Tiago Ilori volta atrás para dar um passo em frente
Agora com 25 anos, o defesa-central afirmou-se no Sporting numa altura difícil, esteve cinco anos no deserto e regressa agora a Alvalade para relançar a carreira.
Não há muito para dizer sobre a época 2012-13 do Sporting, a não ser que foi dividida entre os últimos dias de Godinho Lopes e os primeiros de Bruno de Carvalho e que foi um fracasso desportivo total. Sétimo lugar no campeonato, quatro treinadores diferentes e 35 jogadores utilizados na Liga são alguns dos números desse apocalipse “leonino”. Nem tudo foram, no entanto, más notícias. No meio do caos, havia uma geração “made in” Alcochete a tentar crescer. Alguns destes miúdos, como João Mário, Bruma, Eric Dier, Cedric Soares ou Ricardo Esgaio, estão bem lançados nas respectivas carreiras. Mas há um nome dessa geração que ficou pelo caminho e que agora tenta recuperar o tempo perdido. Depois de uma travessia no deserto que durou mais de cinco anos, Tiago Ilori regressou ao Sporting para relançar a carreira. A grande questão é: será que ainda vai a tempo?
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Não há muito para dizer sobre a época 2012-13 do Sporting, a não ser que foi dividida entre os últimos dias de Godinho Lopes e os primeiros de Bruno de Carvalho e que foi um fracasso desportivo total. Sétimo lugar no campeonato, quatro treinadores diferentes e 35 jogadores utilizados na Liga são alguns dos números desse apocalipse “leonino”. Nem tudo foram, no entanto, más notícias. No meio do caos, havia uma geração “made in” Alcochete a tentar crescer. Alguns destes miúdos, como João Mário, Bruma, Eric Dier, Cedric Soares ou Ricardo Esgaio, estão bem lançados nas respectivas carreiras. Mas há um nome dessa geração que ficou pelo caminho e que agora tenta recuperar o tempo perdido. Depois de uma travessia no deserto que durou mais de cinco anos, Tiago Ilori regressou ao Sporting para relançar a carreira. A grande questão é: será que ainda vai a tempo?
Num contexto de necessidade de ganhar e de poucos recursos financeiros, o resgate de Ilori parece ser uma solução aceitável para os “leões”, que garantem um central ainda jovem (25 anos), a um custo não muito alto (2,5 milhões) e com características que parecem encaixar no modelo de Keizer – é um central rápido e ágil, perfeito para um estilo de jogo com a defesa subida e com pernas para ir atrás de adversários rápidos. Pelo menos é esse o Tiago Ilori de que nos lembramos, aquele que tinha os recordes de velocidade da Academia, mais rápido até que Cristiano Ronaldo. Mas passaram cinco anos e meio desde que Ilori saiu rumo ao Liverpool. Praticamente não jogou nos “reds” e não teve grande rodagem nos empréstimos a Bordéus, Granada e Aston Villa.
Longe dos olhares dos adeptos portugueses, Ilori só começou a jogar com regularidade no Reading, equipa que está nos últimos lugares do Championship, e que agora tem um português, José Gomes, como treinador. Palavra a Anthony Smith, editor de desporto do Reading Chronicle e uma voz autorizada para falar do Ilori que o Sporting foi resgatar ao fundo da segunda divisão inglesa. “Tem feito grandes jogos, mas ainda é um pouco imprevisível em outros. Falta-lhe alguma consistência, mas tem sido um dos defesas mais rápidos do Championship”, garante ao PÚBLICO o jornalista britânico, desapontado com a saída do central para o Sporting numa altura em que estava no seu melhor momento e a formar uma parceria sólida no centro da defesa com Liam Moore, capitão do Reading.
Natural de Londres, Ilori não teria, à partida, grandes problemas para se adaptar ao futebol inglês, mas isso não foi uma realidade imediata. Contratado pelo Liverpool como uma aposta de futuro, até se falando na altura que poderia optar por representar a selecção inglesa, a verdade é que Ilori só fez três jogos pelo Liverpool, todos em 2015-16 e todos na Taça de Inglaterra, lançado por Jürgen Klopp. Andou por França e por Espanha, mas só começou a jogar com regularidade no Reading, primeiro por empréstimo em 2016-17, quando a equipa falhou por pouco a promoção à Premier League – perdeu com o Huddersfield no “play-off”. Mas fez o suficiente para que o Reading adquirisse o seu passe ao Liverpool.
“Cresceu muito nos primeiros tempos de Reading. Aprendeu muito quando foi treinado por Jaap Stam. Mas tem tido muitos treinadores e acredito que teria crescido mais se o clube tivesse outra estabilidade”, refere Anthony Smith. Depois da quase promoção, seguiu-se uma época difícil para o Reading (três pontos acima da linha de água), e as coisas não estão melhores na presente temporada, com a equipa a ocupar o 21.º lugar (em 24).
Maior visibilidade
No Sporting, Ilori terá um contrato de longa duração (até 2024, com uma cláusula de rescisão de 45 milhões de euros) e chega numa altura em que não são muitas as opções para o centro da defesa, até porque alguns dos centrais mais promissores ligados ao Sporting não estão disponíveis – Domingos Duarte está emprestado ao Deportivo da Corunha, Demiral está na Turquia e já não deve voltar, Tiago Djaló está quase certo no AC Milan. Em teoria, Coates e Mathieu são os titulares, e André Pinto tem sido o terceiro na hierarquia dos centrais – numa primeira fase, será este o estatuto a que Ilori poderá aspirar no plantel “leonino”, mas tudo dependerá, naturalmente, das opções de Marcel Keizer.
Um dos primeiros desafios de Ilori, para além de convencer Keizer, será fazer esquecer a forma turbulenta como saiu do Sporting em 2013, segundo o próprio, uma saída forçada por não querer aceitar a proposta de renovação que lhe foi apresentada. Mas o que o seu percurso mostrou é que saiu demasiado cedo de Alvalade e, não só não se afirmou na Premier League, como nunca teve visibilidade suficiente para ser uma opção credível na selecção portuguesa, e numa altura em que é urgente uma renovação no eixo da defesa. Este regresso ao Sporting é, no fundo, um regresso ao passado para poder ressuscitar uma carreira que estava estagnada.