Políticos e ex-combatentes kosovares convocados a prestar declarações em Haia
Um tribunal que está a examinar os crimes cometidos contra sérvios no Kosovo chamou vários antigos comandantes do Exército de Libertação do Kosovo para prestar declarações na próxima semana.
Um tribunal que está a examinar os crimes cometidos contra sérvios no Kosovo chamou vários antigos comandantes do Exército de Libertação do Kosovo (KLA, na sigla em inglês) para uma audiência preliminar na próxima semana, que faz parte de um processo que pode ajudar a acalmar as tensões entre Belgrado e Pristina.
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Um tribunal que está a examinar os crimes cometidos contra sérvios no Kosovo chamou vários antigos comandantes do Exército de Libertação do Kosovo (KLA, na sigla em inglês) para uma audiência preliminar na próxima semana, que faz parte de um processo que pode ajudar a acalmar as tensões entre Belgrado e Pristina.
Porém, este processo também tem o potencial de criar uma crise política no Kosovo, cujos líderes são, na sua maioria, antigos comandantes do KLA. A maioria dos kosovares vê estes antigos combatentes como heróis pela luta contra as forças sérvias durante a guerra da independência, entre 1998 e 1999, e teme que possam ser julgados.
A chamada Câmara Especialista foi criada em Haia em 2015 para ficar responsável pelos casos de alegados crimes cometidos pelas guerrilhas do KLA durante a guerra que levou à secessão do Kosovo da Sérvia. Os aliados ocidentais do Kosovo insistiram para que Pristina colaborasse com o tribunal.
“Eu nunca fui a Belgrado para combater mas combati para proteger o meu país”, diz à Reuters Sabahajdin Cena, um dos antigos comandantes do KLA chamado a depor na próxima semana.
“Este tribunal está a tentar equiparar a vítima com o agressor”, disse ainda Cena, que irá testemunhar em Pristina.
Os ex-comandantes do KLA Sami Lushtaku e Rrustem Mustafa confirmaram que vão viajar até Haia para depor na próxima semana. A comunicação social kosovar avança que um combatente veterano do KLA desapareceu quando recebeu o pedido para prestar declarações na audiência. No entanto, não é claro se estes vão prestar declarações como testemunhas ou como suspeitos.
“Enorme impacto”
O Presidente do Kosovo, Hashim Thaci, o primeiro-ministro, Ramush Haradinaj, e o líder do Parlamento, Kadri Veseli, são todos antigos comandantes do KLA e podem ser acusados pelo tribunal ou podem ser chamados como testemunhas, dão conta ainda os media kosovares.
Um relatório de 2011, que levou à criação deste tribunal, implicou Thaci e outras figuras do Kosovo a graves crimes contra os sérvios durante a guerra, incluindo o comércio de órgãos extraídos de prisioneiros de guerra. Thaci negou qualquer envolvimento.
“Um eventual convite aos principais líderes vai ter um impacto enorme na imagem do país”, explica Imer Mushkolaj, analista política em Pristina.
Não é claro quantos antigos combatentes foram chamados a depor na primeira audiência e quantos viajarão à Holanda para o fazer.
O gabinete do procurador especial em Haia, contactado pela Reuters, recusou comentar as audiências ou dizer se estas poderão resultar em algumas acusações.
Este gabinete tem a autoridade de “requerer a presença e interrogar suspeitos, vítimas e testemunhas, se necessário intimando estas pessoas, recolher e examinar informações e provas”, esclareceu à Reuters o porta-voz Christopher Bennett.
Além da morte de sérvios, o tribunal vai também investigar a morte de alguns albaneses acusados de colaborar com as autoridades sérvias na altura.
Este tribunal localiza-se em Haia em parte para assegurar a segurança das testemunhas. Casos anteriores que envolveram antigos oficiais do KLA foram marcados pela intimidação às testemunhas.
O KLA foi criado para enfrentar o líder sérvio Slobodan Milosevic no final dos anos 1990, acabando por receber o apoio aéreo crucial da NATO que travou a morte e a expulsão de civis albaneses no Kosovo durante uma campanha brutal de contra-insurgência.
O Kosovo, com uma maioria de 90% de albaneses étnicos, declararam independência da Sérvia em 2008 e é reconhecido como tal por 110 países, mas não por parte de cinco membros da União Europeia, da Sérvia e da Rússia.
As relações entre o Kosovo e a Sérvia continuam tensas, mas a UE informou ambos os países que não entrarão no bloco enquanto não normalizarem as relações.