Não sabemos quem é Banksy, mas há uma exposição no Porto para o conhecer melhor
De Banksy, Barry Cawston só conhece a obra. Ou assim diz o fotógrafo inglês que apresenta retratos de Dismaland e outras peças do artista urbano na Alfândega do Porto, até 31 de Março. A exposição Banksy’s, Dismaland and Others segue depois para Lisboa.
Temos de “clarificar isto”: Barry Cawston não é o fotógrafo oficial de Banksy. Ou assim ele diz. Tanto quanto sabe, nem tão pouco o chegou a conhecer. Ou será que sim? “Acho que estou a chegar perto. Ele não tem muitos parceiros oficiais, certamente”, ri-se o fotógrafo inglês que viu algumas das imagens que tirou, agora em exposição na Alfândega do Porto, irem parar ao site oficial do artista urbano.
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Temos de “clarificar isto”: Barry Cawston não é o fotógrafo oficial de Banksy. Ou assim ele diz. Tanto quanto sabe, nem tão pouco o chegou a conhecer. Ou será que sim? “Acho que estou a chegar perto. Ele não tem muitos parceiros oficiais, certamente”, ri-se o fotógrafo inglês que viu algumas das imagens que tirou, agora em exposição na Alfândega do Porto, irem parar ao site oficial do artista urbano.
“A verdade é que quanto mais me aproximo, mais suspeito tudo parece.” Esta é a versão que nos conta, pouco tempo antes de uma visita guiada pela exposição que, depois da Alemanha, chega ao Porto: Cawston sempre quis fotografar Western-super-Mare, a cidade “muito peculiar, vitoriana”, junto ao Canal de Bristol, que Banksy e mais 50 artistas seus convidados assombraram durante cerca de cinco semanas do Verão de 2015, o tempo em que funcionou Dismaland – um “parque de estupefacções” sombrio, anti-Disneylândia, discretamente instalado num complexo recreativo ao abandono. E, para Barry Cawston, o bilhete de visita há muito aguardado para as praias de Western. Acabou por voltar ao antiparque 15 vezes. No final, os actores contratados para lá trabalharem já lhe diziam: “Olá, Barry!” “Não posso dizer exactamente como entrei tantas vezes, mas digamos que passei à frente nas filas."
O projecto pessoal acabou por resultar num livro que sobrepõe fotografias de rua do quotidiano de uma cidade à beira mar com a distopia imaginada por alguém que “antecipou o futuro”. E nem sempre as “fronteiras entre arte e realidade” estão traçadas. “Saía dos portões do parque e percorria as ruas de Western, a tirar fotografias às pessoas nos bancos, nas lojas de fish and chips, e eu próprio não sabia a diferença entre o que era real e o que não era”. Chamou ao livro Are We There Yet? (2016), uma pergunta retórica a um “país dividido” por um referendo que ainda não tem solução à vista.
No Porto, não se instalou a Dismaland, mas uma exposição que nos quer guiar por uma visita ao parque. Na Banksy’s, Dismaland and Others – patente a partir deste sábado, e até 31 de Março, no Porto, e depois em Lisboa, com bilhetes a 11 euros – estão ainda expostos outros trabalhos do fotógrafo, que também já esteve hospedado no Walled Off Hotel, o hotel que Banksy abriu com vista para o muro da Cisjordânia, em Belém. Foi aí que o fotógrafo que joga às escondidas com um dos nomes mais conhecidos da arte urbana decidiu, também ele, pegar na lata de spray. Com a ajuda de artistas palestinianos gravou What Is Brin? (o contrário de Brexit) numa parede junto a uma das torres de observação.
Também já fotografou sinais de Banksy por Nova Iorque e lembra-se “muito claramente” da primeira vez que encontrou uma obra do artista, na zona Este de Londres. O John Travolta com as bananas, o helicóptero e os mísseis. “Estou intrigado com o trabalho dele desde aí. Não faço a mínima ideia do que ele vai fazer a seguir. Às vezes está silencioso e de repente estamos a ver uma das peças de arte dele a destruir-se, na televisão.” Depois, salta do circuito da arte e dos milhões de euros para “a obra de um menino a brincar que é linda, discreta, voltada para a classe trabalhadora, mas com uma mensagem igualmente forte”.
É esta a marca de “um artista verdadeiramente global” que “podemos nunca vir a descobrir quem é”. “Mas isso é parte do divertimento dele, não é? Um mestre do disfarce e da insinuação, faz tudo parte do conjunto. E cada peça de arte que ele faz é chocante, por isso é uma coisa à Zorro, um Robin Hood. Ele fez isto muito bem, ou eles fizeram isto muito bem, de forma a construir um mito."
A melhor parte, e o segredo também poderá estar aí, é "que funciona igualmente ao contrário: as pessoas também não querem realmente saber quem ele é. Eles querem que o mito continue”.