Implantes inteligentes para cartilagem no joelho ganham 5,5 milhões de euros
Consórcio europeu liderado pelo Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (no Porto) ganhou financiamento da Comissão Europeia para desenvolver implantes inteligentes para diminuir o aparecimento da osteoartrite.
O grande objectivo do projecto liderado por Meriem Lamghari é criar implantes inteligentes para reparar defeitos na cartilagem do joelho. A equipa da cientista do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), no Porto, espera assim diminuir ou retardar o aparecimento da osteoartrite. Como tal, vai ter 5,5 milhões de euros do programa Horizonte 2020 da Comissão Europeia, anunciou esta segunda-feira o i3S. Para Portugal, vêm cerca de um milhão de euros deste projecto que conta com a participação de mais sete instituições académicas europeias e duas empresas da Finlândia.
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O grande objectivo do projecto liderado por Meriem Lamghari é criar implantes inteligentes para reparar defeitos na cartilagem do joelho. A equipa da cientista do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), no Porto, espera assim diminuir ou retardar o aparecimento da osteoartrite. Como tal, vai ter 5,5 milhões de euros do programa Horizonte 2020 da Comissão Europeia, anunciou esta segunda-feira o i3S. Para Portugal, vêm cerca de um milhão de euros deste projecto que conta com a participação de mais sete instituições académicas europeias e duas empresas da Finlândia.
Tudo começou com um concurso da Comissão Europeia que procurava projectos científicos que desenvolvessem soluções para doenças osteoarticulares. “A mudança demográfica na União Europeia requer inovação para melhorar o envelhecimento activo, através do qual um crescente mercado para a regeneração de tecido osteoarticular está a ser criado”, lê-se no site do concurso.
Entre dezenas de consórcios europeus, acabou por ser escolhido o grupo liderado por Meriem Lamghari, de 49 anos. Com a duração de 44 meses, o projecto denominado Restore conta ainda com a participação da Universidade de Ulm (Alemanha), da Universidade de Reiquiavique (Islândia), da Fundação Cidetec (Espanha), da Universidade de Oulu (Finlândia), da Universidade de Gotemburgo (Suécia), do centro de investigação Sintef (Noruega) e da Universidade de Piemonte Oriental (Itália). As empresas finlandesas Askel Healthcare e 3DTech Oy também irão participar.
“Este financiamento vai permitir avançar na investigação na área de nanomedicina para regeneração de tecidos, em particular em cartilagem articular”, salienta Meriem Lamghari, marroquina, naturalizada portuguesa e já está há 18 anos no Instituto de Engenharia Biomédica (que actualmente faz parte do i3S). Mais concretamente, este consórcio vai criar matrizes (implantes) em três dimensões (3D) que terão nanomateriais inteligentes incorporados para reparar defeitos na cartilagem do joelho.
Libertação de fármacos
Num comunicado do i3S sobre o projecto, Meriem Lamghari indica que serão criadas duas matrizes. E explica: “Uma [matriz] é baseada num polímero que já foi testado na clínica veterinária, nomeadamente em animais de grande porte, para grandes defeitos de cartilagem do joelho; e a outra é gerada com a tecnologia de bio-impressão, composta por células de cartilagem humanas e à qual também iremos incorporar as nanopartículas inteligentes.” A segunda matriz será mais adequada para pequenos defeitos.
Estas matrizes serão concebidas para serem implantadas à medida de cada doente, preencherem o espaço onde se encontra o defeito e responder assim às forças mecânicas da articulação do joelho, refere-se no comunicado. “Além disso, têm nanopartículas inteligentes com propriedades regeneradoras, anti-inflamatórias e antimicrobianas”, informa a investigadora, acrescentando que as nanopartículas com propriedades regeneradoras podem ser activadas remotamente sem métodos invasivos. Como será possível? O consórcio irá desenvolver uma joelheira equipada com sensores capazes de activar as nanopartículas que estão na matriz implantada.
Quanto à equipa do i3S – que, além de Meriem Lamghari, conta com mais quatro investigadores –, irá produzir e testar a segurança e eficácia das nanopartículas que libertam fármacos e, ainda, incorporá-las nas matrizes e testar a sua funcionalidade.
No final, espera-se então que estes implantes inteligentes diminuam ou retardem o surgimento da osteoartrite, uma doença articular degenerativa que começa com o desgaste na cartilagem articular e se manifesta pela presença de dor – que pode ser incapacitante – e pela rigidez e perda de mobilidade da articulação. Sem números oficiais recentes sobre a incidência da osteoartrite em Portugal, a investigadora refere que esta doença afecta 242 milhões de pessoas em todo o mundo.