Não é a ideologia. É a ausência absoluta de energia
O verdadeiro problema de Rui Rio não é, nunca foi, e nunca será ideológico. É de carisma. É de empatia com o eleitorado. É de capacidade de liderança dentro do partido. É de estamina, e de músculo.
Luís Montenegro deu uma violentíssima conferência de imprensa, atacando Rui Rio com uma agressividade que não me lembro de ver desde os tempos de Luís Filipe Menezes, dizendo dele o que Maomé não disse do toucinho, e acusando-o de ser mole, não ter qualquer estratégia e de demonstrar uma incompetência extrema. A direcção de Rui Rio ouviu e respondeu. Como? De forma mole, sem qualquer estratégia e demonstrando uma incompetência extrema. Montenegro até pode conspirar todos os dias contra Rui Rio. Mas Rui Rio conspira todos os minutos contra si próprio.
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Luís Montenegro deu uma violentíssima conferência de imprensa, atacando Rui Rio com uma agressividade que não me lembro de ver desde os tempos de Luís Filipe Menezes, dizendo dele o que Maomé não disse do toucinho, e acusando-o de ser mole, não ter qualquer estratégia e de demonstrar uma incompetência extrema. A direcção de Rui Rio ouviu e respondeu. Como? De forma mole, sem qualquer estratégia e demonstrando uma incompetência extrema. Montenegro até pode conspirar todos os dias contra Rui Rio. Mas Rui Rio conspira todos os minutos contra si próprio.
A primeira aparição da direcção do PSD após o avanço de Montenegro vai ser esquecida em duas horas, mas a forma e o conteúdo da intervenção da vice-presidente Isabel Meirelles são exemplares do desnorte que se vive no PSD. Ponto um: 99,998% dos portugueses não sabem quem é Isabel Meirelles. Não é por acaso. É porque a equipa de Rui Rio é composta em quase exclusividade por figuras politicamente irrelevantes. Ponto dois: a primeira coisa que Isabel Meirelles fez questão de dizer foi que estava a falar em nome individual. Reparem: uma vice-presidente do PSD, a reagir na sede nacional do PSD, 15 minutos depois de um avanço frontal contra o líder do PSD, não estava a falar em nome da direcção do PSD. Ponto três: a reacção de Isabel Meirelles resumiu-se a um choradinho inconsequente. Ai, ai, que é um golpe de Estado. Ai, ai, que Luís Montenegro tinha prometido não fazer tal coisa. Ai, ai, que é uma enorme falta de respeito. Por amor da santa. Em que planeta político é que a maneira mais eficaz de responder a um desafio forte é abrindo uma caixa de Kleenexes?
Toda a gente anda para aí a falar de ideologia. De como o PSD devia estar mais à direita. Ou mais à esquerda. Ou mais ao centro. Meus caros amigos: eu adoro questões ideológicas, como bem sabe quem me lê, mas o verdadeiro problema de Rui Rio, como de qualquer líder político numa democracia liberal, onde existe um consenso generalizado sobre uma parte significativa das políticas públicas, não é, nunca foi, e nunca será ideológico. É de carisma. É de empatia com o eleitorado. É de capacidade de liderança dentro do partido. É de estamina, e de músculo, e de capacidade de mobilizar e entusiasmar e animar aqueles que estão à sua volta. É isto que realmente importa. É isto que diferencia um grande líder político. Não é saber se Rio gosta mais de Keynes ou de Hayek, até porque quando se começa a governar o pragmatismo tende sempre a sobrepor-se aos grandes enquadramentos ideológicos.
Esqueçam a ideologia – o problema é de energia. Sim, muita gente no PSD não se identifica ideologicamente com Rui Rio. Eu não me identifico ideologicamente com Rui Rio. Mas esse não é o ponto. Mesmo aqueles que classificam o avanço de Montenegro como uma mera estratégia cínica, sem outro objectivo que não a luta por lugares no Parlamento, esquecem-se que essa crítica é a mais evidente prova da incompetência de Rio. Durante um ano, ele não conseguiu fazer pontes, não conseguiu atrair pessoas de fora do seu pequeno círculo de amizades, não conseguiu agregar o partido, e, sobretudo, não conseguiu fazer o menor vestígio de oposição a António Costa.
Luís Montenegro fez muito bem em avançar. Não me parece que o eleitorado veja o seu gesto como uma traição inaceitável. Já saber se ele tem, ou não, alguma coisa de jeito para propor ao país, essa é uma questão bem mais complicada, que deixo para um próximo artigo.