Os 26 mais ricos têm tanto dinheiro quanto a metade mais pobre da população mundial
De acordo com a Oxfam, ao longo de 2018, a riqueza dos mais ricos aumentou 12%, mas a dos mais pobres caiu 11%, alargando o fosso entre ricos e pobres.
O fosso entre os mais ricos e os mais pobres aumenta cada vez mais. Em 2018, os 26 mais ricos do mundo tinham em seu poder tantos recursos como os 3,8 mil milhões de pessoas que fazem parte da metade mais pobre da população mundial. As conclusões estão num relatório da Oxfam, Public Good or Private Wealth, que marca o arranque do Fórum Económico Mundial de Davos. E a falta de distribuição justa é só a ponta do icebergue da desigualdade.
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O fosso entre os mais ricos e os mais pobres aumenta cada vez mais. Em 2018, os 26 mais ricos do mundo tinham em seu poder tantos recursos como os 3,8 mil milhões de pessoas que fazem parte da metade mais pobre da população mundial. As conclusões estão num relatório da Oxfam, Public Good or Private Wealth, que marca o arranque do Fórum Económico Mundial de Davos. E a falta de distribuição justa é só a ponta do icebergue da desigualdade.
O número de ricos que acumulam tanta riqueza como a metade mais pobre da população mundial desceu – passou de 43 em 2017 para 26 em 2018, confirmando a tendência de queda verificada em 2016, quando eram 61 –, mas, apesar disso, e conforme sublinha a Oxfam, o fosso entre os mais pobres e os mais ricos está a aumentar. De acordo com aquela associação, a riqueza dos mais ricos aumentou 12%, mas a dos mais pobres caiu 11%.
O relatório fornece mais dados – nomeadamente que entre 2017 e 2018 houve um novo bilionário por dia, ou que 1% da fortuna de 112 mil milhões de dólares de Jeff Bezos, dono da Amazon, que é, actualmente, o homem mais rico do mundo, equivale a perto do total do orçamento para a Saúde da Etiópia, que tem uma população de 105 milhões de pessoas. E ainda que em 2018 a riqueza de 2200 milionários de todo o mundo aumentou 900 mil milhões. Feitas as contas, a fortuna deste grupo restrito aumentou cerca de 2,5 mil milhões de dólares por dia.
“A grande redução do número de pessoas a viver em pobreza extrema é uma das maiores conquistas do último quarto de século, mas o aumento da desigualdade está a pôr em causa o progresso futuro”, disse o director de campanhas da Oxfam, Matthew Spencer, ao Guardian. “A forma como as nossas economias estão organizadas significa que a riqueza está cada vez mais concentrada de forma injusta nas mãos de alguns privilegiados, enquanto vários milhões de pessoas mal conseguem sobreviver. As mulheres estão a morrer por falta de cuidado e as crianças vêem-lhes negada a educação que as podia tirar do caminho da pobreza.”
“Não tem de ser assim. Há riqueza suficiente no mundo para dar a toda a gente uma oportunidade justa na vida. Os governos deviam agir para assegurar que os impostos sobre a riqueza e negócios são usados para financiar serviços públicos grátis e de boa qualidade, que possam salvar e transformar a vida das pessoas.”
Impostos sobre a riqueza?
De acordo com o mesmo estudo, os mais ricos estão a pagar os impostos mais baixos das últimas décadas. O Brasil é um dos países onde se sente mais essa diferença: 10% dos brasileiros mais pobres estão a pagar mais impostos (em proporção aos seus salários) do que os 10% mais ricos.
Outra das conclusões do relatório é que os governos tendem a falhar na redistribuição da riqueza e aumentam ainda mais a desigualdade por falta de investimento em serviços públicos de qualidade. Em todo o mundo, por dia, há 10 mil mortes causadas pela falta de cuidados de saúde e há 262 milhões de crianças que não vão à escola, porque os pais não conseguem cobrir os custos inerentes. Esta situação podia ser revertida, se 1% dos mais ricos pagasse um imposto extra de 0,5% sobre o seu património.
“Em muitos países, uma educação decente e cuidados médicos de qualidade tornaram-se um luxo que apenas os mais ricos podem pagar”, lê-se no comunicado da Oxfam. Por isso, sugere a Oxfam, os governos têm de ajustar os impostos e taxar mais os mais ricos.
Impostos baixos sobre a riqueza tendem a beneficiar mais os homens do que as mulheres, uma vez que são eles que têm controlo sobre 86% das empresas. No que diz respeito às diferenças de género, também são as meninas e as mulheres as primeiras a sentir na pele os efeitos da degradação dos serviços públicos. São elas as primeiras a sair da escola, quando não há dinheiro para estudar, e são as mulheres que acumulam mais horas de trabalho não remunerado a tratar de familiares doentes, quando os sistemas de saúde falham.
Para conseguir mudar este panorama, a Oxfam aponta para a necessidade de uma maior cooperação internacional entre as nações mais ricas e as mais necessitadas. Para além de se tentar acabar com estes problemas nos próprios países, é necessário olhar para fora e procurar arranjar os milhões necessários para ajudar outros países que necessitem.
Para fazer este relatório, a Oxfam usou os dados fornecidos pelo Crédit Suisse, referentes ao período entre Junho de 2017 e Junho de 2018, e da Forbes, que lista os milionários de todo o mundo.