General protagoniza o maior desafio a Netanyahu
Nas sondagens, Benny Gantz chega mais longe do que qualquer rival recente do primeiro-ministro israelita. Mas a campanha para as legislativas de Abril ainda só agora começou.
Um general, dois generais, talvez três: uma aliança com forte raiz no exército está a protagonizar o maior desafio dos últimos anos ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para as eleições de Abril. Benny Gantz é o protagonista, e no seu primeiro comício mostrou-se confiante. Agradeceu a Netanyahu os anos à frente do Governo de Israel e declarou: “Agora é a nossa vez”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Um general, dois generais, talvez três: uma aliança com forte raiz no exército está a protagonizar o maior desafio dos últimos anos ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, para as eleições de Abril. Benny Gantz é o protagonista, e no seu primeiro comício mostrou-se confiante. Agradeceu a Netanyahu os anos à frente do Governo de Israel e declarou: “Agora é a nossa vez”.
O antigo chefe do Exército anunciou a criação do partido Resiliência de Israel e manteve-se em silêncio durante quase um mês. Esta semana, apresentou-se como o contrário de Netanyahu, que vê como alguém cujo maior objectivo é manter-se no poder. Ele, Gantz, promete exercer o poder para beneficiar o país.
“Netanyahu não é nenhum rei”, afirmou, criticando a ideia de que o primeiro-ministro possa manter-se na corrida se for acusado de corrupção – o procurador-geral tem há semanas em cima da mesa a recomendação de acusação da polícia e espera-se que tome uma decisão antes das eleições a 9 de Abril.
Gantz prefere não se apresentar como sendo de direita nem de esquerda: “A luta entre a esquerda e a direita está a destruir-nos”, disse, prometendo trabalhar para aproximar uma sociedade dividida.
O antigo general (38 anos no exército, na reserva há quatro) disse que gostava de trabalhar para a hipótese da paz, mas que seria duro se esta não se concretizasse. Duas coisas não serão negociadas e manter-se-ão israelitas: os Montes Golã e Jerusalém, prometeu.
Netanyahu acusou logo Gantz de ser de esquerda (um pecado político na actual campanha): “Se alguém recusa definir-se como de esquerda ou direita, é porque é de esquerda”, disse o líder do Likud.
A posição de Gantz foi fortalecida com a aliança com um partido de outro antigo general, Moshe Ya’alon, que foi também ministro da Defesa (e que era do Likud), concorrendo os dois a eleições em lista conjunta. Especula-se ainda que um terceiro antigo general, Gabi Ashkenazi (predecessor de Gantz), se possa juntar a eles.
Até esta semana, Gantz apenas tinha feito comentários contra a chamada "Lei de Estado-nação", que dá primazia aos judeus no Estado de Israel, deixando árabes e drusos com estatuto menor. Os drusos têm uma presença significativa no exército.
Dias depois do seu discurso, as sondagens mostravam-se cada vez mais favoráveis a Gantz, mesmo que ainda se saiba muito pouco sobre as restantes figuras do partido e a sua lista.
Várias sondagens davam-lhe entre 21 e 24 deputados num Parlamento de 120, contra 30 a 31 de Netanyahu. Quando questionados sobre quem deveria ser o próximo ministro numa sondagem do Canal 12 da televisão israelita, 36% responderam Bibi, 35% Gantz.
Analistas dizem que Gantz não exclui, no entanto, trabalhar com Netanyahu (excepto se este for acusado) e que Bibi, veterano da política e que tem apenas menos 200 dias de Governo do que o fundador do Estado de Israel David Ben-Gurion, e Netanyahu tem maiores hipóteses de construir uma coligação.
Gantz pode ainda errar durante a campanha, que mal está a começar. Mas de qualquer modo, há muitos anos que ninguém mostrava ser uma ameaça tão séria a Netanyahu.
Isso poderá ter raiz no grande respeito com que os israelitas vêem os militares – o correspondente do diário alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung contava como a cerimónia de despedida do chefe das Forças Armadas Gadi Eisenkot foi transmitida em directo por vários canais e o responsável tratado como uma estrela.
Mas nem sempre generais com folhas de serviço impecáveis conseguem os mesmos resultados na política. “A liderança civil pede um conjunto de qualidades muito diferente do que é preciso para comando militar”, diz Martin Sherman, do Instituto de Estudos Estratégicos de Israel. Na sua opinião, “o papel das figuras militares depois de entrarem na política em Israel tem sido complicado, por vezes desastroso”.