Republicanos unem-se contra Trump no Senado e condenam retirada da Síria

A maioria dos senadores republicanos condena a retirada das tropas da Síria e do Afeganistão. A política externa está a tornar-se um ponto de divisão entre Trump e o seu partido.

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Mitch McConnell, líder da maioria do Partido Republicano no Senado LUSA/SHAWN THEW

Em pouco mais de um mês, a maioria do Partido Republicano no Senado norte-americano aprovou duas propostas que chocam de frente com a política externa da Casa Branca, num raro sinal público de censura a decisões do Presidente Donald Trump. Depois de terem votado pelo fim do apoio dos EUA à Arábia Saudita na guerra no Iémen, por causa do assassínio do jornalista Jamal Khashoggi​, os senadores republicanos aprovaram agora uma proposta que condena a "retirada precipitada" das tropas norte-americanas da Síria e do Afeganistão.

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Em pouco mais de um mês, a maioria do Partido Republicano no Senado norte-americano aprovou duas propostas que chocam de frente com a política externa da Casa Branca, num raro sinal público de censura a decisões do Presidente Donald Trump. Depois de terem votado pelo fim do apoio dos EUA à Arábia Saudita na guerra no Iémen, por causa do assassínio do jornalista Jamal Khashoggi​, os senadores republicanos aprovaram agora uma proposta que condena a "retirada precipitada" das tropas norte-americanas da Síria e do Afeganistão.

A proposta foi apresentada pelo líder da maioria do Partido Republicano no Senado, Mitch McConnell, o que dá ainda mais peso à votação final.

Em muitos outros assuntos, McConnell tem protegido o Presidente de possíveis votações polémicas. No último mês, por exemplo, durante o encerramento de várias agências e departamentos públicos no país, o líder republicano garantiu que só deixaria levar à votação no Senado uma proposta de compromisso que tivesse o apoio garantido de Donald Trump.

Mas a política externa é toda uma outra questão para os senadores do Partido Republicano, um partido tradicionalmente mais receptivo a apoiar intervenções militares no estrangeiro como meio de manter o território norte-americano a salvo de ataques.

A divergência entre os senadores republicanos e o presidente Trump ficou patente em Dezembro, quando o Senado aprovou o fim do apoio norte-americano à coligação liderada pela Arábia Saudita na guerra no Iémen. Apesar de não ser vinculativa, essa votação mostrou que à maioria dos senadores republicanos não agradou a posição suave do presidente Trump em relação ao assassínio do jornalista Jamal Khashoggi​, em Outubro, no consulado da Arábia Saudita em Istambul.

Desta vez, a proposta de Mitch McConnell contra a retirada de tropas da Síria e do Afeganistão foi aprovada com 68 votos a favor e 23 contra – os restantes nove do total de 100 senadores não votaram. E foi no Partido Republicano que a proposta a condenar uma decisão do presidente Trump teve mais sucesso: dos que responderam "não", apenas quatro são republicanos.

"Retirada precipitada"

A proposta em causa vai agora ser anexada a uma outra, mais abrangente, sobre a política dos EUA para o Médio Oriente. Não é vinculativa, mas pode indicar aos aliados dos EUA que o Senado norte-americano – com toda a sua influência e estabilidade – mantém-se fiel à política externa anterior ao Presidente Trump.

No texto de apresentação da proposta, o líder da maioria republicana no Senado deixou clara a oposição aos anúncios de Trump sobre a retirada de tropas na Síria e, possivelmente, do Afeganistão: "Expressar a percepção do Senado de que os Estados Unidos enfrentam ameaças continuadas de grupos terroristas a operar na Síria e no Afeganistão, e que a retirada precipitada das forças dos Estados Unidos de qualquer desses países poderia pôr em risco os ganhos alcançados com muito esforço e a segurança nacional."

Esta proposta surge na sequência de um tweet do presidente Trump, no dia 19 de Dezembro, a anunciar a retirada das cerca de 2000 tropas norte-americanas da Síria: "Derrotámos o ISIS [Daesh] na Síria, que era a única razão para estarmos lá durante a Administração Trump."

Nas últimas semanas, o início das negociações entre os EUA e os taliban no Afeganistão lançou a discussão sobre uma possível retirada das tropas norte-americanas do país, onde estão desde 2002 na sequência dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque e no Pentágono.

Os críticos do Presidente Trump temem que o Daesh possa ser encorajado a reagrupar-se com o anúncio da retirada das tropas norte-americanas. E também que as forças curdas, que têm combatido contra os extremistas islâmicos com apoio dos EUA, fiquem vulneráveis ao Daesh e também a possíveis ofensivas do Exército turco, que as trata como terroristas.

Democratas alinhados com Trump

Mas a votação de quinta-feira também revelou algo sobre o Partido Democrata – mais precisamente sobre a inclinação cada vez maior do partido para um eleitorado mais progressista, avesso a intervenções militares no estrangeiro.

Dos 23 votos contra a condenação da retirada de tropas da Síria e do Afeganistão, 20 são do Partido Democrata. E seis já anunciaram, ou espera-se que anunciem, as suas candidaturas à nomeação para as eleições presidenciais de 2020: Elizabeth Warren, Kamala Harris, Kirsten Gillibrand, Amy Klobuchar, Cory Booker e Bernie Sanders (independente mas alinhado com os democratas).

O senador do Vermont, que disputou a nomeação com Hillary Clinton em 2016, acusou o líder do Partido Republicano no Senado de querer "manter o statu quo"​.

"Estamos no Afeganistão há mais tempo do que em qualquer outra guerra americana da História; e na Síria, já estamos lá há tempo demais e temos de sair", disse Bernie Sanders.