Traição em Madrid reabre feridas no Podemos
Iñigo Errejón desafiou a direcção do partido ao integrar listas da plataforma da presidente da câmara de Madrid para as eleições municipais. Iglesias assume surpresa e há quem peça afastamento do deputado e co-fundador do Podemos.
A rivalidade entre Pablo Iglesias e Iñigo Errejón conheceu esta semana um novo e incómodo capítulo, que abriu uma crise interna no Podemos. Errejón, dirigente, deputado e membro da equipa fundadora da plataforma política de esquerda, anunciou que vai integrar as listas do movimento Más Madrid, da actual presidente da câmara da capital espanhola Manuela Carmena, nas próximas eleições municipais. A decisão apanhou toda a gente de surpresa, levou Iglesias a esclarecer que Errejón não é o candidato do Podemos a Madrid e motivou críticas violentas de vários dirigentes do partido.
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A rivalidade entre Pablo Iglesias e Iñigo Errejón conheceu esta semana um novo e incómodo capítulo, que abriu uma crise interna no Podemos. Errejón, dirigente, deputado e membro da equipa fundadora da plataforma política de esquerda, anunciou que vai integrar as listas do movimento Más Madrid, da actual presidente da câmara da capital espanhola Manuela Carmena, nas próximas eleições municipais. A decisão apanhou toda a gente de surpresa, levou Iglesias a esclarecer que Errejón não é o candidato do Podemos a Madrid e motivou críticas violentas de vários dirigentes do partido.
“Na política temos de estar preparados para este tipo de manobras, inclusivamente para as que possam vir de colegas, mas reconheço que fiquei tocado e triste”, confessou Iglesias, numa longa mensagem publicada no Facebook, na quinta-feira, e acompanhada pela respectiva versão áudio.
Revelando ter recebido uma chamada de Errejón “poucos minutos” antes de a novidade se ter espalhado pelos media e redes sociais, o líder do Podemos, que foi obrigado a interromper a sua licença de paternidade, não escondeu a indignação: “Não posso aceitar que a Manuela e o Iñigo nos tenham escondido que estavam a lançar um projecto eleitoral próprio para a Comunidade de Madrid e que o tenham anunciado de surpresa. Os nossos militantes merecem mais respeito”.
Manuela Carmena foi eleita presidente da Comunidade de Madrid em 2015, pela plataforma Ahora Madrid, que integrava vários partidos e organizações de esquerda, incluindo o Podemos. Mas o Más Madrid, movimento sucessor, já não integrará o partido de Pablo Iglesias.
"Sorte" com o novo partido
Na mensagem que partilhou no Facebook, Iglesias esclareceu que, no âmbito do “roteiro” definido pelos membros do Podemos, o partido vai apresentar um candidato próprio a Madrid, em aliança com a Esquerda Unida, que se baterá contra Carmena, nas eleições agendadas para o final de Maio. Uma decisão que foi contestada, no entanto, por Errejón, a quem Iglesias deseja “sorte na construção do seu novo partido”.
“Sou o candidato do Podemos e não há qualquer contradição em caminhar de mãos dadas com Carmena. Alguém que me diga onde está a contradição”, desafiou Iñigo Errejón, em declarações à rádio Cadena Ser.
Esta postura do deputado e secretário de Análise Estratégica e Mudança Política do Podemos, que estava na calha para ser o candidato do partido ao lugar de Carmena, lançou a confusão junto da imprensa espanhola e do próprio Podemos. Até porque Errejón esclareceu que continuava a pertencer ao partido e que nada mudara. Mas essa não parece ser a opinião de algumas das suas figuras de topo.
“A terra não passa a ser plana só porque alguém diz que é”, atirou o secretário de Organização do partido, Pablo Echenique, que destaca que o partido “sempre tomou decisões de forma colectiva” e que guarda violentas críticas para Errejón. “Se fosse ele demitia-me. O coerente seria renunciar ao lugar de deputado. Por outro lado, percebo que tenha de viver de alguma coisa até Maio e acredito que isso também tenha pesado na sua decisão”.
Menos tempestiva que Echenique, mas igualmente crítica, a porta-voz ajunta do Podemos interpreta a opção de Errejón como um verdadeiro abandono. “É uma opção política totalmente legítima – e desejo-lhe sorte para essa caminhada – mas não respeita o mandato que os militantes nos deram e coloca-o automaticamente fora do Podemos”, disse Ione Belarra à Onda Cero.
Já Irene Montero, porta-voz no Parlamento, prefere focar-se nos aspectos pouco transparentes da decisão “secreta” de Errejón, associando-os a um comportamento cada vez mais distante seguido pelo deputado. “Não começou a fazer campanha, não aparecia nos espaços do partido em Madrid e não vinha às reuniões executivas. Percebe-se agora que estava a trabalhar num plano secreto”, lamentou Montero, ao canal televisivo La Sexta.
Companheiros e rivais
A rivalidade entre Pablo Iglesias e Iñigo Errejón – que estudaram juntos – já se arrasta, pelo menos, desde 2016, e teve como ponto mais tenso o congresso de 2017, onde os dois apresentaram os seus respectivos modelos políticos para o partido. As propostas de Iglesias foram esmagadoramente apoiadas pelas bases, lançando o partido pela via mais radical, alicerçada nos movimentos sociais.
Errejón sempre defendeu, no entanto, que o Podemos deveria evitar ser um partido meramente de protesto. E por isso acredita que teria mais sucesso se não se colasse tanto à Esquerda Unida e se procurasse entendimentos mais alargado com partidos mais moderados, como o PSOE.
Para além da revolta que criou junta da cúpula do partido, a decisão de Errejón terá consequências práticas imediatas. Segundo o site Público.es, o deputado não irá marcar presença numa reunião, agendada para este sábado, convocada pela direcção do Comité de Campanha, na qual se dará o pontapé de saída nos preparativos para as eleições municipais de Maio. O organismo terá mesmo retirado o convite a Errejón.