João Félix: a pérola “encarnada” que escapou ao FC Porto
Jogador de 19 anos assumiu papel de destaque no esquema táctico adoptado por Bruno Lage. Fisionomia do avançado não convenceu “dragões”, que deixaram fugir talento para o rival.
Com 19 primaveras completadas em Novembro, João Félix é, a todos os níveis, um futebolista precoce. Aos 16 anos de idade, tornou-se o jogador mais novo a alinhar pela formação B dos “encarnados”. Em Agosto do ano passado, apenas com 18 anos, “o camisola 79” foi o jogador mais novo de sempre na história do derby de Lisboa a saltar do banco — e a marcar — na estreia, com um cabeceamento que deu ao empate ao Benfica, na Luz, frente ao Sporting, nos derradeiros minutos do jogo.
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Com 19 primaveras completadas em Novembro, João Félix é, a todos os níveis, um futebolista precoce. Aos 16 anos de idade, tornou-se o jogador mais novo a alinhar pela formação B dos “encarnados”. Em Agosto do ano passado, apenas com 18 anos, “o camisola 79” foi o jogador mais novo de sempre na história do derby de Lisboa a saltar do banco — e a marcar — na estreia, com um cabeceamento que deu ao empate ao Benfica, na Luz, frente ao Sporting, nos derradeiros minutos do jogo.
“Os meus pais dizem sempre isto: ‘quando o João era bebé, conseguia driblar uma bola, ainda antes de conseguir andar. Não é verdade, claro, mas, por outro lado, até o é”, relembra João Félix, num texto publicado no The Players Tribune. O avançado “encarnado” nasceu a 10 de Novembro de 1999, em Viseu, e a casa dos pais foi o primeiro estádio onde testou as qualidades. Jogava futebol dentro de portas, com o irmão, memória que recupera com nostalgia: “Era a melhor coisa do mundo. Na nossa sala de estar tínhamos, provavelmente — e não estou a mentir, atenção — umas 15 bolas de futebol espalhadas. A bola…é preciosa”.
O Pestinhas foi o primeiro clube de João, onde o pai (que também foi jogador, em divisões secundárias) chegou a ser treinador. “Na altura ele tinha oito anos. Sempre foi um rapaz tranquilo, muito animado. Já naquela idade, conseguia destacar-se dos outros”, garante ao PÚBLICO Francisco Sousa, que, em 2007-08, foi colega de equipa de João. O jogador — que fez parte da formação no Tondela — revela ainda que a “técnica apurada e boa leitura de jogo” eram os trunfos do menino.
O talento de João Félix não passou despercebido e, na época seguinte, a actual estrela do Benfica juntava-se ao Dragon Force, o projecto de formação do FC Porto.
“No Porto, perdi a alegria”
“Ida e volta eram cerca de 240 quilómetros. Todos os dias. O Porto era onde ia atrás do meu sonho de ser um futebolista profissional. E, seis anos depois, fiz aquela viagem tantas vezes que já tinha memorizado cada curva, lomba e semáforo”, lembra João Félix. Com 13 anos de idade, os “dragões” propuseram-lhe que se mudasse permanentemente para o centro de treinos. “Lembro-me de sair do carro, segurar a mão do meu pai e caminhar até ao quarto, onde iria viver juntamente com um grupo de jovens jogadores. Sentei-me e chorei tanto. Disse ‘papá, não quero ficar, quero ir para casa, não consigo fazer isto’”.
O pai aconselhou-o a ficar a noite e prometeu que, no dia seguinte, se João Félix se quisesse vir embora, o iria buscar. Percebeu, então, que para conseguir realizar o seu sonho teria de fazer sacrifícios. Resistiu às saudades de casa e ficou na academia do FC Porto, mas a aposta acabou por não correr como previa. “Eles não confiavam em mim no relvado. Criticaram-me pelo meu tamanho. No Porto, perdi a alegria”.
Tal como o FC Porto já fez, por diversas vezes, com jogadores dos “encarnados”, o Benfica decidiu aproveitar e foi buscar João Félix, em 2016. Nos últimos três anos, tem impressionado tudo e todos, subindo a pulso na hierarquia do clube da Luz. Fez uma época nos sub-17, passou para equipa B e, em Agosto de 2018, estreou-se pela equipa principal, frente ao Boavista, no Estádio do Bessa.
Peça-chave dos “encarnados”
O Boavista parece ser clube talismã para o jovem jogador. No final do mês de Janeiro de 2019, frente aos “axadrezados”, João Félix marcou, assistiu e espalhou classe no relvado do Estádio da Luz, contribuindo para a goleada expressiva do Benfica por 5-1. Para Bruno Lage, o talento que já orientava na equipa B assume agora um papel importante no seu modelo de jogo, estatuto reconhecido com a titularidade nos últimos encontros.
Até ver, o momento mais feliz para João Félix “de águia ao peito” chegou ao minuto 86 do jogo frente ao Sporting. “Na segunda parte, estávamos a perder 1-0 e entrei em campo. O barulho, a tensão, eram imensos. Com cinco minutos para se jogar, estamos a pressionar forte. Não sou um goleador, mas estava a tentar avançar no terreno. Ao minuto 86, o Rafa Silva fez uma bela corrida pela ala direita, a procurar cruzar. Eu estava ao segundo poste a dizer para mim mesmo ‘confia em mim, dá-me a bola’. Ele fez um grande cruzamento e eu fiz a parte fácil. Mal me lembro do que aconteceu a seguir. Recordo-me do speaker pegar no microfone e dizer ‘Golo marcado pelo número 79, João….’. Depois houve uma pausa, e a multidão disse ‘FÉLIX!’. O momento mais fixe da minha vida, sem dúvida”.
Na presente temporada, o jovem acabou por fazer 43 encontros pelo Benfica, com 20 golos marcados. João Félix também esteve presente em cinco partidas da selecção sub-21, somando dois golos pela equipa nacional, e uma eventual chamada de Fernando Santos poderá estar para breve. O Benfica, precavendo-se do eventual interesse dos “tubarões” europeus, renovou contrato com o avançado até 2023, dobrando a cláusula de rescisão de 60 para 120 milhões de euros.