Centenas de professores protestam em Lisboa e dizem que "nunca vão desistir"
"Na próxima vez não vão ser 2000 ou 2500, vão ser dezenas de milhares na rua", declarou Mário Nogueira no final da marcha desta quinta-feira. Entre as medidas da moção aprovada pelos professores que aderiram à manifestação está "uma grande acção de protesto, sob a forma de manifestação nacional ainda durante o segundo período".
O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) garantiu nesta quinta-feira que "nunca vão desistir" de exigir a contagem integral do tempo que trabalharam, reclamando o começo imediato de negociações com o Governo.
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O secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) garantiu nesta quinta-feira que "nunca vão desistir" de exigir a contagem integral do tempo que trabalharam, reclamando o começo imediato de negociações com o Governo.
Mário Nogueira falava aos jornalistas após entregar no Ministério da Educação uma moção em que se reclama o início imediato das negociações para a contagem de nove anos, quatro meses e dois dias em que as carreiras dos docentes estiveram congeladas.
"O Governo tem que meter isso na cabeça, porque resolver isto é rápido, todos sabemos as posições uns dos outros", declarou o secretário-geral da Fenprof, antes de iniciar, com centenas de professores concentrados junto ao Ministério da Educação, em Lisboa, uma marcha a pé até à Presidência do Conselho de Ministros.
Mário Nogueira reiterou que é o tempo certo para começar a negociar com a tutela, que "não pode continuar a adiar" a discussão sobre "o prazo e o modo de recuperar nove anos quatro meses e dois dias e nem mais uma hora".
O dirigente sindical garantiu que o que "os professores mais querem é um final de ano tranquilo", mas se a contagem do tempo não for, entretanto, resolvida, isso poderá complicar o ano lectivo, nomeadamente as avaliações, por causa das "lutas, com certeza uma grande manifestação e greves" que admitem adoptar para obterem "o que é justo".
Na moção aprovada pelos professores que aderiram à manifestação, os docentes apontam como formas de luta "uma grande acção de protesto, sob a forma de manifestação nacional ainda durante o segundo período, e convocar "greve às actividades a realizar para além das 35 horas semanais de trabalho".
Os professores comprometem-se ainda a recolher assinaturas num abaixo-assinado cujo destino será a tutela.
A manifestação foi convocada por vários sindicatos. Rui Barroso, um professor de Braga presente na concentração, disse à agência Lusa que "a questão é sempre 9,4,2", referindo-se aos anos em que as carreiras dos professores estiveram congeladas, e que pretendem ver contados para efeitos de progressão na carreira.
"Se os trabalhámos, queremos tê-los reconhecidos", declarou, indicando que um professor que entre agora na carreira, "só ao fim de 44 anos é que chega ao topo, e aí já está em idade de estar aposentado e a receber uma reforma de mil e poucos euros".
"Queremos discutir"
Carlos Silvestre, de Bragança, acusou o Governo de fazer "demagogia, ao querer passar a mensagem de que os professores querem ter tudo de uma vez".
"É pura mentira, estamos aqui justamente porque queremos discutir o modo e a forma como vai ser feita a contagem", garantiu.
O facto de nas regiões autónomas já se ter começado a contar o tempo em que as carreiras estiveram congeladas "é uma desigualdade que viola os princípios da Constituição", afirmou Carlos Silvestre, que é dirigente sindical do Sindicato dos Educadores e Professores Licenciados Pelas Escolas Superiores de Educação e Universidades.
Carlos Barroso afirmou que os professores "exigem que seja retomada a negociação", compreendendo "as dificuldades que existem", mas referindo que "têm de ser iguais para todos".
"Andámos a pagar pela Caixa Geral de Depósitos e pelo BES, estamos fartos de ser gozados e enxovalhados", acrescentou.
Na terça-feira, a Fenprof ameaçou o Ministério da Educação e o Governo com "um ano desgraçado" se não ficar resolvida a questão da contagem do tempo de serviço e não forem retomadas brevemente as negociações sobre a matéria.
Entre as questões levantadas estão problemas decorrentes do reposicionamento nos escalões da carreira de alguns professores, que está a resultar em ultrapassagens por parte de professores com menos antiguidade na profissão.
Na passada semana o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, disse no Parlamento que as negociações seriam convocadas oportunamente e atempadamente, respondendo à urgência dos sindicatos com "um lembrete" de que o OE2019 é válido todo o ano e que o Governo tem o seu próprio calendário de execução do orçamento, declarações que não agradaram aos professores, mas também a alguns grupos parlamentares, como o PCP.
Segundo Mário Nogueira entre 2000 e 2500 professores juntaram-se ao protesto desta quinta-feira em Lisboa. E está dado "o sinal": "Na próxima vez não vão ser 2000 ou 2500, vão ser dezenas de milhares na rua", declarou no fim da marcha entre o Ministério da Educação e o edifício do Conselho de Ministros.