A co-produção portuguesa que olha para a escravatura em África
As Rotas da Escravatura é uma série documental francesa co-produzida pela RTP que olha para o período que vai de 476 e 1888. O segundo episódio vai para o ar esta segunda-feira, às 24h, na RTP1.
As Rotas da Escravatura apresenta-se, sem modéstias, como o primeiro documentário que conta a história da escravatura em todas as suas ramificações. A série documental francesa, que foi exibida no canal Arte em Maio do ano passado, por alturas da comemoração dos 170 anos da abolição da escravatura em França, e cujo segundo episódio vai para o ar esta segunda-feira, às 24h, na RTP1, abrange o tráfico de humanos em África no período compreendido entre 476 e 1888, ano em que o Brasil, o último país ocidental a resistir, também proíbe o comércio de seres humanos. Ao longo desses mais de mil anos, mais de 20 milhões de africanos foram vendidos.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As Rotas da Escravatura apresenta-se, sem modéstias, como o primeiro documentário que conta a história da escravatura em todas as suas ramificações. A série documental francesa, que foi exibida no canal Arte em Maio do ano passado, por alturas da comemoração dos 170 anos da abolição da escravatura em França, e cujo segundo episódio vai para o ar esta segunda-feira, às 24h, na RTP1, abrange o tráfico de humanos em África no período compreendido entre 476 e 1888, ano em que o Brasil, o último país ocidental a resistir, também proíbe o comércio de seres humanos. Ao longo desses mais de mil anos, mais de 20 milhões de africanos foram vendidos.
A RTP, uma das co-produtoras – através da LX Filmes –, começou a transmitir a série na semana passada, numa altura em que se complexifica o debate sobre o papel de Portugal na globalização da escravatura e sobre as repercussões do tráfico de seres humanos até aos dias de hoje, que se fazem sentir na forma como o mundo está organizado, na distribuição das desigualdades sociais ou nos 40 milhões de escravos que as Nações Unidas estimam que existam na actualidade.
Nos materiais de promoção desta série de quatro episódios, os autores explicitam o objectivo deste trabalho, que demorou mais de cinco anos a fazer, com a colaboração de 40 especialistas: "Lembrar que a escravatura não é um fenómeno histórico marginal, mas uma questão central da história do mundo é uma forma de nos protegermos dos crimes do passado. E uma forma de progredir no combate contra as desigualdades e discriminações de todo o género." A ideia é também recentrar a conversa a partir de uma perspectiva mais global e menos centrada na Europa.
Os três autores, Daniel Cattier, Juan Gélas e Fanny Glissant, têm ligações ao tema em causa. Daniel Cattier, filho de pai belga e mãe zimbabueana, tem colocado África e a exploração das questões de identidade no centro da sua filmografia, em que se inclui o documentário animado Kongo: Grand Illusions. Juan Gélas tem no currículo Noirs de France, série documental sobre a História da população negra de França. Já Fanny Glissant, descendente da relação entre uma escrava e o seu proprietário, tem aqui a sua estreia na realização. Há também segmentos animados, uma bem-vinda companhia para os depoimentos recolhidos e para as imagens de arquivo, a cargo de Olivier Patté.
"Esta é a história de um mundo onde o comércio de escravos desenhou os seus territórios e as suas próprias fronteiras. Um mundo em que a violência, a opressão e o lucro impuseram as suas rotas", arranca o primeiro episódio. Ainda disponível no RTP Play, 476-1375: Para Além do Deserto olha para várias histórias de escravização, dos núbios aos somalis, dos bacongos aos mandingas, passando pelos akans e pelo sistema de castas no Mali, para explicar como se desumaniza um grupo de pessoas através da cor da pele e da diferença de religião, para o poder oprimir e escravizar. Sem nunca esquecer que a escravatura não começou ali, nem tão pouco foi algo que aconteceu apenas em África: é algo tão velho quanto o próprio ser humano, com presença em todas as sociedades. Catherine Coquery-Vidrovitch, historiadora, professora emérita da Universidade de Paris VIII e consultora histórica da série (escreveu aliás um livro para a acompanhar), sublinha que o facto de os escravos serem "sobretudo negros" é algo "relativamente recente na História".
No segundo episódio, 1375-1620: Por Todo o Ouro do Mundo, o foco são os portugueses. São entrevistados, entre outros, investigadores e historiadores como António de Almeida Mendes, da Universidade de Nantes, Isabel Castro Henriques, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Filipa Ribeiro da Silva, do Instituto Internacional da História Social, em Amesterdão, bem como Izequiel Batista de Sousa, da Universidade de Reunião, que vem de São Tomé, uma ilha muito importante nesta parte da história. Ao longo das próximas duas semanas, analisar-se-ão as plantações de açúcar e algodão, os Estados Unidos e os tempos em mudança que trouxeram com eles a abolição.
Quem preferir ver Les Routes de L'Esclavage nas versões originais, sem narração em português, poderá também adquirir os DVD, que já foram lançados em França, ou aceder através da plataforma Vimeo, onde estão disponíveis todos os episódios, sem legendas.