O Relógio do Apocalipse continua “perigosamente” a dois minutos da meia-noite
As alterações climáticas e o risco nuclear foram os principais motivos que fizeram permanecer este relógio metafórico tão perto do momento que simboliza o fim do mundo.
Desta vez, os especialistas da revista Bulletin of the Atomic Scientists decidiram não mexer nos ponteiros do Relógio do Apocalipse, uma metáfora que alerta a humanidade sobre se está mais perto ou mais longe de se autodestruir com as suas decisões e tecnologias. Tal como em 2018, este relógio ficou a dois minutos da meia-noite. E isso não é uma boa notícia: esta é a terceira vez – desde 1947 – que ficamos tão próximos da meia-noite, o que simboliza o fim do mundo.
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Desta vez, os especialistas da revista Bulletin of the Atomic Scientists decidiram não mexer nos ponteiros do Relógio do Apocalipse, uma metáfora que alerta a humanidade sobre se está mais perto ou mais longe de se autodestruir com as suas decisões e tecnologias. Tal como em 2018, este relógio ficou a dois minutos da meia-noite. E isso não é uma boa notícia: esta é a terceira vez – desde 1947 – que ficamos tão próximos da meia-noite, o que simboliza o fim do mundo.
Os principais motivos apontados pelos cientistas durante a conferência de imprensa desta quinta-feira na cidade de Washington (às 15 horas de Lisboa) para esta decisão foram as alterações climáticas e o risco nuclear.
Praticamente tudo se manteve igual à conferência de 2018. O simbólico relógio estava tapado com o típico pano preto e Rachel Bronson, directora executiva do Bulletin, preparou-nos (tal como no ano passado) para o que aí vinha. A questão em cima da mesa era a seguinte: será que se tinha feito o suficiente em 2018 para os ponteiros do Relógio do Apocalipse recuarem este ano?
“Apesar de alguns progressos [na relação entre os EUA e a Coreia do Norte], a situação permanece perigosa”, afirmou Rachel Bronson. Desde 2012 que os ponteiros se têm aproximado da meia-noite. No ano passado, ficaram então a dois minutos do fim, algo que só tinha acontecido em 1953, em plena Guerra Fria, quando os Estados Unidos e a União Soviética fizeram os primeiros testes termonucleares. E quem decide se os ponteiros avançam ou recuam? Há um painel de especialistas em energia nuclear ou alterações climáticas. E existe ainda outro painel – que serve de consulta ao primeiro – que inclui 14 cientistas já galardoados com o Prémio Nobel.
Antes de mostrar onde tinham ficado os ponteiros do relógio, Rachel Bronson introduziu a expressão “um novo anormal” (tradução literal de a new abnormal), que foi repetida inúmeras vezes durante a conferência, para ilustrar o tempo que vivemos. “O novo anormal descreve um momento em que os factos se tornam indistinguíveis da ficção, enfraquecendo as nossas grandes capacidades para desenvolver e aplicar soluções para os grandes problemas do nosso tempo”, explicou, apontando que os principais problemas são sobretudo as alterações climáticas e o risco nuclear.
Foram estes dois problemas que fizeram permanecer os ponteiros do Relógio do Apocalipse a dois minutos da meia-noite. “Não há nada de normal nesta complexa e aterradora realidade que estamos a enfrentar hoje”, considerou Rachel Bronson. Ao que Robert Rosner, professor na Universidade de Chicago (nos Estados Unidos), acrescentou: “O facto de os ponteiros não mudarem, não é propriamente uma boa notícia.”
A subida das emissões globais de dióxido de carbono em 2017 e 2018 foi uma das maiores preocupações apontadas pelos cientistas do Bulletin. “Alguns países, incluindo os Estados Unidos e alguns países na União Europeia, têm aumentado as suas emissões depois de anos a reduzi-las”, alertou Susan Solomon, docente no Instituto de Tecnologia do Massachusetts (nos Estados Unidos). Além disso, os cientistas salientaram a má actuação de alguns países perante as alterações climáticas. Como mau exemplo, foi referido o boicote dos Estados Unidos, Rússia, Kuwait e Arábia Saudita ao relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas sobre os impactos da subida da temperatura em 1,5 graus Celsius durante a 24.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.
O que se pode fazer?
Quanto ao risco nuclear, o painel de cientistas considerou que não houve grandes melhorias relativamente a 2017. E Sharon Squassoni, da Universidade George Washington (Estados Unidos), considerou mesmo: “Os riscos associados às armas nucleares, a longo prazo, estão a aumentar por três razões: programas dispendiosos para modernizar o armamento nuclear, doutrinas nucleares em expansão e um afastamento do controlo das armas nucleares.”
Além das alterações climáticas e do risco nuclear, o painel alertou ainda para o perigo da informação falsa, as conhecidas fake news. “Os acontecimentos em 2018 ajudaram-nos a perceber melhor a actual corrupção intencional no ambiente da informação”, frisou Herb Lin, da Universidade Stanford (Estados Unidos). Os desenvolvimentos na biologia sintética, os avanços na inteligência artificial e a criação dos primeiros bebés manipulados geneticamente na China também estiveram entre as ameaças apontadas pelos cientistas. Ao que Rachel Bronson acautelou: “Continuamos a acreditar que os avanços na ciência tornam a nossa vida melhor.”
Como tal, este painel de cientistas tem várias recomendações sobre o que deve ser feito para que os ponteiros deste relógio voltem a recuar: os Estados Unidos e a Rússia devem discutir e adoptar medidas que evitem incidentes militares ao longo das fronteiras da NATO; os países devem redobrar os seus esforços para reduzir os gases com efeito de estufa e cumprir as metas do Acordo de Paris, que quer limitar a subida da temperatura bem abaixo dos dois graus Celsius face aos níveis pré-industriais e até ao final do século; e a comunidade internacional deve iniciar uma discussão com o objectivo de estabelecer normas que desencorajem e penalizem o mau uso das tecnologias de informação.