Montenegro não desiste de eleições directas no PSD
Opositores a Rio e a própria direcção contam cabeças no conselho nacional, para tentar ganhar vantagem. Montenegro lamenta que Rio não tenha "coragem" de disputar directas.
Luís Montenegro pediu eleições directas no PSD, Rui Rio respondeu com um conselho nacional, órgão que é uma espécie de parlamento do partido. O ex-líder da bancada quer manter o campo de batalha que escolheu: ouvir os militantes do partido, e não apenas uma parte. Para já serão ouvidos os conselheiros – os que comparecerem nesta quinta-feira às 17h, no Porto – e que estão a ser o alvo das atenções por parte das distritais que querem destituir Rui Rio mas também por parte da actual direcção. Contam-se espingardas mas sobram as incertezas. Do lado dos opositores a Rio acredita-se que a moção de confiança chumba, se o voto for secreto.
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Luís Montenegro pediu eleições directas no PSD, Rui Rio respondeu com um conselho nacional, órgão que é uma espécie de parlamento do partido. O ex-líder da bancada quer manter o campo de batalha que escolheu: ouvir os militantes do partido, e não apenas uma parte. Para já serão ouvidos os conselheiros – os que comparecerem nesta quinta-feira às 17h, no Porto – e que estão a ser o alvo das atenções por parte das distritais que querem destituir Rui Rio mas também por parte da actual direcção. Contam-se espingardas mas sobram as incertezas. Do lado dos opositores a Rio acredita-se que a moção de confiança chumba, se o voto for secreto.
O antigo líder parlamentar apresentou-se na sexta-feira como desafiador da liderança de Rui Rio e manteve-se nesse papel quando, dois dias depois, saiu da audiência com o Presidente da República. “Se o conselho nacional ou outro órgão vier a decidir a realização de eleições directas no PSD, eu sou candidato, obviamente”, disse. Além do conselho nacional, só um congresso poderia marcar eleições directas. Mas essa é uma perspectiva que os críticos da direcção não querem colocar neste momento. O próprio Montenegro quis desvalorizar aquilo que os conselheiros nacionais terão de votar: “o conselho nacional não é a minha praia nesta discussão”.
Acusando Rio de não ter “coragem” para disputar directas, o ex-deputado afastou outros meios de destituir o líder. “Nunca esteve nos meus propósitos nem moções de censura nem moções de confiança. A opção de ouvir o conselho nacional é única e exclusivamente do doutor Rui Rio, a minha sempre foi ouvir os militantes”, referiu.
O certo é que o actual líder do partido está a perder apoios nas cúpulas das distritais. Vários dirigentes ao mais alto nível reuniram-se, neste domingo, em Lisboa, para trabalharem o que começaram há algumas semanas: a destituição de Rui Rio. O movimento das distritais reuniu, há quase duas semanas, para pôr em marcha a recolha de assinaturas para apresentar uma moção de censura à direcção. Agora, mais dirigentes se juntaram a este grupo nesta nova reunião, apurou o PÚBLICO, embora tenha caído a moção de censura, depois do presidente do partido ter anunciado a apresentação de uma moção de confiança.
No Conselho Nacional têm direito de voto os líderes de distritais (um por cada) e os 70 membros eleitos (através de oito listas) em congresso. No caso de faltarem podem pedir ou não para ser substituídos. Muitos elementos – incluindo na própria lista de Rui Rio ao Conselho Nacional – eram apoiantes de Pedro Santana Lopes, agora ex-militante. As listas têm, no entanto, sensibilidades variadas e, em alguns casos, são compostas por militantes que mantêm amizade desde os tempos em que eram filiados na JSD.
Num universo de cerca de 130 membros (ao todo são 137 mas incluem os antigos líderes do PSD que não deverão comparecer para votar), é preciso apenas maioria simples para fazer aprovar uma moção de confiança.
De um e de outro lado acredita-se que as contas estão a seu favor. Mas os números podem baralhar-se com o voto secreto, que deverá ser requerido na altura. O presidente da mesa do conselho nacional, Paulo Mota Pinto, só anunciará na própria reunião como se fará a votação: braço no ar ou por escrutínio secreto.
A hora a que a reunião do Conselho Nacional foi marcada – 17h – está a indignar os apoiantes de Luís Montenegro. Os líderes de distritais que são deputados vão ter de pedir dispensa do plenário de quinta-feira para comparecerem na reunião e poderem exercer o seu direito de voto. É o caso de Pedro Pinto (Lisboa), Pedro Alves (Viseu), Carlos Peixoto (Guarda), Manuel Frexes (Castelo Branco), Maurício Marques (Coimbra) e Bruno Vitorino (Setúbal) que são, em simultâneo, deputados e líderes de uma distrital. Outros parlamentares pediram até ao líder da bancada, Fernando Negrão, para solicitar ao presidente da mesa do conselho nacional a alteração da hora por coincidir com a sessão plenária da Assembleia da República. Entre os opositores a Rio acredita-se que a hora marcada é um sinal de que a direcção está a a apostar nas faltas de conselheiros nacionais para tentar obter vantagem.
Rui Rio esteve esta segunda-feira em visitas a empresas, mas manteve-se em silêncio sobre a situação interna do PSD. Na sua agenda foi cancelada uma reunião com militantes em Viana do Castelo, um encontro do mesmo género que o líder do partido tem vindo a promover nas distritais, nos últimos meses, para falar directamente com os sociais-democratas.
Com Rio em silêncio, duas vozes da sua direcção saíram a favor do líder, precisamente a do presidente do conselho nacional e a da vice-presidente Elina Fraga. Paulo Mota Pinto avisou sobre a “inoportunidade” de interromper o ciclo normal dos mandatos e que isso vai ser julgado por “militantes e eleitores”. Mais dura foi a ex-bastonária da Ordem dos Advogados, que acusou Luís Montenegro de ser “egoísta, ambicioso, e de agir com “leviandade” ao desafiar a liderança de Rio a poucos meses de eleições.