Há 228 empresas portuguesas dependentes do Reino Unido para mais de metade das exportações
Entre Janeiro e Outubro de 2018 as vendas de bens e serviços subiram 7,6% para 7384 milhões. Governo anunciou linha de apoio de 50 milhões para minorar efeitos do "Brexit".
Há mais de 200 empresas em Portugal que dependem do Reino Unido para colocar um valor superior a 50% das exportações de bens, o que as coloca entre as mais expostas aos efeitos negativos do “Brexit”. De acordo com os dados disponibilizados ao PÚBLICO pelo INE, as 228 empresas em causa representam 8% do total das exportadoras de bens para o mercado britânico, e 13% do valor exportado (equivalente a 415 milhões de euros nos onze primeiros meses de 2018).
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Há mais de 200 empresas em Portugal que dependem do Reino Unido para colocar um valor superior a 50% das exportações de bens, o que as coloca entre as mais expostas aos efeitos negativos do “Brexit”. De acordo com os dados disponibilizados ao PÚBLICO pelo INE, as 228 empresas em causa representam 8% do total das exportadoras de bens para o mercado britânico, e 13% do valor exportado (equivalente a 415 milhões de euros nos onze primeiros meses de 2018).
Ao todo, estão contabilizadas 2781 exportadoras de bens para este mercado, que se apresenta tradicionalmente como um dos maiores clientes de Portugal. A estas empresas de bens juntam-se também as exportadoras de serviços, com o turismo à cabeça.
Em termos globais, o mercado britânico comprou o equivalente a 8074 milhões de euros a Portugal em 2017, com os serviços a representarem 55% do total. Já em 2018, os valores chegaram aos 7384 milhões entre Janeiro e Outubro, o que representa uma subida de 7,6% face a idêntico período de 2017. O saldo, que tem sido positivo para Portugal, chegou aos 4675 milhões em 2017.
É este universo, e dinâmica, que tem preocupado o Governo. Agora, e para que possam enfrentar o aumento de custos e dificuldades que irão enfrentar nas alfândegas quando realizarem transacções comerciais com o Reino Unido, as empresas portuguesas vão poder contar com uma linha de financiamento pública de 50 milhões de euros. Esta é mais recente medida de contingência anunciada pelo executivo a pensar num “Brexit” sem acordo assinado.
O anúncio foi feito ontem pelos ministros da Economia e dos Negócios Estrangeiros à saída de uma reunião do Conselho para a Internacionalização da Economia, que reúne várias associações patronais e AICEP. “Se não houver acordo sobre os termos da saída da União Europeia, o Reino Unido será a partir de 30 Março um Estado terceiro […] e isso significa que as empresas que exportam para o Reino Unido passam a ter controlo alfandegário e aduaneiro, com custos e dificuldades para empresas. Em primeiro lugar, vamos aprovar uma linha de financiamento a empresas de 50 milhões de euros para adaptações internas e diversificação de mercado”, afirmou o ministro da Economia, Siza Vieira.
Plano vai a Conselho de Ministros
O plano de contingência completo – que é necessário para o caso de um “hard Brexit”, ou seja, saída do Reino Unido da União Europeia sem acordo e sem período de transição - deverá ser discutido esta quinta-feira em Conselho de Ministros. Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, explicou no entanto que, no caso da linha de financiamento de 50 milhões de euros, esta será uma medida a aplicar haja ou não acordo, já que em ambos os casos “as empresas terão de se adaptar”. O PÚBLICO pediu dados mais pormenorizados sobre esta linha, mas sem efeito.
Os governantes anunciaram ainda que em caso de saída da UE sem acordo serão ainda reforçados os atendimentos aos turistas do Reino Unido nos aeroportos portugueses - sobretudo nos mais usados, Faro e Funchal -, para que não se criem tantos problemas nas formalidades, nomeadamente no controlo de passaportes.
O ministro da Economia mostrou-se preocupado com o impacto no turismo, tendo adiantado que o Governo vai levar a cabo campanhas institucionais no Reino Unido para evitar a queda que tem origem naquele país. "Ao nível do turismo, onde o Reino Unido é o maior e principal mercado para Portugal, vamos tentar assegurar os fluxos turísticos", afirmou Siza Vieira.
Na sexta-feira, o Executivo já tinha anunciado as medidas do plano de contingência para o “Brexit” no que diz respeito aos direitos dos cidadãos. Nesse caso, o objectivo central do governo foi o de garantir aos residentes britânicos em Portugal e aos turistas que visitam o país que, na eventualidade de uma saída sem acordo a 29 de Março, irão manter todos os direitos entretanto adquiridos, ficando ainda estabelecido que não serão exigidos vistos aos visitantes britânicos. A expectativa é a que exista uma reciprocidade de medidas por parte do Reino Unido, que garantam também a estabilidade dos turistas e residentes portugueses no Reino Unido.
Turismo recupera em Novembro
Com uma quota de 17% do turismo em Portugal, os britânicos são o principal mercado emissor (o Reino Unido surge como também como o principal cliente de Portugal nas exportações de serviços), mas o seu peso tem vindo a descer. Esta terça-feira, o INE deu uma notícia positiva para o sector, ao informar que houve uma subida de 7,6% das dormidas dos turistas do Reino Unido em Novembro, interrompendo um ciclo de quedas que perdurava desde Outubro de 2017.
Mesmo assim, os dados de Novembro não evitam uma queda do turismo britânico, em termos acumulados desde o início do ano, de 6,3% em número de hóspedes (equivalente a 119 mil) e de 8% nas dormidas. Entre as explicações para este recuo está os efeitos do “Brexit” e a desvalorização da libra, a recuperação de mercados concorrentes como a Turquia, Egipto e Tunísia (por via do factor preço, e cujas moedas também desvalorizaram), e perturbações nas ligações aéreas devido a factores como a falência da britânica Air Monarch.
Calcular o impacto negativo
No final de Outubro do ano passado, a CIP apresentou um estudo sobre as consequências do “Brexit” para a economia portuguesa, feito pela Ernst & Young – Augusto Mateus & Associados. De acordo com a análise apresentada, no cenário mais optimista o “Brexit” terá “um efeito negativo de 15% nas exportações portuguesas para o Reino Unido”, valor que pode chegar aos 26% “num cenário mais negativo, em que não exista qualquer acordo”.
Ao nível do PIB, o cálculo aponta para “um impacto negativo entre 0,5% e 1%”, com o “Brexit” a prejudicar também o investimento directo (o Reino Unido é o 4º maior país neste ranking em Portugal) e as remessas de emigrantes (3º maior mercado). No caso do turismo, um dos alertas prende-se comum agravamento da desvalorização da libra face ao euro. E foram também identificados os produtos que mais podem ser prejudicados pelo “Brexit”: produtos informáticos, electrónicos e ópticos; equipamento eléctrico; e os veículos automóveis, reboques e semi-reboques.
No estudo recomenda-se “mitigar os riscos” e “potenciar as oportunidades”. Isso inclui a recomendação de “proactividade na valorização do Reino Unido como parceiro económico” de Portugal e o “desenvolvimento de acções que contribuam para diversificar os mercados de sectores hoje muito expostos” a este mercado ou “explorar a oportunidade de substituir o Reino Unido enquanto fornecedor noutros países da UE26”. Com Lusa