiradas hilariantes, apontadas a alvos como a cultura pop ou o abuso de poder. Manteve-se assim, entre o sério e o disparatado, desde o início, em 2015, até ao fim, à segunda metade da quarta e última temporada, cujos derradeiros seis episódios chegaram ao Netflix a 25 de Janeiro.
Mesmo que a recta final da criação de Tina Fey e Robert Carlock não seja a mais forte da série, o episódio final compensa isso tudo, com um misto de coração, piada e esperança que poderá ou não trazer lágrimas aos olhos de quem acompanhou a saga de Kimmy Schmidt, a tal mulher que foi raptada por um líder de um culto em adolescente e resgatada 15 anos depois. E há sempre frases e ideias memoráveis pelo meio, como uma história sobre a verdadeira origem de Cats, o musical que perdura desde os anos 1980, e, em teoria, foi escrito por Andrew Lloyd Webber ou piadas sobre Billy Crystal ter feito, em pleno 2012, blackface a apresentar os Óscares.
Isto, claro, além do elenco, encabeçado por Ellie Kemper no papel de Kimmy, perfeita para comunicar a inocência, decência e parvoíce da personagem, bem como os outros protagonistas, os amigos que ela fez ao mudar-se para Nova Iorque: o furacão cómico que é Titus Andromedon, a personagem de Tituss Burgess, a nova-iorquina de gema Lillian Kaushtupper, a senhoria de Kimmy e Titus interpretada pela lendária Carol Kane, e, por fim, Jacqueline White, a ex-socialite que teve de começar a trabalhar a quem é dada vida por Jane Krakowski, que já era uma das caras de 30 Rock, a obra-prima de Tina Fey. O fim contempla-os todos igualmente bem e há também espaço para pessoas como Amy Sedaris, uma das actrizes cómicas com mais piada que há e cuja presença é sempre bem-vinda qualquer que seja o contexto.
Até lá, há ideias que provavelmente funcionavam melhor no papel do que na execução, que têm interesse e piada mas não satisfazem completamente. Como, por exemplo – e tudo isto pode ser considerado spoiler –, um cameo de Ronan Farrow a investigar um escândalo de assédio sexual protagonizado por um fantoche – os abusos de poder são sempre perpetrados por pessoas patéticas, ridículas – ou um episódio temático inspirado em Instantes Decisivos, o filme de 1998 com Gwyneth Paltrow sobre como a vida de uma mulher teria corrido se ela não tivesse apanhado um comboio. A ideia é mostrar como a vida de Kimmy teria sido se ela tivesse ido ao cinema ver esse filme e não tivesse sido raptada, o que é bom. Mas o episódio, ao contrário do que é normal, tem uma hora de duração, sem grande razão para isso.
Segundo o que os criadores disseram à The Hollywood Reporter, há mais do que uma mera possibilidade de Kimmy, Titus, Lillian e Jacqueline voltarem um dia para um filme. Espera-se o melhor.