A descoberta de uma Igreja universal
A primeira vez que ouvi falar das JMJ foi em 1991, quando vários amigos regressaram das férias e tinham estado em Czestochowa, na Polónia, com João Paulo II.
Havia uma história que era repetida muitas vezes na cozinha de casa da minha avó. Era uma memória de infância da cozinheira. Um dia, um primo ou um irmão – já não me recordo – chegou a casa e disse: “Ai, minha mãe, gosto tanto de pão de trigo com nozes!” A mãe perguntou-lhe onde tinha experimentado, e ele respondeu: “Vi comer no rio.” Assim sou eu com as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ).
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Havia uma história que era repetida muitas vezes na cozinha de casa da minha avó. Era uma memória de infância da cozinheira. Um dia, um primo ou um irmão – já não me recordo – chegou a casa e disse: “Ai, minha mãe, gosto tanto de pão de trigo com nozes!” A mãe perguntou-lhe onde tinha experimentado, e ele respondeu: “Vi comer no rio.” Assim sou eu com as Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ).
A primeira vez que ouvi falar das JMJ foi em 1991, quando vários amigos regressaram das férias e tinham estado em Czestochowa, na Polónia, com João Paulo II. Inveja, um sentimento muito pouco cristão, foi o que senti ao ouvir os seus testemunhos. A viagem de vários dias de autocarro, atravessando uma Europa inteira para chegar ao santuário mariano – construído em torno de um ícone ortodoxo de Nossa Senhora com o Menino Jesus ao colo, uma imagem negra da qual há réplicas nas igrejas portuguesas, creio que fruto dessas jornadas.
Uma viagem longa que os fez conhecer países como a Hungria e a então Checoslováquia. Ainda não éramos cidadãos europeus e os passaportes eram verificados em todas as fronteiras. O Muro de Berlim tinha caído há dois anos e a Leste nada de novo. O meu marido, então com 18 anos, conta que chegaram a uma aldeia onde compraram pão e só depois perceberam que aquele era racionado. Tinham adquirido tudo o que as pessoas daquele lugar iriam comprar, o que os deixou angustiados.
No entanto, era a alegria com que falavam que me fez desejar ter uma experiência semelhante. O encontro com um Papa superstar, que falou em esperanto e em inglês, que com a escolha daquele lugar queria unir numa única crença uma Europa dividida. O descobrir uma Igreja multicultural e multirracial. Jovens de todos os lados a falar todas as línguas, de sorriso aberto, de gargalhada fácil, viola a tiracolo, conversas fluidas por partilharem a mesma fé e o mesmo chão onde se comia e dormia. Em Czestochowa estiveram 1,5 milhões de pessoas.
Além das pequenas réplicas do ícone de Nossa Senhora, trouxeram também orações e canções que os uniam na sua descoberta de uma Igreja universal. Há uma melodia que ainda hoje trauteio, embora já não me lembre da letra, Abba Ojciec – que quer dizer “pai” em hebraico (“abba”) e em polaco (“ojciec”) –, e que era o hino das jornadas. Aliás, aprendi outras palavras na língua do Papa, tudo para que, de alguma maneira, conseguisse viver a experiência dos outros. Impossível.
As jornadas seguintes foram em Denver (1993) e Manila (1995). Muito longe. Muito caro. Em 1997 em Paris, eu já era crescida e em breve seria mãe. De João Paulo II guardo a sua imagem em Fátima e em Roma. Então, éramos jovens e gritávamos a plenos pulmões: “Viva o Papa!”