Algumas medidas simples para os transportes de Lisboa
São medidas simples, algumas relativamente económicas e que podem garantir não só importantes ganhos de eficiência como de conforto.
Sabemos que o investimento em transportes públicos, por forma a garantir um bom nível de cobertura, frequência e qualidade, pode ser bastante avultado. Podemos questionar-nos se fará sentido continuar a investir na expansão das diversas redes (rodoviária, ferroviária e fluvial), ou seja na sua área de cobertura, sem tratar de resolver primeiro as insuficiências e problemas das redes actuais. Aí pesa sobretudo a questão da frequência que está muito associada a uma maior disponibilidade de recursos humanos e veículos cujo custo também pode ser considerável, porém incontornável para alcançar níveis de serviço satisfatórios. A relação custo-benefício e todas as externalidades positivas, aconselhariam certamente a um maior investimento nesta área mas mesmo sem querer avançar já para esse nível de investimento, existem algumas medidas, simples e relativamente baratas, aplicáveis na cidade de Lisboa - e não só - que podem ser desde logo implementadas com evidentes vantagens. Algumas destas medidas têm maior impacto no sector turístico, outras têm um carácter mais abrangente:
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Sabemos que o investimento em transportes públicos, por forma a garantir um bom nível de cobertura, frequência e qualidade, pode ser bastante avultado. Podemos questionar-nos se fará sentido continuar a investir na expansão das diversas redes (rodoviária, ferroviária e fluvial), ou seja na sua área de cobertura, sem tratar de resolver primeiro as insuficiências e problemas das redes actuais. Aí pesa sobretudo a questão da frequência que está muito associada a uma maior disponibilidade de recursos humanos e veículos cujo custo também pode ser considerável, porém incontornável para alcançar níveis de serviço satisfatórios. A relação custo-benefício e todas as externalidades positivas, aconselhariam certamente a um maior investimento nesta área mas mesmo sem querer avançar já para esse nível de investimento, existem algumas medidas, simples e relativamente baratas, aplicáveis na cidade de Lisboa - e não só - que podem ser desde logo implementadas com evidentes vantagens. Algumas destas medidas têm maior impacto no sector turístico, outras têm um carácter mais abrangente:
- Os passageiros que chegam ao aeroporto de Lisboa precisam de esperar talvez 30 minutos na recolha de bagagens e depois precisam muitas vezes de formar extensas filas nas máquinas do metro de Lisboa para poder adquirir o seu bilhete. Porque não colocar máquinas de bilhetes do metro junto à recolha de bagagens para que possam desde logo comprar o seu bilhete enquanto esperam pelas bagagens? (a medida pode levantar questões de jurisdição mas podem certamente ser articuladas entre Metropolitano de Lisboa e ANA).
- Recentemente, o modelo de embarque nos táxis na zona de chegadas do aeroporto foi alterado permitindo mais embarques em simultâneo. Uma boa medida que poderá até ser ampliada se o tempo médio de embarque se revelar ainda demasiado elevado na época alta. Também importante seria a colocação junto à zona de embarque, de um mapa da cidade de Lisboa, bem visível, com círculos concêntricos que indiquem o custo médio de deslocação por táxi e com informação clara sobre a taxa de bagagem e de chamada. Uma medida que irá contribuir para uma maior transparência deste serviço.
- A compra de bilhete ao guarda-freios é um dos factores que agrava significativamente o tempo de paragem dos eléctricos. Em pontos-chave do percurso, poderiam ser colocadas máquinas exteriores automáticas de bilhetes (eventualmente mais pequenas que funcionem apenas com moedas e cartões), por exemplo no Martim Moniz, Portas do Sol, Rua da Conceição, Largo Camões e Prazeres. A recolha de dinheiro poder-se-ia fazer ao fim de cada dia para evitar furtos e danos. E note-se que esta medida teria não só um efeito positivo na pontualidade, frequência e capacidade dos eléctricos como iria promover uma maior fluidez de todo o trânsito que é afectado pelas paragens prolongadas deste meio de transporte.
- A existência de um bilhete de três a cinco dias, com algum desconto sobre o valor do bilhete diário, que permite ao visitante da cidade usufruir tranquilamente da sua estadia sem necessidade de recargas constantes ou controlo de saldo. Pode até não ser a melhor estratégia em termos de rentabilidade mas faz todo o sentido da perspectiva do utilizador e do seu nível de satisfação.
- À semelhança do que acontece por exemplo em Praga, capital da República Checa, os autocarros poderiam exibir em ecrã as próximas 4 paragens para que os passageiros se possam preparar antecipadamente e possam viajar mais tranquilos, sinalizando inequivocamente a chegada a cada uma delas. Uma informação que é fundamental para passageiros (não apenas turistas) que não conheçam o percurso. De forma adicional poderia ser exibida a distância remanescente até às paragens para que os passageiros possam ter uma noção do tempo de percurso.
- Seria importantíssimo que as grandes estações de metro, estações de intersecção de linhas, estivessem munidas de instalações sanitárias de capacidade adequada. Se alegarem que o custo é demasiado elevado então que se cobre um valor razoável (0,20 euros) pela sua utilização mas a existência de tais equipamentos justifica-se plenamente em infra-estruturas dessa dimensão.
- Estamos no século XXI. Conseguimos falar com outro ser humano através de dispositivos móveis com som e imagem mas somos incapazes de conceber refúgios de paragens de transportes públicos capazes de proteger eficazmente os utentes da chuva. Estas estruturas de mobiliário urbano que encontramos actualmente em Lisboa foram desenhadas tendo como primeiro critério a visibilidade dos suportes publicitários. Como tal os bancos são colocados do lado oposto onde estão os cartazes. A protecção nascente é mais curta ou inexistente e não existe protecção frontal que poderia perturbar a visibilidade do cartaz. As diferentes componentes são em muitos casos disjuntas e com frestas e a altura e profundidade do tejadilho revelam-se desadequadas para criar uma zona de protecção suficiente quando a chuva cai com ângulos mais acentuados. É certamente possível criar um modelo que seja capaz de proteger eficazmente os utentes da chuva, nomeadamente através de uma semi-protecção frontal (vejam-se por exemplo os casos de Curitiba e de Birmingham). Ou bem que os concessionários de publicidade se comprometem a criar um abrigo confortável ou então a própria Câmara Municipal deveria assumir a responsabilidade da instalação de tais equipamentos, tão importantes para a qualidade de vida de tantos cidadãos. A substituição destas peças de mobiliário urbano teria os seus custos, claro, mas pelo menos que se desenhem modelos capazes e que se proceda paulatinamente à sua substituição com objectivos, por exemplo, trimestrais. Outra medida imperiosa é a drenagem eficaz da zona frontal da paragem ou medidas de acalmia de tráfego como lombas ou passadeiras sobre-elevadas que evitem as rajadas de água que os automobilistas lançam sobre os utentes.
São medidas simples, algumas relativamente económicas e que podem garantir não só importantes ganhos de eficiência como de conforto. Os utentes, que por experiência própria e contínua, sentem na pele os problemas e as limitações dos transportes públicos, têm que ter a sua opinião levada em linha de conta de forma mais assertiva e consequente, para que seja garantida uma melhoria contínua da rede de transportes públicos nas suas várias vertentes.