Abandono escolar e desigualdade ajudam a explicar chumbos no 1.º ciclo em Beja

A directora do Agrupamento de Escolas n.º 2 de Beja deixa um alerta: “É urgente e decisivo encontrar currículos alternativos para os filhos das comunidades ciganas”, os mais afectados pelo abandono escolar.

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Os resultados dos alunos de Beja estão bem abaixo da média nacional Rui Gaudêncio (arquivo)

Não foi apenas no ano lectivo de 2016/2017 que as escolas do ensino básico no distrito de Beja apresentaram uma taxa de 22% de alunos que não conseguiram acabar o 1.º ciclo em quatro anos. No ano lectivo anterior a percentagem foi a mesma, pormenor que vem demonstrar o que a directora do Agrupamento de Escolas n.º 2 de Beja, Maria José Chagas, interpreta como sendo o resultado dos “desequilíbrios sociais e do abandono escolar”. É, sobretudo, nos alunos oriundos das comunidades ciganas ou residentes em bairros sociais que a retenção no 1.º ciclo do ensino básico mais se faz sentir.

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Não foi apenas no ano lectivo de 2016/2017 que as escolas do ensino básico no distrito de Beja apresentaram uma taxa de 22% de alunos que não conseguiram acabar o 1.º ciclo em quatro anos. No ano lectivo anterior a percentagem foi a mesma, pormenor que vem demonstrar o que a directora do Agrupamento de Escolas n.º 2 de Beja, Maria José Chagas, interpreta como sendo o resultado dos “desequilíbrios sociais e do abandono escolar”. É, sobretudo, nos alunos oriundos das comunidades ciganas ou residentes em bairros sociais que a retenção no 1.º ciclo do ensino básico mais se faz sentir.

Em meados deste mês, o Ministério da Educação divulgou pela primeira vez no seu portal InfoEscolas um indicador que mostra qual a percentagem de alunos que em cada escola do país consegue terminar o 1.º ciclo do ensino básico no tempo normal (ou seja, em quatro anos). O distrito de Beja foi um dos que se destacaram pela negativa: 22% das crianças que se inscreveram na escola no 1.º ano em 2013/14, e que em 2016/2017 deveriam ter chegado ao 4.º ano, transitando para o 2.º ciclo, acabaram por ficar a marcar passo. E isso aconteceu porque chumbaram pelo menos uma vez durante aquela que foi a sua primeira experiência escolar a “sério”. A média para o país, calculada a partir dos alunos com o mesmo perfil dos alunos de Beja, foi melhor: 17%. O perfil socioeconómico dos alunos é desenhado pelo ministério tendo em conta indicadores como as habilitações das mães dos alunos e a necessidade (ou não) destes receberem apoios da acção social escolar (o que é definido em função dos rendimentos dos agregados).

No ano lectivo anterior passara-se o mesmo: apenas 78% dos alunos que entraram em alguma escola do distrito de Beja em 2012/13 chegaram ao ano lectivo de 2015/16 com o 4.º ano feito. Uma vez mais abaixo do que seria de esperar.

Maria José Chagas realça um pormenor: é que nas turmas com menos de 20 alunos não é possível calcular o indicador de conclusão em quatro anos. No distrito de Beja, somam-se 76 escolas nestas condições, um número superior ao dos estabelecimentos de ensino (64) que matricularam alunos acima daquele limiar.

A professora frisa que o número de chumbos nas escolas da região está, há vários anos lectivos, “acima da média nacional”. O maior número de retenções ou desistência de alunos verifica-se sobretudo no 2.º ano. Ainda segundo o InfoEscolas, em 2016/17 14% dos alunos do distrito do 2.º ano chumbaram ou desistiram. O dobro da média nacional. São valores elevados que já se encaram como normais, acentua a docente. Há escolas no concelho onde este valor chegou no ano lectivo 2016/2017 perto dos 30%. Mas se for feita uma análise aos resultados nos 21 agrupamentos de escolas do distrito de Beja, verifica-se que há dados ainda mais preocupantes.

É o caso do Agrupamento de Escolas de Sabóia, onde 47% das crianças não acabaram o 1. ciclo no tempo considerado normal. Dados, uma vez mais, de 2016/17. A média para o resto do país, para alunos com o mesmo perfil dos deste agrupamento, foi de 19%. O PÚBLICO procurou obter um esclarecimento junto da responsável do agrupamento, que não se mostrou disponível para comentar.

“As famílias mais carenciadas são, infelizmente, as mais penalizadas”, sublinha Maria José Chagas, frisando que os seus filhos revelam “um comportamento mais instável e apresentam disfunções emocionais que tornam mais difícil a aprendizagem”. No caso das escolas de Sabóia, há um dado estatístico dramático, que há muitos anos é conhecido: esta freguesia do concelho de Odemira continua a apresentar dos mais elevados índices de suicídio a nível mundial.

E noutras localidades do distrito de Beja, o Agrupamento de Escolas de Colos, em Odemira (69% acabam o 1.º ciclo no tempo normal), o Agrupamento de Escolas de Cuba (69%), o Agrupamento de Escolas de Alvito (72%) e o Agrupamento de Escolas de Moura (73%) são os mais afectados por elevados índices de chumbos. No entanto, a Escola Básica de Almodôvar obteve uma taxa de 100%, o que contraria os condicionalismos que afectam boa parte das escolas rurais. Também a Escola Básica n.º 1 de Castro Verde alcançou os 96%. No entanto, a poucas centenas de metros, a Escola Básica n.º 2 de Castro Verde tem uma taxa de apenas 76%. A maior surpresa chega da Escola Básica de Barrancos, que apresentou uma taxa de sucesso de 94%, apesar de estar longe de tudo e remetida numa nesga de terra Espanha dentro.

A directora do Agrupamento de Escolas n.º 2 de Beja deixa um alerta: “É urgente e decisivo encontrar currículos alternativos para os filhos das comunidades ciganas”, os mais afectados pelo abandono escolar, sobretudo por razões culturais. A sua integração “passa por encontrar alternativas ao nível de aprendizagens”, observa Maria José Chagas, realçando o trabalho que está a ser feito para que o “estigma” que segrega as crianças ciganas seja, cada vez mais, “assunto do passado”.