Mendes vaticina vitória de Rio, mas preferia que a clarificação se fizesse através de directas
Comentador político da SIC desvaloriza crise no PSD e diz que tanto Rio como Montenegro saem a ganhar. Contudo, considera que para o partido “era melhor haver directas” porque legitimavam o líder ou permitiam a eleição de um novo para disputar eleições com Costa.
Marques Mendes acredita que Rui Rio vai ver a sua moção de confiança aprovada pelo conselho nacional do PSD, que deverá realizar-se dia 21, mas ao mesmo tempo diz que Luís Montenegro também vai acabar por sair a ganhar desta crise interna porque teve a “coragem” de desafiar o líder, pedindo uma clarificação e assumindo-se como candidato.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Marques Mendes acredita que Rui Rio vai ver a sua moção de confiança aprovada pelo conselho nacional do PSD, que deverá realizar-se dia 21, mas ao mesmo tempo diz que Luís Montenegro também vai acabar por sair a ganhar desta crise interna porque teve a “coragem” de desafiar o líder, pedindo uma clarificação e assumindo-se como candidato.
“Acabam por sair ambos vencedores. Se Rui Rio ganhar a moção de confiança no conselho nacional sai reforçado e significa que vai a votos com António Costa, em Outubro, independentemente do que acontecer nas europeias”, afirmou o antigo líder do PSD e comentador da SIC, no seu habitual espaço ao domingo à noite.
“Concorde-se ou discorde-se”, Montenegro “foi corajoso, assumiu e deu a cara, pedindo uma clarificação”; e Rio também fez bem, já que “não fingiu nem fez de conta” e “fez bem em querer clarificar”. De resto, para Marques Mendes, a luta pela liderança do PSD é vista como um acontecimento normal que compara ao desafio que António Costa fez a António José Seguro, em 2014.
Considerando embora que seria “melhor” ir para eleições directas, Marques Mendes declara que se Rio as disputasse “ficava muito mais reforçado, diria reforçadíssimo, porque reforçava a sua legitimidade, a sua autoridade interna e os críticos tinham que meter a viola ao saco, ficavam numa situação muito difícil”. Já se perdesse, sublinha, abria-se um novo ciclo e, nos partidos, um novo ciclo corresponde sempre a um “novo elán, a uma nova esperança”, o que ajudaria à mobilização do PSD, que no seu entender está bastante desmobilizado. “É nestes momentos de clarificação que o partido acaba por sair mais reforçado e com mais dinâmica”, reafirmou o antigo líder social-democrata.
Marques Mendes explica que o “grande problema de Rui Rio” não tem a ver com o desafio de Luís Montenegro para directas, o “grande problema reside nas sondagens que revelam que o partido está a perder nas intenções de voto e que estará com o pior resultado desde 1976”. As mais recentes sondagens colocam o PSD na casa dos 24%.
O conselheiro nacional e presidente da Câmara de Famalicão, Paulo Cunha, também considera que tanto Rio como Montenegro estiveram bem na solução que preconizaram para resolver a tensão que se vive no partido. Ao PÚBLICO, Paulo Cunha diz que não está contra a convocação de directas, mas mostra-se a favor da aprovação em conselho nacional da moção de confiança que Rio vai apresentar. Afirmando que o que está em causa é um processo de clarificação, Paulo Cunha assume uma posição institucionalista, frisando que os “mandatos devem ser cumpridos até ao fim" e que "quem foi eleito deve ir a votos primeiro com os portugueses e depois com os militantes”.
“Este não é o momento para haver eleições, mas é bom perceber que há militantes distintos no partido como Luís Montenegro, disponíveis para liderar [uma candidatura]. O que está em curso é bom a todos os níveis, mas o meu desejo é que essa força resulte na aprovação da moção de confiança pelo conselho nacional”, acrescentou o conselheiro nacional.
A deputada e ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, foi das poucas vozes que neste domingo saiu em defesa do antigo líder da bancada do PSD. Os apoiantes de Montenegro continuam em silêncio, recusando reagir às declarações de Rio. A ex-vice-presidente do partido lamenta que Rio tenha recusado directas porque isso, diz, “permitiria partir, de imediato, para uma verdadeira clarificação”.
“A melhor forma de clarificar seria devolver a palavra aos militantes e quem saísse vencedor dessa disputa seria um líder reforçado, com uma dinâmica adicional para enfrentar os próximos actos eleitorais”, disse a ex-ministra de Pedro Passos Coelho, citada pela agência Lusa.
Num registo bem diferente, Silva Peneda, antigo presidente do Conselho Económico e Social, veio neste domingo criticar o momento escolhido por Montenegro para abrir uma crise interna no PSD e falou mesmo de “insensatez”. “Algumas senhoras e alguns senhores não querem que Rui Rio escolha os deputados para a próxima legislatura e vão fazer tudo para o condicionar e serem outros a escolher os deputados”, atirou, em declarações à TSF, acrescentando que “quando as instituições se viram para problemas internos e deixam de defender o que devem defender, que é o país, normalmente definham ou acabam por morrer. Julgo que o PSD corre esse risco com esta autoflagelação interna que não faz sentido nenhum”.
O antigo ministro compara Rui Rio a Sá Carneiro e aplaude a forma como o líder do PSD reagiu ao desafio do ex-deputado, enaltecendo a sua “coragem e determinação” ao abrir as portas à clarificação.
Numa entrevista ao Jornal de Notícias publicada neste domingo, mas feita terça-feira, antes de Montenegro ter defendido directas, Rio diz acreditar que o PSD pode ganhar as próximas eleições legislativas por considerar que o PS já está em condições de as perder. Mas esta não é a primeira vez que Rio afirma que vai vencer as eleições.
Na entrevista, Rio dá grande destaque à economia familiar, afirmando que quer baixar os impostos às empresas para aumentar o investimento e com isso melhorar a competitividade da economia e depois os salários.