“Desplastificar” é a palavra de ordem
Sentados à mesa, ingerimos microplásticos através da água engarrafada e da torneira que bebemos, dos bivalves, moluscos e peixes que comemos ou do sal com que temperamos a comida.
Apesar de a palavra “desplastificar” não existir, o seu significado é perceptível: retirar, eliminar ou abandonar o plástico. Esta associação é clara porque, em 2018, o plástico foi diabolizado e a luta contra o seu uso atingiu o auge. O ano passado trouxe-nos muitas certezas: os rios, os mares e os oceanos estão cheios de plástico e as aves marinhas, os bivalves, os moluscos e os peixes ingerem microplásticos. Sentados à mesa, nós ingerimos microplásticos através da água engarrafada e da torneira que bebemos, dos bivalves, moluscos e peixes que comemos ou do sal com que temperamos a comida.
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Apesar de a palavra “desplastificar” não existir, o seu significado é perceptível: retirar, eliminar ou abandonar o plástico. Esta associação é clara porque, em 2018, o plástico foi diabolizado e a luta contra o seu uso atingiu o auge. O ano passado trouxe-nos muitas certezas: os rios, os mares e os oceanos estão cheios de plástico e as aves marinhas, os bivalves, os moluscos e os peixes ingerem microplásticos. Sentados à mesa, nós ingerimos microplásticos através da água engarrafada e da torneira que bebemos, dos bivalves, moluscos e peixes que comemos ou do sal com que temperamos a comida.
Com clarividência sobre a escala global do problema — anualmente, depositamos oito milhões de toneladas de plástico nos oceanos —, foram tomadas muitas decisões para “desplastificar”. A Comissão Europeia determinou: a partir de 2021, os países da União Europeia vão banir os pratos, talheres, copos, cotonetes, palhinhas, agitadores para bebidas, bastões para balões, recipientes de alimentos de esferovite e outros plásticos descartáveis. A proibição abrange os produtos que já têm alternativas válidas disponíveis e o restante mercado terá que responder através de alternativas produzidas com materiais ambientalmente sustentáveis.
Os 28 países disputam agora uma corrida pela implementação de medidas. Por cá, o Governo já tomou duas grandes decisões: proibiu garrafas, sacos e louça de plástico na administração pública e vai financiar a criação de um sistema de incentivo que prevê a devolução e o depósito de embalagens de bebidas de plástico, vidro, metais ferrosos e alumínio. Este sistema terá que ser implementado até ao final de 2019 e será obrigatório a partir de 2022. Os super e hipermercados que disponibilizarem estes equipamentos de devolução de embalagens serão obrigados a ter uma área exclusivamente dedicada ao comércio de bebidas em embalagens reutilizáveis ou 100% biodegradáveis. O prémio para compensar as pessoas que devolverem as embalagens ainda está por definir mas não deve tardar a ser anunciado.
Outras entidades públicas estão também a dar exemplos. A Câmara Municipal de Lisboa baniu o uso de plástico nas cantinas das escolas do pré-escolar e 1º ciclo, prometeu proibir os copos de plástico a partir de 2020 e vai autuar, entre 150 a 1500 euros, quem deitar beatas de cigarros, maços de tabaco ou pastilhas elásticas para o chão. No Porto, as pessoas que não separarem o lixo— embalagens, vidro, papel e detritos orgânicos — poderão ser multadas com coimas que podem ir dos 75 aos cinco mil euros.
Nos bares e cantinas da Universidade do Minho, as palhinhas foram eliminadas, os copos de plástico substituídos por copos de vidro e as máquinas de venda de café dos diversos pólos da universidade passaram a usar copos de papel. No Mercado Municipal da Póvoa de Varzim há uma máquina que troca embalagens de plástico, metal e vidro por descontos – os “poveiros” que depositarem embalagens acumulam pontos que dão descontos nas compras no mercado, bilhetes de teatro e cinema ou nas entradas das piscinas municipais. O Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital deixou de vender garrafas de água de plástico nos bares das suas escolas e eliminou os pratos, colheres e copos de plástico. Várias ONG têm multiplicado as acções de limpezas de praias evitando que mais plásticos entrem nos oceanos.
É certo que os sinais de esperança estão por toda a parte, mas estas acções não são suficientes. São apenas o pontapé de saída para uma transformação que terá de tomar outras proporções. O problema do plástico tem princípio, meio e fim e, até agora, a imposição legislativa só está focada no “meio”. Falta dar o salto das pequenas medidas para as soluções sistémicas que envolvam a forma como produzimos, consumimos e descartamos o plástico. Urge investigar, desenvolver e inovar em produtos alternativos ao plástico, novas embalagens e tecnologias de reciclagem. Urge construir infra-estruturas de recolha de plástico, microplásticos e microgrânulos. Falta o compromisso de limpar as áreas onde os plásticos estão concentrados.
Acima de tudo, falta mudar comportamentos. São precisos cada vez mais cidadãos que desafiem a oferta e a procura da indústria do plástico. Que desafiem a desesperança e a apatia do mundo que os rodeia, contribuindo para a tomada de decisões com escala. Não tenho dúvidas de que governos e empresas continuarão a responder a esta pressão. Que em 2019 voltemos a colocar a nossa esperança em acção. Pelo nosso bem-estar e pelo bem-estar dos nossos filhos, netos e bisnetos.