As mulheres que odeiam os homens

Saoirse Ronan é brilhante em Maria Rainha dos Escoceses, leitura revisionista das lutas surdas pelo trono britânico, mais interessante do que estas coisas costumam ser.

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É tentador ver esta nova versão do célebre conflito que opôs Isabel I a Maria Stuart, a prima escocesa com uma pretensão ao trono britânico, à luz do momento #MeToo. O filme, adaptado de uma biografia revisionista escrita pelo historiador John Guy pelo dramaturgo Beau Willimon (o criador da série House of Cards), acolhe até essa possível leitura. Para Guy, Willimon e a encenadora teatral Josie Rourke, em tempo de primeira longa-metragem, Maria e Isabel são duas faces de uma mesma moeda: mulheres fortes que ousaram desafiar o sistema patriarcal dominante, rainhas a mandar em homens desconfortáveis no papel de súbditos. Maria esteve sempre à mercê das intrigas palacianas masculinas, dos homens que nunca esconderam o seu desdém por uma “inferior” que entendiam ter-lhes usurpado o “direito divino”; Isabel não terá tido outra solução para se impor do que “tornar-se num homem”, enfrentá-los de igual para igual. Isabel era a “Rainha Virgem”, Maria foi acusada de ser a “Rainha Meretriz”.

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É tentador ver esta nova versão do célebre conflito que opôs Isabel I a Maria Stuart, a prima escocesa com uma pretensão ao trono britânico, à luz do momento #MeToo. O filme, adaptado de uma biografia revisionista escrita pelo historiador John Guy pelo dramaturgo Beau Willimon (o criador da série House of Cards), acolhe até essa possível leitura. Para Guy, Willimon e a encenadora teatral Josie Rourke, em tempo de primeira longa-metragem, Maria e Isabel são duas faces de uma mesma moeda: mulheres fortes que ousaram desafiar o sistema patriarcal dominante, rainhas a mandar em homens desconfortáveis no papel de súbditos. Maria esteve sempre à mercê das intrigas palacianas masculinas, dos homens que nunca esconderam o seu desdém por uma “inferior” que entendiam ter-lhes usurpado o “direito divino”; Isabel não terá tido outra solução para se impor do que “tornar-se num homem”, enfrentá-los de igual para igual. Isabel era a “Rainha Virgem”, Maria foi acusada de ser a “Rainha Meretriz”.

É uma leitura interessante a que Rourke empresta uma evidente teatralidade, usando os palácios e salas como palcos onde se desenrolam jogos de poder mais ou menos elaborados, numa escuridão enclausurada iluminada pelo rosto fervoroso de Saoirse Ronan (impecável como Maria, sem desprimor para a Isabel de Margot Robbie). Essa teatralidade é assumida no clímax que inventa um encontro entre ambas, mas Rourke não filma como se estivesse apenas a registar teatro: ela existe na sensualidade, na sensorialidade que diferencia esta Maria do grosso dos filmes de época britânicos. Um pouco como a banda-sonora de Max Richter vai buscar citações de Händel para construir outra coisa à sua volta.

Claro que há aqui muito do filme de prestígio britânico a piscar o olho aos Óscares, mas Maria Rainha dos Escoceses tem um outro ponto de vista, uma outra maneira de ver. Somando isso à categoria reconhecida da restituição de época britânica, é filme que se ergue acima da competência impessoal de coisas como Downton Abbey ou O Discurso do Rei. E confirma como Saoirse Ronan é, mesmo, uma actriz de primeira água.

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