O PSD quer curar as feridas com sal
Aconteça o que acontecer, o PSD vai sair desta guerrilha mais frágil. Do episódio resulta apenas uma virtude: a manta que cobria uma insuportável intriga palaciana destapou-se.
Que o mandato de Rui Rio na liderança do PSD tem estado muito longe de ser bom ou até longe de ser razoável é uma constatação provada no interminável rol de conflitos internos, na incapacidade de fazer passar uma mensagem alternativa ou nas indicações das sondagens. Mas usar esta argumentação para exigir a sua destituição um ano após ter sido democraticamente eleito só pode acontecer num partido doente, tribalizado, dominado por egos inflacionados e perturbado pela distância do poder. O PSD deixou de ser um projecto ou uma missão e tornou-se uma zaragata permanente. Num clima destes é impossível governar bem, como Rio dizia, mas é também impossível definir uma linha de rumo pacífica e consistente para o futuro. O PSD corre neste choque interno o risco de se tornar irrelevante.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Que o mandato de Rui Rio na liderança do PSD tem estado muito longe de ser bom ou até longe de ser razoável é uma constatação provada no interminável rol de conflitos internos, na incapacidade de fazer passar uma mensagem alternativa ou nas indicações das sondagens. Mas usar esta argumentação para exigir a sua destituição um ano após ter sido democraticamente eleito só pode acontecer num partido doente, tribalizado, dominado por egos inflacionados e perturbado pela distância do poder. O PSD deixou de ser um projecto ou uma missão e tornou-se uma zaragata permanente. Num clima destes é impossível governar bem, como Rio dizia, mas é também impossível definir uma linha de rumo pacífica e consistente para o futuro. O PSD corre neste choque interno o risco de se tornar irrelevante.
A política partidária é feita de tensões e de conflitos e nesse terreno o PSD sempre foi imbatível. No presente contexto, porém, há um substrato golpista que deixará marcas. Por muito que Luís Montenegro seja ou possa ser muito mais competente do que Rui Rio para defrontar o PS em Outubro, dispõe-se a conquistar o partido sem outra legitimidade que não seja o da prova de força de uma facção sobre outra facção. Pôr em causa um líder após uma derrota copiosa numas eleições ou até após uma “vitória poucochinha” à maneira de António Costa tem um racional. Derrubar um líder a quem não se concedeu a oportunidade de experimentar o verdadeiro teste da democracia, o das eleições, deixará sempre aos seus autores o anátema do oportunismo ou até o da ilegitimidade.
Para o PSD, este legado será sempre tóxico. Os cidadãos terão dificuldades em encarar de frente um líder que derruba o seu antecessor apenas por lhe atribuir uma vaga incompetência ou por sentir que tem a maioria dos militantes do seu lado. Se é verdade que Rui Rio perde todos os dias apoios à custa da sua obstinada teimosia, se foi incapaz de tornar o PSD um novo fórum de discussão com gente nova e competente, se a sua intolerância o fechou num gueto onde não se vêem ideias nem talentos, também é verdade que não cometeu nenhum crime e tem o direito de mostrar o que vale em eleições.
Aconteça o que acontecer, o PSD vai sair desta guerrilha mais frágil. Do episódio resulta apenas uma virtude: a manta que cobria uma insuportável intriga palaciana destapou-se. Mas, para desgraça do PSD, não será desta que esse ambiente vai ficar limpo.