O Facebook habituou-se a pedir desculpas, mas não pelos resultados

A empresa fez mais dinheiro, tem mais utilizadores e as acções dispararam. Mas as boas notícias acabaram por ser ensombradas por mais um caso de privacidade, que fez renascer uma contenda com a Apple.

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As contas permitiram a Zuckerberg uma oportunidade rara para dar boas notícias Charles Platiau/Reuters

Nos últimos tempos, tornou-se habitual ouvir desculpas vindas do Facebook, algo que aconteceu após vários episódios relacionados com falhas de segurança e de privacidade e com problemas de desinformação. Mas há uma questão em que a empresa não tem razões para se tentar justificar: os resultados financeiros.

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Nos últimos tempos, tornou-se habitual ouvir desculpas vindas do Facebook, algo que aconteceu após vários episódios relacionados com falhas de segurança e de privacidade e com problemas de desinformação. Mas há uma questão em que a empresa não tem razões para se tentar justificar: os resultados financeiros.

As acções do Facebook dispararam nesta quinta-feira 11%, depois de a empresa ter apresentado contas que vieram contrariar a postura pessimista dos últimos meses e que permitiram aos executivos de topo passar uma mensagem positiva.

O negócio da rede social tem estado ensombrado não apenas pela forma como a empresa protege e usa os dados dos utilizadores, mas também por sinais de que o crescimento do Facebook está a abrandar e que o desafio seria fazer dinheiro nas outras plataformas: o Instagram e o serviço de mensagens WhatsApp.

Os números, porém, deram a Zuckerberg e aos accionistas razões para sorrir.

A empresa fechou o ano de 2018 com um pouco mais de 55 mil milhões de dólares de receitas publicitárias (cerca de 48 mil milhões de euros), o que significa um aumento de 38% face ao ano anterior. O lucro ultrapassou os 22 mil milhões de dólares, uma subida de 39%.

As despesas, contudo, tiveram um aumento ainda mais significativo, em parte reflectindo o investimento feito para tentar resolver erros do passado, como as lacunas na moderação de conteúdo e na transparência dos anúncios publicitários. Os custos foram de praticamente 31 mil milhões de dólares, tendo disparado 51% face a 2017.

“Mudámos drasticamente a forma como gerimos esta empresa”, afirmou Mark Zuckerberg, na conferência de apresentação de resultados, nesta quarta-feira. "Mudámos a forma como construímos serviços para nos focarmos mais em prevenir danos. Investimos milhões de dólares em segurança, o que afectou a nossa rentabilidade. Tomámos medidas para reduzir o envolvimento no WhatsApp, de forma a parar a desinformação, e reduzimos os vídeos virais no Facebook em mais de 50 milhões de horas por dia, para melhorar o bem-estar [dos utilizadores]”.

Já desde o final de 2017 que o Facebook diz estar preocupado com o tempo que as pessoas passam na rede social e com a forma como isso pode afectar negativamente o bem-estar mental, tendo feito alterações no feed dos utilizadores que resultaram numa diminuição do tempo gasto na rede social.

A empresa também adoptou ao longo dos últimos tempos várias medidas para tentar mitigar a disseminação de informação falsa. Entre elas está a verificação quem paga por anúncios publicitários de cariz político, uma medida que foi agora alargada à Europa, onde se aproximam eleições. Também anunciou a contratação de mais moderadores de conteúdos.

Mais utilizadores

A rede social registou um crescimento saudável no número de utilizadores. Em Dezembro, teve em média 1,52 mil milhões de utilizadores diários, mais 9% do que no mesmo mês de 2017. E cada utilizador vale agora mais dinheiro. Nos EUA e Canadá, cada utilizador passou a significar, em média, uma receita de 34,89 dólares. Na Europa, este valor foi de 10,98 dólares. A média global é de 7,37 dólares.

“Hoje temos mais de sete milhões de anunciantes activos nos nossos serviços”, adiantou a directora de operações, Sheryl Sandberg. “De negócios locais a marcas globais, empresas em todo o mundo estão a crescer e a contratar porque podem chegar a clientes nas nossas plataformas.”

No entanto, as boas notícias para o Facebook acabaram nestes dias por ser ofuscadas por mais um caso relacionado com questões de privacidade, que acabou por fazer ressurgir uma contenda com a Apple e que deixou a empresa impedida de distribuir aplicações pelos seus funcionários que usam iPhones.

Uma investigação do site TechCrunch revelou que o Facebook pagava a adolescentes para que instalassem uma aplicação que tinha acesso alargado à informação dos telemóveis, ao abrigo de um programa de investigação sobre o comportamento dos utilizadores.

A empresa reconheceu a existência do programa, mas disse que os utilizadores estavam informados e tinham dado consentimento.

Na sequência da notícia, a Apple retirou ao Facebook a possibilidade de usar um serviço empresarial chamado Developer Enterprise Program, que permite a empresas disponibilizarem aplicações aos trabalhadores. Como resultado, os funcionários do Facebook que usam iPhones deixaram de ter acesso a versões de teste das aplicações e também às aplicações que são usadas internamente (por exemplo, para o usar os serviços de transporte da empresa).

O episódio é um recrudescer da disputa sobre questões de privacidade que há quase um ano levou Mark Zuckerberg e o presidente da Apple, Tim Cook, a trocarem recados na imprensa. “Podíamos fazer toneladas de dinheiro se 'monetizássemos' os nossos clientes, se os clientes fossem os nossos produtos,” disse Cook na altura. “Nós escolhemos não fazer isso… Não vamos traficar a vida pessoal das pessoas.”

O Facebook diz estar a trabalhar com a Apple “para resolver o problema”.