Flávio Bolsonaro homenageou polícia que era acusado de homicídio
Antigo capitão é suspeito de liderar uma milícia de extorsão e assassínios e está em fuga. Revelados mais pormenores das ligações ao filho mais velho do Presidente brasileiro.
Um antigo capitão da polícia brasileira que é suspeito de liderar uma milícia de extorsão e assassínios no Rio de Janeiro, e que está em fuga, foi homenageado por Flávio Bolsonaro, o filho mais velho do Presidente do Brasil, quando estava em prisão preventiva e acusado de homicídio. A homenagem, que aconteceu em 2005, foi noticiada na quarta-feira, mas o jornal Folha de S. Paulo conta esta quinta-feira mais pormenores sobre a ligação entre os dois.
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Um antigo capitão da polícia brasileira que é suspeito de liderar uma milícia de extorsão e assassínios no Rio de Janeiro, e que está em fuga, foi homenageado por Flávio Bolsonaro, o filho mais velho do Presidente do Brasil, quando estava em prisão preventiva e acusado de homicídio. A homenagem, que aconteceu em 2005, foi noticiada na quarta-feira, mas o jornal Folha de S. Paulo conta esta quinta-feira mais pormenores sobre a ligação entre os dois.
Adriano Magalhães da Nóbrega, de 42 anos, é procurado por suspeita de pertencer à milícia Escritório do Crime, acusada de extorsão de moradores e comerciantes com cobranças ilegais na favela de Rio das Pedras, e também suspeita de envolvimento em assassínios, entre os quais o da vereadora Marielle Franco, em Março de 2018.
Em Dezembro, o secretário da Segurança Pública do Rio de Janeiro sugeriu que a vereadora terá sido assassinada por poder ser um obstáculo a negócios ligados à apropriação ilegal de terras.
Numa operação contra o Escritório do Crime no Rio de Janeiro, na quarta-feira, foram detidos cinco suspeitos e outros oito estão em fuga, incluindo Adriano Magalhães da Nóbrega.
Familiares assessoras
Agora, a ligação entre o antigo polícia e Flávio Bolsonaro está a ser escrutinada pelos media brasileiros. Quarta-feira, soube-se que a mãe e a mulher do antigo capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) trabalharam no gabinete de Flávio Bolsonaro até Novembro do ano passado.
A mulher, Danielle Mendonça da Costa Nóbrega, foi contratada em Setembro de 2007 como assessora do gabinete de Flávio Bolsonaro, então deputado federal pelo Rio de Janeiro, oito meses depois de o antigo capitão ter sido absolvido de uma condenação por homicídio; e a mãe, Raimunda Veras Magalhães, é uma das pessoas que fez transferências de dinheiro para a conta do ex-assessor e ex-motorista de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, que está a ser investigado por "movimentações atípicas" no valor de 1,2 milhões de reais (280 mil euros). Flávio Bolsonaro também foi implicado em movimentos bancárias suspeitos.
Condenação e absolvição
Em 2003 e em 2005, Flávio Bolsonaro homenageou Adriano Magalhães da Nóbrega, elogiando os seus serviços na polícia a favor da comunidade. Em 2005, o então deputado federal atribuiu-lhe a Medalha Tiradentes, a mais alta distinção da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Entre essas duas homenagens, em Janeiro de 2004, o capitão do BOPE foi detido e acusado do homicídio de um jovem de 24 anos, que o tinha denunciado por extorsão e ameaças. Com Adriano Magalhães da Nóbrega foram detidos outros dez polícias. Em Outubro de 2005 foi condenado a 19 anos de prisão por um Tribunal de Júri, mas viria a ser absolvido em 2007, após a repetição do julgamento.
Segundo a Folha de S. Paulo, a acusação dizia que Nóbrega e os seus colegas "mataram o jovem e alteraram a cena do crime para tentar forjar um auto de resistência – quando o agente mata em confronto".
Mesmo depois de ter sido absolvido, o antigo capitão continuou a ser envolvido e acusado de vários crimes, que viriam a resultar na sua expulsão da polícia em 2014.
Foi detido novamente em 2008 e 2011, por tentativa de assassínio no meio de uma batalha na máfia do jogo. Apesar de não ter ido a julgamento por falta de provas (na altura o juiz sugeriu que as testemunhas podem ter sido ameaçadas), foi expulso da polícia em 2014 por causa das suas ligações às máfias do jogo – ao mesmo tempo que estava na polícia, foi segurança de um dos barões do jogo do bicho.
"Difamação"
Na quarta-feira, o agora senador Flávio Bolsonaro disse que está a ser vítima de "uma campanha difamatória com o objectivo de atingir o governo de Jair Bolsonaro". E disse que a mãe do antigo capitão acusado de liderar a milícia Escritório do Crime foi contratada pelo seu antigo assessor, Fabrício Queiroz.
Em relação às condecorações de meados da década passada, o actual senador disse que sempre actuou "na defesa de agentes de segurança pública" e sublinhou que já concedeu "centenas de outras homenagens".
Esta quinta-feira, em reacção às novas informações avançadas pela Folha de S. Paulo, Flávio Bolsonaro disse que homenageou Adriano Magalhães da Nóbrega em 2005 porque considerava que ele estava a ser vítima de uma injustiça.
"Foi assim com o então tenente Adriano, que na ocasião específica sofria uma injustiça, reconhecida com a sua absolvição na esfera judicial. Isso se deu há mais de uma década, logo, sendo impossível fazer previsões sobre acusações somente agora reveladas", disse Flávio Bolsonaro.
Segundo os media brasileiros, o Presidente Jair Bolsonaro começou a afastar-se das acusações contra o seu filho mais velho, que se avolumaram depois de o Conselho de Controle de Actividades Financeira (Coafe) ter detectado "movimentações atípicas" nas suas contas bancárias.
A investigação sobre esse caso foi suspensa por um juiz do Supremo Tribunal na semana passada, a pedido de Flávio Bolsonaro. O político argumentou que o Ministério Público pediu informação sigilosa sobre a sua pessoa ao Coafe já depois de ter sido confirmado como senador, o que lhe confere imunidade (só pode ser julgado pelo Supremo).
"Se por acaso ele errou e isso for provado, lamento como pai, mas ele terá de pagar o preço por esses actos, que não podemos aceitar", disse Jair Bolsonaro à Bloomberg na quarta-feira, durante a sua passagem pelo Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça.