Oficial sobre Tancos: “com a prata da casa” tentou-se mitigar problemas

Houve o bom senso de não retirar todas as 24 horas uma cassete de um sistema de videovigilância que não funcionava.

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O coronel João Manuel Pires foi ouvido nesta terça-feira na comissão de inquérito a Tancos LUSA/TIAGO PETINGA

Foi com “a prata da casa”, os meios próprios de um Regimento de Engenharia, que o coronel João Manuel Pires e os seus homens tentaram mitigar os problemas da segurança dos paióis de Tancos. Foi na noite desta terça-feira, na quinta audição da Comissão Parlamentar de Inquérito, que quem teve a obrigação de, entre Janeiro de 2015 e Junho de 2016, disponibilizar oito homens – um sargento, um cabo e seis soldados – para as rondas fez um exercício de obediência militar, não desconhecendo que as leis da engenharia são outras.

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Foi com “a prata da casa”, os meios próprios de um Regimento de Engenharia, que o coronel João Manuel Pires e os seus homens tentaram mitigar os problemas da segurança dos paióis de Tancos. Foi na noite desta terça-feira, na quinta audição da Comissão Parlamentar de Inquérito, que quem teve a obrigação de, entre Janeiro de 2015 e Junho de 2016, disponibilizar oito homens – um sargento, um cabo e seis soldados – para as rondas fez um exercício de obediência militar, não desconhecendo que as leis da engenharia são outras.

“Quando o nosso general decide, temos de vestir a camisola, senão pomos em causa a estrutura hierárquica, foi uma acção de comando”, destacou o coronel Manuel Pires referindo-se à exoneração pelo antigo chefe de Estado-Maior do Exército, Rovisco Duarte, dos comandantes das unidades que faziam a segurança aos paióis, após o assalto de 2017. “Tentámos mitigar os problemas que íamos encontrando para que a missão [de segurança] fosse cumprida”, admitiu. Do mesmo modo, não questionou a diminuição do número de efectivos nas rondas, de 44 para oito: “alguém avaliou o risco e a nós só nos competia cumprir”.

Saber se o Regimento de Engenharia era a unidade própria para se dedicar à segurança de um paiol, juntando mais um item à excelência da sua actividade e formação, não teve resposta cabal do militar. O engenheiro não falou, mas nas cinco referências do oficial aos “recursos escassos”, há ponderação matemática. As anomalias de Tancos, por serem verdade e já muito repetidas, entram num dicionário de despropósitos militares e ao arrepio de qualquer lógica científica. Da deterioração das redes externas à desmatação do terreno, de que se ocupou a Engenharia cada vez que lhe foi solicitado. Dos pequenos arranjos na rede exterior aos melhoramentos das condições de habitabilidade da unidade. De rondas com efectivos irrisórios.

Era assim que se mitigava e se ia informando a hierarquia, embora existisse uma realidade burocrática que é um hino ao nonsense. Mantinha-se em vigor a recomendação, norma, de, findo cada turno, recuperar a cassete vídeo de um sistema de videovigilância que não funcionava, ou seja, não gravava, há mais de uma década. Alguém teve o bom senso de evitar este extremo.