Bryan Singer acusado de mais abusos sexuais
Desde 1997 que existem acusações contra o realizador de Bohemian Rhapsody, candidato a melhor filme nos Óscares 2019.
A primeira acusação formal contra Bryan Singer, que em 1995 tomou Hollywood de assalto com Os Suspeitos do Costume, surgiu há mais de 20 anos. Durante a rodagem de Sob Chantagem, o seu filme seguinte, cinco figurantes, com idades entre os 14 e os 17 anos, tentaram processar o realizador por este os ter obrigado a despirem-se durante uma cena num chuveiro. O processo acabaria por ser encerrado, mas os rumores acerca de Singer persistiram e, anos depois, em 2014, o realizador voltou a ser acusado.
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A primeira acusação formal contra Bryan Singer, que em 1995 tomou Hollywood de assalto com Os Suspeitos do Costume, surgiu há mais de 20 anos. Durante a rodagem de Sob Chantagem, o seu filme seguinte, cinco figurantes, com idades entre os 14 e os 17 anos, tentaram processar o realizador por este os ter obrigado a despirem-se durante uma cena num chuveiro. O processo acabaria por ser encerrado, mas os rumores acerca de Singer persistiram e, anos depois, em 2014, o realizador voltou a ser acusado.
Após novas alegações em 2017, em pleno furacão #MeToo, Bryan Singer voltou à baila esta quarta-feira, num artigo publicado no site da revista The Atlantic – que sairá em papel em Março. Nele, detalham-se as histórias de quatro novos acusadores, um dos quais teria 13 anos na altura dos acontecimentos. Os abusos denunciados são vários, incluindo uma violação.
Alex French e Maximillian Potter demoraram 12 meses a fazer a investigação que está na base deste artigo, para o qual foram consultadas 50 fontes. O próprio Singer denunciou em Outubro, preventivamente, na sua conta de Instagram, a iminente publicação de “um artigo negativo” na revista Esquire com acusações “ficcionais e irresponsáveis”. Segundo o site The Daily Beast, os executivos da Esquire mataram a história, tal como aconteceu com a reportagem sobre Harvey Weinstein que Ronan Farrow publicou em Outubro de 2017 na New Yorker, e que fora antes rejeitada pela NBC News.
Na edição deste ano dos Globos de Ouro, o nome de Bryan Singer, que realizou uma parte do filme mas foi despedido quase no fim da rodagem (embora o seu nome se mantenha nos créditos) e substituído por Dexter Fletcher, nunca foi pronunciado. Nem mesmo quando o biopic dos Queen ganhou o prémio de Melhor Filme Dramático. O realizador não estava nomeado, como também não está nomeado para o Óscar de melhor realizador, ainda que o filme esteja na corrida ao prémio de melhor filme.
O despedimento de que foi alvo durante a rodagem de Bohemian Rhapsody deveu-se não às acusações de abuso sexual, mas ao comportamento errático do realizador e aos seus confrontos com Rami Malek, o actor que fez de Freddie Mercury e foi nomeado para um Globo de Ouro e um Óscar. Ao L.A. Times, Malek afirmou não conhecer as acusações contra o realizador.
Brian May, o guitarrista dos Queen que foi consultor musical do filme, respondeu a uma fã no Instagram que lhe pediu para deixar de seguir Singer que “um homem ou uma mulher são inocentes até serem provados culpados”. A polémica à volta desse comentário levou-o a pedir desculpas e a dizer que só o tinha seguido quando trabalhou com ele no filme.
Num comunicado enviado por um representante de Singer às redacções norte-americanas, citado pela The Hollywood Reporter, o realizador negou veementemente todas as acusações: “Da última vez que publiquei algo sobre isto, a revista Esquire estava a preparar-se para publicar um artigo escrito por um jornalista homofóbico que tem uma obsessão bizarra comigo que remonta a 1997.”
“Depois de um fact-checking cuidado, e considerando a falta de fontes credíveis, a Esquire escolheu não publicar esta peça de jornalismo de vingança”, continuou. “Isso não impediu esse escritor de a vender à The Atlantic. É triste que a The Atlantic desça a este padrão tão baixo de integridade jornalística.”
Conclui: “Mais uma vez, sou obrigado a reiterar que esta história reintroduz alegações de acções judiciais falsas interpostas por um elenco de indivíduos dispostos a mentir por dinheiro ou atenção. E não é surpresa que, com Bohemian Rhapsody a ser um êxito que ganha prémios, esta peça de difamação homofóbica tenha saído a tempo de se aproveitar do seu sucesso.”
Mesmo depois do que se passou com a produção de Bohemian Rhapsody, em Setembro foi anunciado novo projecto de Singer: um reboot de Kalidor: A Lenda do Talismã (Red Sonja, no original), o filme de 1985 que adaptava uma banda desenhada centrada numa sobrevivente de abuso sexual. Receberá dez milhões de dólares pelo trabalho (cerca de 8,75 milhões de euros).
Avi Lerner, fundador da Millennium Films, produtora que está a desenvolver o projecto, disse à The Hollywood Reporter que o projecto continua de pé, com Singer a realizar: “Os mais de 800 milhões de dólares que Bohemian Rhapsody arrecadou, e que o tornam o drama que mais rendeu na história do cinema, são um testemunho da visão e da perspicácia notáveis [de Bryan Singer]. Sei a diferença entre fake news impulsionadas por uma agenda e a realidade, e estou muito confortável com esta decisão.” O próprio Lerner foi processado por assédio sexual em Maio de 2017.