Este Lucas Pouille é melhor que o outro

O tenista francês ressuscitou de uma queda abrupta de forma para chegar às meias-finais do Open da Austrália.

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Lucas Pouille Reuters/LUCY NICHOLSON

O Lucas Pouille que se qualificou para as meias-finais do Open da Austrália não tem nada a ver com o tenista francês que frequentou o circuito profissional durante 2018. Agora está mais feliz, mais leve (emagreceu quatro quilos), mais equilibrado dentro e fora do court e, acima de tudo, muito motivado. Os melhores adjectivos quando se vai defrontar o hexacampeão do Open, Novak Djokovic.

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O Lucas Pouille que se qualificou para as meias-finais do Open da Austrália não tem nada a ver com o tenista francês que frequentou o circuito profissional durante 2018. Agora está mais feliz, mais leve (emagreceu quatro quilos), mais equilibrado dentro e fora do court e, acima de tudo, muito motivado. Os melhores adjectivos quando se vai defrontar o hexacampeão do Open, Novak Djokovic.

“Esse Lucas Pouille partiu e é bom não voltar a vê-lo. Não era nada simpático”, frisou o jogador de 24 anos, que chega a uma inédita meia-final de um major, depois de ultrapassar Milos Raonic (17.º), por 7-6 (7/4), 6-3, 6-7 (2/7) e 6-4. Pouille (31.º) não evitou 25 ases do canadiano, mas foi o servidor mais eficaz ao ganhar 84% dos pontos disputados com o primeiro serviço e 57% com o segundo.

Antes, Pouille tinha eliminado Borna Coric, um adversário com características bem diferentes das de Raonic. “É uma satisfação vencer jogadores contra os quais eu não gostava particularmente de jogar. Cada vez que defrontava Milos, ele ganhava muito facilmente. Contra o Borna é um pouco semelhante, é um jogador que explorava as lacunas que eu possa ter. E, vencê-los, prova que eu consegui preenchê-las ou, pelo menos, progredir em muitas áreas. A resposta ao serviço, trabalhámos muito e hoje é a prova de que o trabalho compensa”, contou Pouille.

Mas o francês já vinha prometendo desde 2016, quando, com 22 anos, assinou presenças nos quartos-de-final de Wimbledon e no Open dos EUA – após uma vitória sobre Rafael Nadal, em cinco sets – e o primeiro título no ATP Tour (Metz). No ano seguinte, deu continuidade a essas expectativas e foi o único a vencer três torneios no circuito ATP (Budapeste, Estugarda e Viena) em pisos diferentes e deu o ponto decisivo à França na final da Taça Davis.

A época passada começou de forma fulgurante com a conquista do quinto título (Montpellier) em três finais disputadas no ATP Tour e chegou ao 10.º lugar do ranking. Só que depois foi a queda, de motivação e no ranking. Em 10 torneios perdeu na ronda inicial. Depois de cada encontro, dizia que ia parar, que não podia continuar.

“Houve dias, em que retomei os treinos sozinho, mas fazia uma hora de mini-ténis, arrumava as raquetas e saía. Não é necessariamente perfeito, mas ficava feliz em ir bater bolas com um amigo, sem objectivos e a vontade voltou a pouco e pouco. Quando a época terminou, coloquei a mim próprio todas as questões. Tive vontade de voltar a fazer um belo ano. Uma vez decidido, fiz todos os esforços para ter sucesso”, explicou.

Uma conversa com Amélie Mauresmo em Novembro, após a final da Taça Davis – prova para a qual ela tinha sido convidada a capitanear a selecção francesa a partir deste ano – foi suficiente para a ex-número um abdicar do convite e dedicar-se a 100% a Pouille. “Ele veio de um ano de pesadelo e de falta de motivação. Fez enormes esforços desde que regressou. E ainda pode ir mais longe”, disse Mauresmo, antes de revelar: “Não há receita milagre. Há muito trabalho, dentro e fora do court. Podemos fazer o que quisermos, mas se o jogador não tem vontade de colocar intensidade e fazer o trabalho necessário é difícil. Não esquecer que foi ele a querer recomeçar e por isso que me levou nesta sua aventura.”

Loic Courteau, experiente treinador que acompanhou Mauresmo na conquista de dois títulos do Grand Slam, juntou-se à equipa e tem igualmente a tarefa de dizer umas parvoíces nos treinos para descontrair o jogador durante os treinos. O início de época em Sydney não foi o melhor, mas foi a ansiedade em mostrar resultados rapidamente que o impediu de ganhar mais de cinco jogos no encontro de estreia. Em Melbourne, tudo tem sido diferente.

“O que mudei é a forma de abordar o torneio. Não coloquei nenhuma pressão como nos anos anteriores quando dizia a mim mesmo ‘quero jogar bem, quero jogar bem’. Antes, consegui dizer a mim mesmo que tinha que colocar em prática o que estava trabalhando no treino, para ver então onde isso me levava e funcionou bem”, afirmou Pouille.

“Agora o objectivo é estar na final, com certeza. Mas antes do torneio não planeei nada. Consegui afastar toda a pressão e concentrar-me apenas no momento presente”, frisou Pouille, que irá defrontar Novak Djokovic. “Nunca jogámos, apenas muitas vezes nos treinos. Ele é o favorito, tem toda a experiência, talvez um dos maiores de todos os tempos, por isso vai ser emocionante jogar contra ele”, analisou.

Djokovic esteve somente 52 minutos em campo, já que o japonês Kei Nishikori (9.º), abandonou quando o sérvio liderava por 6-1, 4-1.

Bem mais surpreendente foi a eliminação de Serena Williams (16.ª) depois de ter liderado por 5-1 no set decisivo, onde dispôs de quatro match-points no duelo com Karolina Pliskova (8.ª). A norte-americana, que procura o 24.º título do Grand Slam, recuperou de um set e um break de desvantagem para dominar a adversária no terceiro set, mas foi incapaz de fechar e Pliskova acabou por impor-se, por 6-4, 4-6 e 7-5.

Nas meias-finais, esta madrugada, a checa defrontava Naomi Osaka (4.ª), campeã do Open dos EUA e vencedora de Elina Svitolina (6.ª), campeã das WTA Finals, por 6-4, 6-1.