Enfermeiros denunciam "grande tensão" na Feira devido a pressões dos médicos

Cancelada uma cirurgia oncológica no primeiro dia de greve. Enfermeiros dizem que médicos não estão disponíveis para ajustar tempos de cirurgia às equipas de enfermagem.

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Mario Lopes Pereira

A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros denunciou esta sexta-feira a existência de "uma grande tensão" no Hospital São Sebastião, em Santa Maria da Feira, devido à indisponibilidade dos médicos para ajustarem os tempos de cirurgia às equipas de enfermagem disponíveis.

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A Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros denunciou esta sexta-feira a existência de "uma grande tensão" no Hospital São Sebastião, em Santa Maria da Feira, devido à indisponibilidade dos médicos para ajustarem os tempos de cirurgia às equipas de enfermagem disponíveis.

Na quinta-feira, primeiro dia da greve dos enfermeiros que trabalham nos blocos operatórios - em curso até final de Fevereiro em sete hospitais do Serviço Nacional de Saúde -, já se verificou na unidade da Feira "o cancelamento de uma cirurgia oncológica" - que é uma das operações para as quais os enfermeiros abriam excepção, de forma a que doentes com cancro não as vissem adiadas. O Ministério da Saúde já anunciou que está a analisar várias formas jurídicas de reacção para poder travar esta segundo período de "greve cirúrgica".

Segundo fonte sindical, "há uma grande tensão no hospital, porque os médicos organizam os seus períodos cirúrgicos semanalmente e um deles, por exemplo, marcou três cirurgias para uma manhã, sabendo que só tem uma equipa de enfermeiros disponível e que o conjunto das três operações ultrapassa o tempo de disponibilidade da sala cirúrgica", refere a fonte sindical.

"Como o médico não passa nenhuma operação para a tarde, porque pensa que isto funciona à la carte e, em vez de adaptar os horários ao interesse do doente, prefere organizá-los em função da sua própria conveniência, cria-se uma pressão enorme sobre os enfermeiros e a tensão vai continuar a aumentar", acrescenta

A mesma fonte argumenta que "os médicos sempre foram intransigentes" nestas matérias e que, devido à necessidade que sentem de "defender a sua posição", "lidam mal com o constrangimento que têm em mãos neste momento" - que é a greve em curso até final de Fevereiro.

Realça, contudo, que as opções cirúrgicas são da exclusiva responsabilidade dos médicos, que "têm de ajustar o seu calendário cirúrgico às equipas e meios disponíveis" e assumir "as devidas consequências quando não o fazem".

Ainda assim, a sindicalista nota que, em casos mais urgentes, as equipas médicas podem solicitar um reforço de enfermeiros, reforço para o qual as diferentes estruturas sindicais representadas no hospital da Feira "sempre estiveram receptivas".

"Mas, seja no Hospital da Feira ou nos outros, os riscos de represálias são constantes, com os médicos a ameaçarem mudar para outra área os enfermeiros que têm dez ou 20 anos de uma determinada especialidade", diz. A sua conclusão é, por isso, que "esta greve não é apenas um grito de revolta - é também o enfrentar de um medo diário, para ver se alguma coisa muda".

Contactada pela Lusa, a administração do Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga, que gere o hospital da Feira e também as unidades de São João da Madeira e de Oliveira de Azeméis, disse apenas que "estão a ser assegurados e cumpridos serviços mínimos, e que sempre que necessário há negociação e diálogo com os piquetes de greve".