Joana disse à ILGA que precisavam de uma imagem nova — e eles aceitaram
Joana Vieira redesenhou a identidade visual da ILGA, uma organização global que promove os direitos da comunidade LGBTI+. A melhor parte? Nem eles sabiam que precisavam de uma mudança até a designer portuguesa lhes mostrar, no Twitter, o que tinha feito no tempo livre.
Talvez o projecto nunca viesse a ser usado. “E está tudo bem”, confortava-se Joana Vieira, enquanto o partilhava no Behance, há um ano. Afinal, a Associação Internacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transsexuais e Intersexo (ILGA) não lhe tinha pedido para redesenhar toda a identidade visual da organização mundial de defesa e promoção dos direitos LGBTI. A designer só precisava de um projecto pessoal fora de horas que a fizesse ter a certeza de que estava a "apontar capacidades para o sítio certo, ao lado das pessoas certas". “Ter a certeza que o que estou a fazer faz com que o mundo avance um bocadinho”, aspirava.
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Talvez o projecto nunca viesse a ser usado. “E está tudo bem”, confortava-se Joana Vieira, enquanto o partilhava no Behance, há um ano. Afinal, a Associação Internacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transsexuais e Intersexo (ILGA) não lhe tinha pedido para redesenhar toda a identidade visual da organização mundial de defesa e promoção dos direitos LGBTI. A designer só precisava de um projecto pessoal fora de horas que a fizesse ter a certeza de que estava a "apontar capacidades para o sítio certo, ao lado das pessoas certas". “Ter a certeza que o que estou a fazer faz com que o mundo avance um bocadinho”, aspirava.
Pensou: “Se pudesse trabalhar com alguém, qual era o ideal dos ideais?” Era, para ela, a ILGA. “Então, simulei esse acontecimento. E foi isso que deu origem a que isto tudo realmente acontecesse.” No ano em que celebra quatro décadas, a organização deixou o globo preto e branco para trás e apresentou, esta quarta-feira, 23 de Janeiro, o mundo arco-íris imaginado de livre vontade por Joana, 30 anos. O resultado, revelam agora, “é bonito e poderoso: à medida que as cores se juntam, unem-se num planeta diverso, colorido, que representa a nossa comunidade global”, resume Daniele Paletta, um dos coordenadores do gabinete de comunicação da associação com sede na Suíça.
Depois de desenvolver o logótipo nos tempos que tinha livres, em Dezembro de 2017 Joana começou a identificar e a contactar pessoas na direcção da associação, via Twitter. "Quase como uma forma de compensação da minha parte. Porque eu sou uma activista pelos direitos humanos, pelos direitos LGBTI e como estava a trabalhar num mundo muito comercial, tão virado para produto e para o consumo, foi uma forma de tentar dar um pouco à comunidade à qual eu pertenço."
Disse-lhes que uma organização global precisava de uma identidade visual mais coesa, actual e inclusiva e mostrou-lhes o que tinha preparado: dos cartões de visita a posters para campanhas e eventos hipotéticos. Do outro lado recebeu, primeiro, um descomprometido "Bom trabalho, gostamos de ver". Depois, um aceno de concordância, que foi tanto “inesperado” como democrático: a associação aceitava o desafio, mas abriu um concurso público para escolher a melhor proposta.
E Joana só teve de o ganhar.
A partir daí, a designer desenvolveu, já em conjunto com a equipa de comunicação da associação, o trabalho final que vai ser apresentado oficialmente em Março, na conferência da organização onde se vão juntar representantes e voluntários de todas as secções regionais da ILGA, na Nova Zelândia. Esta "ideia de globalidade" era, para Joana, uma das prioridades. Queria que a imagem da associação reflectisse o "quão grande, bem estabelecida e decisiva é" — uma "força" que até agora era prejudicada por diferentes logótipos usados em diferentes regiões. Era também "obrigatória uma maior representatividade de pessoas", já que no próprio nome da associação apenas estão incluídas lésbicas e gays e "a comunidade é muito maior", aponta. Daí veio a decisão de acrescentar o "world" (mundo), depois de ILGA. Outro "desafio" foi perceber onde centrar o globo. “Para alguns, pode ser uma forma surpreendente de olhar para o mundo”, já que desafia o que é “normalmente entendido como sendo o centro”, comenta André du Plessis, director executivo.
“Mas isto é o que a ILGA faz sempre: ajudar o mundo a ser visto de uma forma diferente, trazendo aqueles que estão nas margens para o plano central.” E era isto mesmo que também Joana queria fazer.