Joan Baez num longo adeus aos palcos, não aos discos

A digressão em que Joan Baez se vai despedindo dos palcos, Fare Thee Well Tour, tem um único concerto em Portugal. É esta sexta-feira, no Coliseu de Lisboa, às 21h30.

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Joan Baez no Coliseu de Lisboa, em 2010 RUI GAUDÊNCIO

Quando actuou no Coliseu dos Recreios de Lisboa, há quase uma década, Joan Baez despediu-se do público com um elogio: “É uma alegria cantar para vocês, vocês são esplêndidos!” Pois o mesmo adjectivo foi usado agora pela revista Uncut para designar o mais recente disco da cantora norte-americana, Whistle Down The Wind, produzido por Joe Henry, vencedor de três Grammys: “Um esplêndido novo álbum.” Isto na mesma revista (a de Março de 2018) que publicava uma longa entrevista com ela a pretexto desse disco, recém-editado e catalisador do início de uma digressão mundial que, anunciou ela, seria a última, num definitivo adeus aos palcos (não aos discos).

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Quando actuou no Coliseu dos Recreios de Lisboa, há quase uma década, Joan Baez despediu-se do público com um elogio: “É uma alegria cantar para vocês, vocês são esplêndidos!” Pois o mesmo adjectivo foi usado agora pela revista Uncut para designar o mais recente disco da cantora norte-americana, Whistle Down The Wind, produzido por Joe Henry, vencedor de três Grammys: “Um esplêndido novo álbum.” Isto na mesma revista (a de Março de 2018) que publicava uma longa entrevista com ela a pretexto desse disco, recém-editado e catalisador do início de uma digressão mundial que, anunciou ela, seria a última, num definitivo adeus aos palcos (não aos discos).

E, na verdade, Joan Baez tem andado em digressão desde essa data sob a designação de Fare Thee Well Tour. E continua, com uma agenda carregada. Em Portugal, desta vez, dá um único concerto, no Coliseu de Lisboa, esta sexta-feira, 1 de Fevereiro, às 21h30. Quando Portugal a viu cantar ao vivo pela primeira vez, em 2 de Agosto de 1980, também num concerto único no antigo (hoje demolido) Pavilhão do Dramático de Cascais, Baez tinha 39 anos. Agora tem 78 e a sua voz já não é, nem podia ser, a mesma.

“​Represento outras coisas além da voz”​

Mas ainda assim ela continua a tirar partido da expressão que a caracteriza. Em 2010, na crítica do PÚBLICO à sua apresentação no Coliseu no dia 10 de Março desse ano (apresentar-se-ia também no Porto, na Casa da Música), dava-se conta dessa transformação natural, justificada pela idade: “A sua voz de soprano mostra-se mais seca, embora não menos expressiva, e os característicos vibratos e falsetos que a tornaram única atenuam-se em exposições mais sóbrias e contidas.” Isso em 2010.

Mas Baez actuou mais vezes em Portugal. Em 2015, por exemplo, esteve nos coliseus do Porto (31 de Março) e de Lisboa (1 de Abril) e, numa entrevista à revista Sábado (a Ângela Marques) disse, antes de subir aos palcos: “Hoje em dia fico preocupada com a minha voz porque já não consigo cantar as notas mais altas, mas acho que represento outras coisas além da voz”. Cinco anos antes, em Março de 2010, dissera à RTP, numa entrevista, entre a ironia e o divertimento: “Às vezes quando estou em palco penso que é uma loucura eu ainda fazer isto. E a loucura maior é que as pessoas continuam a vir ouvir. É maravilhoso.” E continuou a apresentar-se ao vivo. Até à actual despedida.

Dylan, Woodstock, Obama

Designada muitas vezes (e até depreciada) como “mexicana”, Joan Baez nasceu, na verdade, em Staten Island, Nova Iorque, em 9 de Janeiro de 1941, filha de Albert Baez (físico de origem mexicana, co-inventor do microscópio de raio-x) e de Joan Bridge Baez, escocesa. Pauline e Mimi Fariña, também cantora, eram as outras filhas do casal. A sua longa carreira, como cantora e activista (sobretudo em prol dos direitos civis), está documentada em inúmeros artigos, entrevistas e documentários televisivos.

Com dezenas de discos gravados em nome próprio, colaborações relevantes com músicos como Bob Dylan e passagens históricas por festivais não menos históricos (Newport, em 1959, ou Woodstock, em 1969), Baez manteve-se coerentemente na senda dos seus primeiros passos, usando a canção como forma de comunicar intenções e palavras com impacto na sociedade e nos seus rumos. Whistle Down The Wind, o disco lançado em 2018 (dez anos depois do anterior, Day After Tomorrow, de 2008), não se desvia dessa linha, integrando originais de Tom Waits, Mary Chapin Carpenter, Josh Ritter ou Eliza Gilkyson. As canções têm títulos como Be of good heart, Another world, Civil war, The great correction, I wish the wars were all over ou The President sang Amazing Grace, a pensar em Obama e muito longe de alguém chamado Trump.

Um adeus que ainda demora

Depois de actuar em Lisboa, Joan Baez tem uma agenda bastante carregada. Até finais de Fevereiro tem pela frente o Olympia de Paris (dias 3, 5, 6, 12 e 13), Amesterdão (dia 8), Antuérpia (9), Estrasburgo (15), Munique (16), Hamburgo (18), Frankfurt (19), Brighton (22), Cardiff (23), Manchester (25), Glasgow (26) e Londres (28 e 1 de Março). Abril e Maio estão reservados aos Estados Unidos (Alabama, Georgia, Texas, Arkansas, Missouri, Tennessee, Virginia, Washington DC, Massachusetts, New Jersey e Nova Iorque) e em Julho Joan Baez voltará à Europa, para várias actuações em França. Se é um adeus, ainda demora. Já nos discos não há despedidas: continuará a gravar.