O clube que trouxe futebol "honesto" à região de Liverpool
O City of Liverpool FC nasceu em 2015, fundado por adeptos que se sentiam menosprezados pelos “gigantes” da Premier League. O PÚBLICO chegou à fala com a equipa que tem cativado os adeptos dos escalões amadores.
Paul Manning era um adepto fervoroso do Liverpool. Como tantos outros, ia a Anfield Road puxar pelos “reds”. Os bilhetes eram caros, os horários tardios e Paul sentia que, apesar de todo o esforço, não tinha uma voz activa no clube. Decidiu, em 2015, criar o City of Liverpool FC, um clube comunitário que, nos últimos três anos, tem causado surpresa nos escalões amadores do futebol inglês. A ascensão foi tão repentina que, em apenas três anos, o clube já foi promovido por duas vezes e está a planear a construção de um estádio com capacidade para três mil pessoas.
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Paul Manning era um adepto fervoroso do Liverpool. Como tantos outros, ia a Anfield Road puxar pelos “reds”. Os bilhetes eram caros, os horários tardios e Paul sentia que, apesar de todo o esforço, não tinha uma voz activa no clube. Decidiu, em 2015, criar o City of Liverpool FC, um clube comunitário que, nos últimos três anos, tem causado surpresa nos escalões amadores do futebol inglês. A ascensão foi tão repentina que, em apenas três anos, o clube já foi promovido por duas vezes e está a planear a construção de um estádio com capacidade para três mil pessoas.
“Na cidade de Liverpool, sempre tivemos dois grandes clubes na Premier League e nada mais. Não tínhamos qualquer equipa nos escalões amadores. Consequentemente, as pessoas que não tinham capacidade financeira para ir ver esses clubes não conseguiam ver outro futebol. Por esse motivo, decidimos criar o City of Liverpool FC, um clube virado para a comunidade e 100% detido pelos adeptos”, diz por telefone ao PÚBLICO Paul Manning, um dos fundadores do City of Liverpool. Em vez das 60 libras cobradas pelo Liverpool, o clube de Paul cobra seis, preço mais em conta que permite atrair os adeptos mais desfavorecidos.
A cor roxa do novo clube surgiu da união do azul e vermelho que dão cor ao Everton e ao Liverpool, principais clubes da região. Muitos dos adeptos que frequentavam os estádios da Premier League passaram a acompanhar as equipas pela televisão, passando a ver o City of Liverpool ao domingo de manhã. Uma dessas pessoas é Michael Meadows, que teve conhecimento da criação do clube pela rádio: “Ouvi o presidente Paul Manning a dar uma entrevista, enquanto conduzia. Um amigo meu disse-me que podíamos ir uma vez para ver como era. Desde esse dia, acompanho quase todos os jogos do clube”.
A formação britânica funciona com base no voluntariado da comunidade. Apenas um jogador do plantel recebe salário. Todos os outros — staff e equipa técnica incluída — apenas recebem o valor correspondente às deslocações efectuadas nas partidas e treinos. “Somos uma organização que sem o voluntariado não conseguiria funcionar. Os jogadores apenas recebem as despesas de deslocação”, admite o presidente do clube. Já Michael Meadows garante ao PÚBLICO que a proximidade entre os jogadores e os adeptos é o factor que mais o impressiona no City of Liverpool: “O futebol a este nível é certamente mais honesto. Os jogadores estão a jogar por nós. Sinto-me mais parte deste clube do que alguma vez me senti em Anfield. Conhecemos os jogadores, estamos com eles depois dos jogos, sabemos quanto gostam das nossas canções e que o nosso apoio é valorizado”.
Estádio a caminho
No capítulo desportivo, a — ainda curta — história do City of Liverpool FC também tem sido um sucesso. Na terceira temporada, o clube está a caminho da segunda promoção, liderando a primeira divisão da Hallmark Security League com dois pontos de vantagem sobre o segundo classificado. Curiosamente, o treinador, Craig Robinson, começou a época como jogador mas uma lesão e a saída do antigo técnico catapultaram Craig para o comando do City of Liverpool: “Tenho 36 anos, comecei a época mas lesionei-me. Entretanto, o treinador saiu e ofereceram-me o lugar. Não podia recusar o lugar”. Ao início, o sucesso dos predecessores assustou Craig que, garante, tem um plantel com capacidade para disputar futebol nos escalões profissionais: “Para dizer a verdade, acho que estes jogadores são demasiados bons para este nível. Tenho jogadores muito talentosos”.
O entusiasmo dos adeptos vai ter reflexões materiais: o clube está em negociações com o Conselho Municipal de Liverpool, para a construção de um estádio com três mil lugares. “Temos um acordo de exclusividade por uma fracção de terra. Estamos a analisar e a estabelecer o que terá de ser feito para construir ali um estádio. A nível de capacidade terá três mil lugares, dos quais mil serão sentados. O resto será para os adeptos que queiram ficar de pé, uma tradição inglesa nos escalões inferiores”. Enquanto o sonho não se torna realidade, o clube continuará a jogar em recintos cedidos por outros clubes.
Em jeito de despedida, Paul afirma de forma convicta que os escalões profissionais não são objectivo: "Como clube queremos ter sucesso, mas o City of Liverpool vai ser tão grande quanto os nossos adeptos quiserem. Se as pessoas quiserem que fiquemos por estes escalões, faremos justamente isso".