Três paragens na "grande" Banguecoque
A frenética capital da Tailândia, as cascatas de Kanchanaburi e os mercados de Amphawa, eis três lugares que não deve perder quem andar por estes lados.
Banguecoque
Em pouco tempo, o destino é o caminho
O tempo em Banguecoque é escasso, mas a cidade vive frenética e nós também nos fazemos frenéticos. Voltamos aos canais para um dos tradicionais passeios (manhã cedo, não nos cansamos de ver lagartos, quase pré-históricos, em rochas e jardins) e ao famoso mercado das flores; descobrimos o Tor Kor que a CNN considerou um dos melhores mercados de frescos do mundo, onde tudo está cuidadosamente arranjado, sem multidões e as laranjas são um dos frutos exóticos.
Entramos no Wat Poh para ver o famoso, e intensamente dourado, Buda reclinado (nas suas costas, 108 taças, o número de acções e símbolos que ajudaram Buda a chegar à perfeição, recebem “desejos” – podem comprar-se sacos com o número de moedas certo: depois é colocar uma a uma), descobrir um compêndio de massagens inscrito em pedra (foi universidade) e deslumbrar-nos com os pagodes cobertos de cerâmica – e somos arrastados por uma massa humana compacta; visitamos o Wat Benchamabophit mais cedo e podemos desfrutar da tranquilidade marmórea do claustro com os 53 budas de bronze – é normal virem pessoas meditar para o claustro, conta Katai, e no ano novo, depois da meia-noite, também. “Eu e a minha mãe vimos sempre. Sentamo-nos no chão. Não há festa, há paz.”
Descobrimos terraços sobre o rio, apanhamos barcos em ziguezague entre as duas margens da cidade (não foi em hop and off, mas também existe esse registo), desembocamos em centros comerciais ao ar livre com carne de crocodilo no espeto (Baan Khanita). Na Silom Village, assistimos a um espectáculo de dança tailandesa clássica (estilizada, algo teatral) enquanto jantamos; caímos na efervescência cosmopolita da Rua Khao San e vemos passar Yaowarat (Chinatown) e a vizinha Phahurat (“pequena Índia").
E já sabemos que em Banguecoque o caminho é sempre ele próprio um destino. Não nos importamos de ficar de cabeça no ar (de lado, para trás...) – faz parte de Banguecoque, a sobrecarga dos sentidos.
Kanchanaburi
Esplendor à sombra
Afastamo-nos por horas do rio Kwai para atravessar campos de cana-de-açúcar fechados por montanhas e abraçados por um véu dourado. Não vemos sinais de vida selvagem, pela qual a região também é conhecida, mas da religiosidade abundam templos, alguns em construção, budas gigantes no meio do nada (quando a natureza e a religião se uniram o resultado foi a infâmia feita atracção turística, o Templo do Tigre – passamos os portões permanentemente encerrados).
Paramos em Wat Tham Phu Wa, uma fachada cambojana com tendência para o excesso (exemplar no Buda gigante que faz lembrar Gulliver em Lilliput) e um coração subterrâneo: é em grutas, entre estalactites e estalagmites, que os altares se sucedem.
As montanhas do horizonte são agora o caminho para as cascatas de Huay Mae Khamin, no Parque Nacional Sri Nakharin. Katai diz que são “as mais bonitas” da Tailândia, não temos termo de comparação. São sete as quedas de água, nós chegamos de rompante à número quatro, a mais próxima de parque de estacionamento. É a maior: primeiro vemos a água que desce como se numa larga passarela em pequenos saltos num túnel de árvores, até à grande precipitação mesmo aos nossos pés.
Passadiços de madeira acompanham o curso de água, que ora é um lençol fino, deixando ver a pedra amarelada que é o seu leito, ou denso, e esverdeado; ora se abre em lagoas (pode mergulhar-se, mas “não usar champô ou sabão”, avisam as tabuletas), ora saltita. As árvores crescem no meio da água, as raízes desenham mapas aos quais não vemos fim, as lianas enrolam-se em troncos, multiplicam-se. Quando o sol consegue furar as abóbadas naturais, tudo refulge, mas são dourados breves num esplendor à sombra – e com escassos visitantes.
Regressamos ao rio Kwai para uma segunda noite, desta feita empoleirados numa falésia. O River Kwai Resotel Resort é um jardim tropical no meio da selva, com villas que se organizam em torno do edifício principal e onde a música se faz ouvir desde a tarde, à beira da piscina (uma “colónia” inglesa). De resto, a tranquilidade é a regra, o rio e os penhascos arborizados a vista – e depois de uma noite espartana, uma noite luxuosa: tectos altos desmesurados, ventoinhas no tecto e ar condicionado, televisão, internet e terraço com vista.
Amphawa
O mercado e os pirilampos
Já tínhamos almoçado em Amphawa – num “restaurante popular” que é, literalmente, uma varanda sobre o rio (e todo um tratado sobre a decoração tailandesa) –, contudo é à noite que a vivemos. Chegamos de barco, o Mae Klong como estrada, entre escuridão profunda e luminosidade espalhafatosa (os templos que surgem parecem feiras populares), para visitar o mercado flutuante (800 anos de história, conta Katai). Ironia: visitamo-lo por terra, nós e a maioria dos que desaguam esta sexta-feira à noite.
O bulício é intenso, famílias e alguns turistas, a abrirem caminho entre as bancas; no canal, os poucos barcos que vemos vendem comida. Será turístico, estamos a 50 quilómetros de Banguecoque, mas é muito mais local e isso percebe-se nos produtos que se exibem, alguns souvenirs, sim, mas muito mais produtos frescos (frutas, tantas, incluindo o mangustão, o “rei dos frutos” da Tailândia, peixe, frango...) e outros tão prosaicos como roupa, calçado e brinquedos. As bancas de comida são constantes e enchem o ar de cheiros indisciplinados; a música impõe-se, junto do canal, ao estilo karaoke.
Depois da confusão no mercado, navegação noite dentro à “caça” de pirilampos. É num dos canais do rio que confluem os barcos com a mesma missão, afastando-se das luzes (preguiçosas) das casas. Somos poucos “caçadores” e os pirilampos estão renitentes. A melhor altura para os ver é na época das chuvas, dizem-nos. Ainda assim, vemos várias árvores, sobreiros, iluminarem-se como se com luzinhas de Natal.