As décadas de encontros e desencontros de Rio e Menezes

Fogo de artifício, futebol, contas e listas partidárias. Quase tudo serviu para afastar Rui Rio de Luís Filipe Menezes. O abraço de ambos, a sugerir o retomar de uma amizade interrompida, é a imagem icónica do último conselho nacional do PSD.

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O abraço entre Rio e Menezes Nelson Garrido

A escolha de Menezes para candidato do PSD à Câmara do Porto em 2013 foi algo que magoou profundamente Rui Rio. As suas divergências com o passismo também têm raízes nesse facto. Desde logo, Rui Rio via em Menezes um autarca que era o seu oposto, que personificava em Gaia uma política - fazer a obra e a festa primeiro, e só depois pensar nas contas – que era a antítese dos valores de austeridade e rigor que sempre defendera no Porto. E sentiu-se desautorizado e desconsiderado. "É lamentável que o meu partido tenha pedido aos portuenses durante 12 anos para votarem em mim, e agora já está a pedir para votar num candidato diametralmente oposto", resumiu então.

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A escolha de Menezes para candidato do PSD à Câmara do Porto em 2013 foi algo que magoou profundamente Rui Rio. As suas divergências com o passismo também têm raízes nesse facto. Desde logo, Rui Rio via em Menezes um autarca que era o seu oposto, que personificava em Gaia uma política - fazer a obra e a festa primeiro, e só depois pensar nas contas – que era a antítese dos valores de austeridade e rigor que sempre defendera no Porto. E sentiu-se desautorizado e desconsiderado. "É lamentável que o meu partido tenha pedido aos portuenses durante 12 anos para votarem em mim, e agora já está a pedir para votar num candidato diametralmente oposto", resumiu então.

"Não posso aceitar que o meu partido peça sacrifícios aos portugueses porque o anterior Governo endividou o país e que depois escolha para me suceder uma pessoa que, em termos relativos, ainda fez pior a Gaia do que o PS fez ao país", disse em Julho de 2013, numa entrevista à RTP em que não excluiu a possibilidade de vir a disputar a liderança do PSD, ressalvando, contudo, que, se dependesse só de si, nem voltaria à política activa.

Sempre a medir cada palavra, sempre a pesar cada afirmação, Rio lá desabafou que Menezes, do outro lado do Douro, lhe fizera "mais oposição do que o próprio PS". Disse que tinha a "obrigação ética" de não esquecer esse facto, até para credibilização da vida política. "Se o apoiasse, era hipócrita. Se me calasse, era oportunista. Dizendo o que deve ser dito, demarcando-me das suas promessas, que conduziram Gaia a um endividamento brutal, estou a defender a coerência e a frontalidade".

Do FC Porto ao S. João

Dinheiros à parte, a verdade é que as duas margens funcionavam de forma diferente em vários aspectos. Um exemplo: enquanto Rio praticava o distanciamento entre política e futebol, Menezes defendia o inverso. Quando o Futebol Clube do Porto se sagrava campeão, era na margem sul do Douro que as celebrações tinham lugar.

Até na noite de São João as divergências se tornavam evidentes, com Gaia a protestar, habitualmente, contra a falta de profissionalismo do fogo-de-artifício da cidade vizinha lançado da ponte e não de barcaças no rio. Em 2004, o responsável gaiense Guilherme Aguiar criticava "a teimosia da Câmara do Porto de tentar até à última hora disparar o seu fogo de artifício do cimo da Ponte Luís I”: “Não só provocou as avarias como também criou uma situação escusada de perigo”.

Rui Rio nunca disse com todas as letras que apoiava o independente Rui Moreira, mas é evidente que, no final do mandato, lhe deu palco e fez por o colocar na imagem a seu lado – do convite para discursar na Assembleia Municipal do Porto contra a privatização dos aeroportos à visita a um festival de francesinhas… Em termos de declarações, o actual líder do PSD teve o cuidado de não ir além do que disse nessa entrevista à RTP, sempre a medir as palavras e a pesar cada frase. Observou que Moreira era apoiado por “um movimento de topo da sociedade portuense” e que a candidatura do independente – de quem se distanciou entretanto, tendo-o já combatido nas autárquicas de 2017 –, não teria surgido por acaso. O mais longe que foi, e nem foi pouco, na declaração de apoio a Moreira contra Menezes foi isto: “Olhem para as opções e perceberão qual se aproxima mais de mim".

Para se ter bem noção do twist dramático que representa o abraço de Luís Filipe Menezes a Rui Rio no conselho nacional do PSD desta quinta-feira, é preciso recordar a forma como o então candidato reagiu à entrevista de quem se sentava na cadeira que pretendia ocupar: "Eu, na política, nunca me movimentei pelo ódio pessoal. O ódio cega-nos, torna-nos insensatos, faz-nos mentir, torna-nos por vezes até ridículos. Eu, em relação ao senhor presidente da Câmara do Porto e em relação a qualquer outro político português, não tenho ódio, tenho respeito."

As eleições de 2013 são apenas um dos muitos episódios que marcaram a relação entre os dois sociais-democratas que estiveram várias vezes em lados opostos nas guerras internas. Noutras autárquicas, as de 2001, Luís Filipe Menezes não gostou que Durão Barroso tivesse escolhido, à revelia do líder da distrital do Porto do PSD – à sua revelia, portanto –, o candidato à segunda autarquia do país. Durão apostou em Rio, que até então era deputado, e Menezes zangou-se. Levou a decisão do líder a votos na estrutura local e votou vencido (por dois votos). Nunca participou na campanha. Começou aí a relação difícil entre as duas margens do Douro (a relação difícil entre os autarcas tinha começado muito antes).

Mas nem sempre foi assim. No início dos anos 80, era na companhia de Luís Filipe Menezes e de José Pedro Aguiar-Branco que Rio se movimentava nas lides sociais-democratas (consta que foi Menezes que iniciou Rio na JSD). Unia-os a admiração por Francisco Pinto Balsemão e o sentido crítico em relação a Brochado Fernandes, então líder do PSD-Porto.

Inseparáveis

Durante uma década, foram amigos inseparáveis. Mais tarde, passaram-se juntos para as fileiras do cavaquismo. Menezes chegou a ser secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e Rui Rio deputado. Antes das legislativas de 1991, desenharam a dois uma lista de consenso para a distrital do Porto que atribuiria a Menezes a presidência, a Rio a vice-presidência e a Aguiar-Branco a liderança a mesa da assembleia distrital. Era uma demonstração de vigor político do trio de amigos. Acabou mal. Luís Filipe Menezes mudou de ideias e as listas que apresentou, por alguma razão, não eram as que estavam combinadas.

Rio e Menezes viriam a ter alguns choques ainda na década de noventa, quando Marcelo Rebelo de Sousa presidiu ao PSD e o autarca do Porto foi seu secretário-geral. Um deles esteve relacionado com a guerra sem tréguas que Rui Rio moveu aos militantes e dirigentes do partido – Menezes incluído - a propósito do processo de refiliação e da transparência e controlo dos gastos (nomeadamente nas campanhas).

Tantos anos depois, os arqui-inimigos enterraram as armas. À saída do conselho nacional em que apoiou Rio, Menezes disse: “Não é hora para ódios e vinganças. Eu escolho o que é melhor para os meus filhos, para os meus netos e para o meu país. É hora de cerrar fileiras em torno de Rui Rio”.