Num livro cheio de Críticas Felinas, o Gato Mariano arranha, mas faz rir
Tiago da Bernarda, o crítico musical que também é cartunista, e vice-versa, juntou quatro anos de Críticas Felinas num livro de banda desenhada com muita música (portuguesa independente) dentro. E muita crítica à própria crítica pelo meio.
É difícil de dizer quantos dos miados do Gato Mariano poderíamos ouvir da boca de Tiago da Bernarda. Sabe-se, isso sim, que não haveria Gato sem Tiago, o cartunista que desenha críticas musicais ou o crítico que ao ouvir um álbum já pensa “em quadradinhos”.
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É difícil de dizer quantos dos miados do Gato Mariano poderíamos ouvir da boca de Tiago da Bernarda. Sabe-se, isso sim, que não haveria Gato sem Tiago, o cartunista que desenha críticas musicais ou o crítico que ao ouvir um álbum já pensa “em quadradinhos”.
Em 2014, o então aspirante a jornalista de Cultura confessava ao P3 — e queixava-se também: “disseram-me que isto sairia no Ípsilon” — não levar “este trabalho particularmente a sério”. Cinco anos depois, continua sem "grandes planos" — e sem sair no Ípsilon —, mas a Chili Com Carne, conhecida editora de banda desenhada, prepara-se para lançar uma antologia com 144 páginas de Críticas Felinas que o autor escreveu (e ilustrou) entre 2014 e 2018. Estará o Gato a pôr-se sério?
"Eu continuo a não pensar a longo prazo", ri-se. "Acho que o mais importante é o percurso que estou a fazer." O livro que vai apresentar no sábado, 19 de Janeiro, em Lisboa, é, até agora, o "progresso" mais palpável de um projecto que arrancou de "forma muito ingénua", no Tumblr. Tiago da Bernarda, 29 anos, achava que os rabiscos que lhe ocupavam o tempo livre e as linhas do caderno onde deviam estar palavras "não eram sequer aceites como banda desenhada".
Mas o cartunista ia-se alimentando da personagem: um "felino antropomórfico", sagaz, hipster, sarcástico e feito para a Internet, que dá uma oportunidade à música portuguesa independente, aqui avaliada para além de um sistema de cinco estrelas. "Mais do que dizer o óbvio, prefiro ilustrar interpretações e desenvolver uma personagem que cresce com cada crítica", apresentava-se, no início do projecto.
"O livro obrigou-me a ver o meu progresso em retrospectiva, algo que não pensei fazer tão cedo. Foi interessante ler de uma ponta à outra. Notam-se as fases todas por onde passei: algumas mais directas, outras mais abstractas, algumas com cor, outras a preto e branco." Nem só o traço mudou ao longo de mais de 200 fábulas publicadas em webzines no site Rimas e Batidas, no Facebook, no Instagram e, quando chega a altura dos balanços do ano, em algumas edições de autor. "A forma como abordo a crítica musical também evoluiu", nota. "Diria que a crítica musical já perdeu a força que anteriormente lhe dávamos. Sinto que há uma saturação e que o pódio onde se punha o papel do crítico já se desmoronou." Prova disso, acredita, é o sucesso de um gato-crítico na Internet que é, como por lá se diz, tão relatable.
Nas tiras mais recentes, tem vindo a "afastar-se dos álbuns" — pausa para dizer que o melhor de 2018 " é o [caixa] dos Colónia Calúnia" — e a aproximar-se da sátira à própria crítica musical e à realidade da indústria da música independente em Portugal. Em cinco anos, continua Tiago (e concorda o Gato), desenvolveu-se mais o "modelo em que as bandas já não estão dependentes ou limitadas pelas editoras discográficas": "Conseguimos ter cada vez mais projectos que fazem a própria comunicação, a própria edição e acho que nesse sentido a música portuguesa independente está a evoluir de forma positiva."
Cabe a quem a ouve "divulgar as coisas novas interessantes que surgem todos os anos" e "não os mesmos cinco projectos". O Gato Mariano dá três ajudas para iniciantes: "Fuse é o melhor rapper", "se andam a tentar capitalizar o vosso indie cred, é bom que cobrem caro" e, um último aviso, o "Mexefest é me..." miau!