Negociações de paz no Afeganistão com progressos tímidos
Enviado dos EUA diz que foi alcançado “um esboço” que pode lançar as bases para um futuro acordo para acabar com a guerra contra os taliban.
As negociações entre os EUA e os taliban para que a guerra que assola o Afeganistão há 17 anos chegue ao fim conheceram tímidos progressos na última semana. Os dois lados traçaram as linhas prévias sobre as quais irão negociar um acordo para acabar com o conflito. Porém, avisam os analistas, há ainda muito que separa os norte-americanos e os radicais islamitas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As negociações entre os EUA e os taliban para que a guerra que assola o Afeganistão há 17 anos chegue ao fim conheceram tímidos progressos na última semana. Os dois lados traçaram as linhas prévias sobre as quais irão negociar um acordo para acabar com o conflito. Porém, avisam os analistas, há ainda muito que separa os norte-americanos e os radicais islamitas.
Os progressos relatados pelo enviado dos EUA, Zalmay Khalilzad, foram fruto de uma ronda negocial durante seis dias na semana passada no Qatar. “Temos o esboço das linhas gerais que têm de ser negociadas até que se torne um acordo”, disse Kalilzad ao New York Times.
A linguagem cuidadosa do enviado norte-americano mostra a extrema sensibilidade que as negociações de paz entre Washington e os taliban que se arrastam há nove anos acarretam.
Os EUA estão dispostos a abandonar definitivamente o Afeganistão, mas para isso precisam de várias garantias por parte dos taliban, que incluem a assinatura de um cessar-fogo e a entrada em negociações directas com o Governo de Kabul – algo que sempre foi rejeitado pelos extremistas, que não reconhecem as autoridades locais.
Um ponto importante que foi alcançado foi a garantia dada pelos taliban de que não irão permitir a utilização do território afegão para dar guarida a redes internacionais terroristas. “Os taliban comprometeram-se, para nossa satisfação, a fazer o que é necessário para impedir o Afeganistão de se tornar uma plataforma para grupos ou indivíduos terroristas internacionais”, disse Khalilzad.
A utilização do Afeganistão como base pela Al-Qaeda durante a preparação dos ataques às Torres Gémeas de 11 de Setembro de 2001 foi uma das motivações para a invasão norte-americana.
O editor de defesa e diplomacia da BBC, Jonathan Marcus, lembra que “os taliban estão a falar a partir de uma posição de força relativa”. “Ninguém consegue imaginar que o Exército afegão venha a ser capaz de funcionar sozinho a curto prazo”, escreveu.
Os negociadores taliban vão agora apresentar o esboço alcançado no Qatar à liderança do grupo, mas um dirigente disse ao NYT que não considera que o cessar-fogo ou o diálogo directo com o Governo afegão sejam condições imperativas.
O Presidente afegão, Ashraf Ghani, reiterou a intenção de falar directamente com os taliban, mas traçou as suas linhas vermelhas. “Estamos empenhados na garantia da paz, mas há valores que não são negociáveis, por exemplo a unidade e a soberania nacional, a integridade territorial, um governo central poderoso e competente e os direitos básicos dos cidadãos do país”, afirmou.