A cidade do cinema de Portimão custou 1,3 milhões e ficou pelos papéis

O antigo vice-presidente do município, Luís Carito, “para já” ainda não fala. Por explicar está ainda o papel que coube a Joaquim de Almeida na promoção do cluster do cinema.

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ENRIC VIVES-RUBIO / PUBLICO

O actor Joaquim de Almeida foi o “embaixador” da promoção da “cidade do cinema” em Portimão, um projecto que custou 1,3 milhões de euros e acabou em nada. Autarcas, empresários e consultores viajaram entre Los Angeles a Cannes, com passagem por Londres, em campanhas de promoção para fazer do Algarve um destino de produção cinematográfica. No fim, o município de Portimão ficou endividado, e os potenciais investidores não apareceram. Quatro dos principais protagonistas dos negócios falhados começaram nesta terça-feira a ser ouvidos no Tribunal de Portimão, respondendo pelos crimes de branqueamento de capitais, burla qualificada e participação económica em negócio.

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O actor Joaquim de Almeida foi o “embaixador” da promoção da “cidade do cinema” em Portimão, um projecto que custou 1,3 milhões de euros e acabou em nada. Autarcas, empresários e consultores viajaram entre Los Angeles a Cannes, com passagem por Londres, em campanhas de promoção para fazer do Algarve um destino de produção cinematográfica. No fim, o município de Portimão ficou endividado, e os potenciais investidores não apareceram. Quatro dos principais protagonistas dos negócios falhados começaram nesta terça-feira a ser ouvidos no Tribunal de Portimão, respondendo pelos crimes de branqueamento de capitais, burla qualificada e participação económica em negócio.

O primeiro arguido, Luís Carito, à altura responsável pelos pelouros das finanças e da economia na autarquia, declarou, no início do julgamento, que, “para já”, usava direito de não se pronunciar sobre as matérias em que vem acusado, nomeadamente o crime de “danificação ou subtracção e anotação técnica”. O ex-autarca, também presidente do conselho de administração das empresas municipais Portimão Turis/Urbis, “engoliu” uma folha A4 para fazer desaparecer, acusa o Ministério Público, o documento que sabia conter informação relevante para o apuramento da responsabilidade criminal.

O segundo arguido, Luís Curado - empresário e consultor - procurou convencer os juízes das razões que o levaram a acreditar num negócio, sem precedentes em Portugal. “Joaquim de Almeida foi a cara do projecto Picture Portugal, em Los Angeles”, disse, lembrando os bons relacionamentos do actor português nos Estados Unidos da América. "Foi ele o embaixador”, disse. Por outro lado, as promessas do então presidente da câmara, Manuel da Luz, também criaram expectativas nos investidores: “Escreveu, em Janeiro de 2019, uma carta à CBS a garantir um investimento [com dinheiros públicos] de 30 milhões em estúdios, mais 100 milhões em produção cinematográfica”. Com o mesmo objectivo, acrescentou, a Região de Turismo do Algarve deslocou em 2008 ao festival de Cannes a réplica da caravela quinhentista Boa Esperança para promover a “cidade do cinema”.

Luís Curado, além de conhecedor na área do cinema, declarou ainda ter sido consultor para a elaboração de candidaturas a fundos comunitários, com experiência de duas dezenas de anos. Nesta altura, no período compreendido entre de 2008-2013, a câmara de Portimão funcionou como uma plataforma giratória de parcerias públicas e privadas, em negócios virtuais que se multiplicaram uns atrás dos outros. Entrou em ruptura financeira, e pediu resgate. O empresário, que disse ter gasto cerca de 1,2 milhões com o projecto Picture Portugal, adiantou que foi ressarcido apenas em 750 mil euros pelas empresas municipais. Em julgamento, descreveu o “filme” dos acontecimentos de forma genérica e disse que chegou a estar pensado fazer no Algarve uma série do James Bond.

Para conferir “glamour” ao mundo dos negócios, chegou a ser apresentada uma  candidatura de 3 mil milhões de euros a fundos comunitários para mudar a face de Portimão: construção de um metro de superfície até ao autódromo do Algarve, mais um conjunto de hotéis de cinco estrelas e uma terminal de cruzeiros.

O antigo presidente da câmara, Manuel da Luz, socialista, está arrolado como testemunha.