Marie Kondo, a “revolucionária” da arrumação chega ao Netflix
Os livros da japonesa foram ganhando fama ao longo dos anos, havendo quem garanta que mudou a sua vida e quem se mantenha indiferente. O seu método de arrumação, que promete ordem na casa (e na vida), chega agora aos pequenos ecrãs.
Chamam-lhe “o Michael Jordan das lides domésticas”, “consultora de arrumação”, “guru da limpeza” – trata-se da japonesa Marie Kondo, protagonista da nova série da Netflix A Magia da Arrumação, que se estreou no primeiro dia de 2019 – mesmo a tempo das resoluções de ano novo.
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Chamam-lhe “o Michael Jordan das lides domésticas”, “consultora de arrumação”, “guru da limpeza” – trata-se da japonesa Marie Kondo, protagonista da nova série da Netflix A Magia da Arrumação, que se estreou no primeiro dia de 2019 – mesmo a tempo das resoluções de ano novo.
Autora dos livros Arrume a Sua Casa, Arrume a Sua Vida (The Life-Changing Magic of Tidying, publicado em mais de 30 países, somando milhões de exemplares vendidos) e Alegria! Guia Ilustrado da Arte de Arrumar a Sua Vida, Marie Kondo é já há alguns anos considerada um fenómeno da arrumação: a sua fama transvazou dos livros para o YouTube, para um site personalizado, para as redes sociais (onde tem milhares de seguidores) e até para aplicações. O seu negócio lucrativo mantém a componente lúdica de ensinar a ser-se arrumado e, em teoria, mais descontraído e feliz. Ainda assim, há quem critique a eficácia do seu método.
Num estilo de reality show filmado nos Estados Unidos, Marie Kondo visita a casa de pessoas desarrumadas, com diferentes histórias de fundo: um casal com filhos que não tem tempo para arrumar, um casal reformado que foi acumulando objectos ao longo de gerações, ou até uma viúva que se desfaz do que já não precisa.
Ao longo dos oito episódios, Kondo utiliza e ensina o seu método baptizado de “Konmari”, dando dicas (não só aos participantes, mas também dirigindo-se directamente aos espectadores) sobre como manter a casa arrumada. E assume que ninguém é perfeito e que mesmo ela não o consegue sempre.
Primeiro, começa-se pela roupa, depois pelos livros – o que tem gerado alguma controvérsia entre amantes de leitura –, seguindo-se os papéis, e, os artigos “diversos” ou “genéricos”, chamados komono. Por fim, arrumam-se os artigos com valor emocional. No final dos episódios, mostra-se o antes e o depois e os participantes agradecem a ajuda de Kondo.
Uma das filosofias que segue é a de que os objectos só devem ser mantidos se ainda fizerem a pessoa feliz, se ainda despertarem uma “faísca de alegria”. E, sempre que é preciso desfazer-se de um objecto, deve-se agradecer-lhe, mesmo tratando-se de algo inanimado, numa atitude que pode parecer estranha à cultura ocidental. Kondo fala japonês em grande parte dos episódios e é seguida por uma intérprete.
O escritor Miguel Esteves Cardoso diz ser adepto do método de Kondo (escreveu sobre ele em 2016) e garante que mudou a sua vida. Assume que começou por ter preconceito por não gostar de livros de auto-ajuda, mas descobriu que não era disso que se tratava: “O livro dela de 2011 [Arrume a Sua Casa, Arrume a Sua Vida] é importantíssimo, é um livro filosófico sobre o espaço partilhado – mesmo com o público – e ela é uma pensadora profunda”.
Depois de a ler, fez uma pilha com todos os livros que tinha em casa e, um a um, avaliou se ainda lhe interessavam. Dos cerca de dez mil livros que preenchiam as suas estantes, ficou com “uns dois mil”. “Mas todos os livros com que eu fiquei são livros que eu adoro”, afirma, tendo-se desfeito dos romances que lera e não gostara, de livros oferecidos que já não lhe interessavam ou de outras obras que comprou “estupidamente” — mas o de Marie Kondo ficou, e não só fisicamente.
“Eu já li livros sobre arrumação, mas ela não fala de arrumação. Fala da escolha pessoal de cada um – se a pessoa gosta de porcaria, então que guarde essa porcaria, o que interessa é a própria pessoa”, explica ao P2.
Entre os seus amigos, Miguel Esteves Cardoso (que também é cronista no PÚBLICO) nota que existem muitos preconceitos quanto ao programa e quanto a Marie Kondo: “É por ser uma mulher, é por ser japonesa, é por ser pequenina, é por ser popular”. Mas acredita que o que Kondo faz no programa “é uma revolução feminista importantíssima em que, por baixo da boneca japonesa está uma revolucionária profunda: está a ensinar aos filhos e aos maridos a responsabilidade, o trabalho e a justiça, a disciplina e a ecologia.”