Football Leaks: os documentos da polémica
Fugas ao fisco, controlos antidoping positivos e contratos milionários. O PÚBLICO relembra o que dizem alguns dos documentos revelados pela investigação aos bastidores do futebol.
“Aí está, o homem que todos estão a tentar encontrar, polícias e detectives”. Assim começa o texto da revista Der Spiegel que, pela primeira vez, ofereceu um vislumbre sobre o homem por detrás do Football Leaks, responsável pela plataforma online que, durante os últimos meses e de forma sistemática, publicou documentos que revelavam informação sensível sobre os maiores clubes — e entidades — do futebol europeu. Ao que tudo indica, um dos principais cérebros responsáveis pela operação foi detido na Hungria mas os ficheiros continuam vivos no mundo digital.
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“Aí está, o homem que todos estão a tentar encontrar, polícias e detectives”. Assim começa o texto da revista Der Spiegel que, pela primeira vez, ofereceu um vislumbre sobre o homem por detrás do Football Leaks, responsável pela plataforma online que, durante os últimos meses e de forma sistemática, publicou documentos que revelavam informação sensível sobre os maiores clubes — e entidades — do futebol europeu. Ao que tudo indica, um dos principais cérebros responsáveis pela operação foi detido na Hungria mas os ficheiros continuam vivos no mundo digital.
No total foram revelados 70 milhões de documentos, número seis vezes superior ao da investigação dos Panama Papers. O objectivo do mentor do site era simples: colocar a nú os bastidores do futebol. Em conjunto com o consórcio EIC (European Investigative Collaborations), as fugas de informações foram sendo noticiadas por órgãos de comunicação social de vários países.
A situação tributária das figuras do futebol foi um dos assuntos mais explorado pelo Football Leaks, com Cristiano Ronaldo a receber particular destaque. Segundo documentos da plataforma, o jogador português teria desviado 150 milhões para um paraíso fiscal, com o objectivo de fugir ao pagamento de direitos de imagem. Ronaldo foi investigado em Espanha e condenado a pagar 16,7 milhões de euros. Mourinho também reembolsou o fisco espanhol, em dois milhões de euros. Os documentos também originaram investigações em Portugal, com a Autoridade Tributária a analisar de perto as situações de várias pessoas ligadas ao mundo do futebol.
UEFA investigou Manchester City
A UEFA, entidade que gere o futebol europeu, chegou a investigar o Manchester City por suspeitas de que o clube inglês tinha contornado as regras, ao inflaccionar artificialmente as receitas em contratos publicitários para cumprir o fair play financeiro. A hipótese foi deixada no ar pelo artigo da revista alemã Der Spiegel que teve por base a plataforma Football Leaks. Caso tivesse sido provada a irregularidade, o Manchester City seria expulso da Liga dos Campeões, principal competição europeia de clubes. Aleksander Ceferin, presidente da UEFA, revelou que um grupo independente estaria a investigar a questão, depois de o clube ter sido multado em 60 milhões de euros, no ano de 2014, por não ter respeitado os limites financeiros impostos pela entidade desportiva.
O controlo antidoping
Também Sérgio Ramos foi implicado no Football Leaks: de acordo com documentos publicados na plataforma, o capitão do Real Madrid terá cometido duas infracções ao regulamento antidoping, uma das quais na final da Liga dos Campeões. Nas análises efectuadas ao internacional espanhol terá sido detectada dexametasona (medicamento que pertence à classe dos glicocorticóides, um dos mais potentes grupos de fármacos anti-inflamatórios e imunossupressores).
Os documentos revelaram que, em Abril de 2018, o defesa se recusou a fazer um controlo antidoping determinado pela agência espanhola AEPSAD. O Real Madrid desmentiu qualquer falha cometida pelo atleta, com o caso a não ter qualquer seguimento.
A guerra aos fundos de investimentos
Desde a fundação do site que o Football Leaks tem mantido uma guerra aberta com os fundos de investimentos. A Doyen Investment Sports, que financia passes de jogadores e treinadores, é a principal visada pelos documentos que vieram a público nos últimos três anos.
A Fosun, grupo chinês, teria, de acordo com os documentos partilhados, negociado a criação de uma rede de clubes e academias de futebol por toda a Europa, permitindo aos parceiros comprarem percentagens de jogadores, prática proibida. Com a ajuda de agentes de topo como Jorge Mendes, este tipo de lucro que, de outra forma, iria para clubes pequenos ficaria na posse dos investidores.
Para além das questões de legalidade duvidosa, o Football Leaks trouxe a público a grande quantidade de dinheiro que circula pelos contractos — e bolsos — de futebolistas e agentes. A transferência recordista de Neymar tinha, segundo a investigação, uns incentivos curiosos. Por exemplo: pelo gesto de aplaudir os fãs após a partida, o astro brasileiro receberia cerca de 375 mil euros.
Football Leaks, versão portuguesa
Em Portugal, um dos primeiros documentos confidenciais revelados pertencia ao Sporting. O contrato assinado com o treinador dos “leões”, Jorge Jesus, mostrava, segundo o documento, que o técnico receberia uma remuneração anual ilíquida de cinco milhões de euros por época.
No lado dos “dragões”, o Expresso noticiou que Alexandre Pinto da Costa teria recebido comissões irregulares relativas à transferência de jogadores, apoiando-se em documentos obtidos pelo consórcio europeu de jornalistas que investiga o Football Leaks. A empresa teria recebido 168 mil euros relativos à venda de Carlos Eduardo e 60 mil euros (mais IVA) pelo empréstimo de Rolando ao Inter.
No Benfica, a transferência de Bernardo Silva foi um dos negócios questionados pela plataforma. Novamente através da divulgação de documentação, o Football Leaks revelou que as prestações do Mónaco para o jogador foram transferidas para o fundo de investimento XXIII Capital Limited e não para o Benfica. O emblema da Luz confirmou a veracidade dos documentos, mas afirmou tratar-se de uma “operação normal”.