Seis testemunhas acusam ex-capitão das forças especiais da polícia de ter morto Marielle
Antigo capitão do BOPE é hoje mercenário que trabalha para organizações criminosas. Para além dos testemunhos, o cruzamento com casos antigos, fazem deste o principal suspeito do assassínio da vereadora do Rio de Janeiro.
Pelo menos seis testemunhas ouvidas no processo ao assassínio da vereadora brasileira Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, apontaram para o nome de um antigo capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais, conhecido como BOPE, acusando-o do crime.
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Pelo menos seis testemunhas ouvidas no processo ao assassínio da vereadora brasileira Marielle Franco e do seu motorista, Anderson Gomes, apontaram para o nome de um antigo capitão do Batalhão de Operações Policiais Especiais, conhecido como BOPE, acusando-o do crime.
A notícia é avançada pela versão brasileira do site de investigação The Intercept, que teve acesso ao processo, explicando que não divulgou o nome do agora principal suspeito da morte de Marielle por risco de perturbação da investigação policial em curso.
As suspeitas de envolvimento de antigos membros do BOPE tinham sido anteriormente avançadas pela comunicação social brasileira, mas agora as autoridades têm como principal suspeito este antigo capitão.
Este suspeito foi expulso das forças especiais da polícia por envolvimento com grupos da máfia do jogo, sendo que passou a trabalhar como mercenário para o crime organizado. É conhecido que vários membros ou antigos membros do BOPE e da polícia acabaram por enveredar em trabalhos de mercenários pagos por pessoas ligadas ao crime.
Por isso, não foram só os depoimentos das testemunhas que permitiram às autoridades identificar o suspeito. A investigação cruzou processos de outras execuções por parte de grupos do qual faz parte o antigo “caveira”.
Segundo o Intercept, as autoridades descartaram já o envolvimento dos chamados “bicheiros” (termo pelo qual são conhecidos os líderes das organizações de apostas ilegais) como mandantes do crime, e as suspeitas recaem nas milícias – grupos formados sob o pretexto de protecção das comunidades contra o narcotráfico, mas que são organizações criminosas paralelas que praticam o controlo armado das zonas onde estão presentes, intimidando e extorquindo as populações locais.
O modo como se processo a execução de dois ex-sargentos da Polícia Militar, Geraldo António Pereira e Marcos Vieira de Souza, que na altura era candidato a vereador, em Maio e Setembro, respectivamente, é semelhante ao caso de Marielle. Pelo que as autoridades suspeitam que estes grupos, ou até o suspeito identificado como autor dos disparos que mataram a vereadora, tenham estado também envolvidos nestes dois crimes.
Além disso, as autoridades deslocaram-se à região do Itanhangá, onde o ex-BOPE lidera um grupo de mercenários. Aí descobriram, através de gravações de câmaras de vigilância, que o carro utilizado pelos assassinos foi abastecido numa bomba de gasolina nessa zona, na véspera do assassínio, que aconteceu em Março do ano passado.
Apesar de tudo, as autoridades não possuem provas concretas que liguem o ex-capitão ou este grupo à morte de Marielle e do seu motorista, pelo que a estratégia tem passado por rever antigos casos onde esta organização é a principal suspeita de forma a encontrar pontos de ligação.