Oficial de Tancos diz que exoneração foi estratégia de comunicação

O objectivo de Rovisco Duarte era não dar a imagem de que os militares se defendiam uns aos outros.

Foto
Coronel Ferreira Duarte na audição parlamentar LUSA/TIAGO PETINGA

O coronel Francisco Ferreira Duarte, um dos cinco comandantes exonerados em Julho de 2017, após o assalto aos paióis de Tancos, e duas semanas depois readmitido, considerou que a sua exoneração pelo então chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, foi peça de uma estratégia de comunicação.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O coronel Francisco Ferreira Duarte, um dos cinco comandantes exonerados em Julho de 2017, após o assalto aos paióis de Tancos, e duas semanas depois readmitido, considerou que a sua exoneração pelo então chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), Rovisco Duarte, foi peça de uma estratégia de comunicação.

Foi uma estratégia de comunicação definida pelo CEME”, revelou na noite desta quinta-feira o então comandante do Regime de Infantaria 15, uma das unidades que faziam a segurança ao perímetro da instalação militar, descrevendo o teor de uma conversa pessoal mantida com o antigo chefe do Exército. O coronel Ferreira Duarte falava no âmbito da segunda audição da comissão parlamentar de inquérito sobre as consequências e responsabilidades políticas do furto do material de guerra.

“Fiquei com a percepção de que se estava a fazer o possível para não dizerem que nós nos estávamos a defender uns aos outros”, recordou aos deputados. “A exoneração foi para ajudar a transmitir que a averiguação era transparente”, prosseguiu o oficial, reconhecendo que a imagem das Forças Armadas e do Exército saiu prejudicada do assalto. “A imagem é importante, mas não conseguimos criar essa boa imagem se não formos credíveis, a imagem tem de se basear em factos concretos”, destacou

Após a exoneração temporária, uma atípica figura jurídica, duas semanas depois os cinco comandantes de Infantaria 15, da Unidade de Apoio da Brigada de Reacção Rápida, do Regimento de Pára-quedistas, de Engenharia 12 e da Unidade de Apoio de Material do Exército, voltaram ao activo. Dois deles, Paulo de Almeida, de Engenharia 1, e Ferreira Duarte, frequentam, agora, o curso de promoção a oficial-general.

Na sua audição, o antigo comandante de Infantaria 15 confirmou que comunicou aos seus superiores hierárquicos as condições deficientes de segurança dos paióis, como aliás veio a constar na compilação do Ministério da Defesa, Tancos 2017, Factos e Documentos. No volume editado pelo anterior ministro, Azeredo Lopes, são apontadas deficiências nas portas e fechaduras dos paióis, na rede de segurança periférica e na inexistência de comunicação de rede fixa nem comunicações com os postos de sentinela e rondas móveis, bem como de sensores e de sistema de videovigilância.

Por fim, afirmou que algumas destas deficiências estavam a ser colmatadas, embora não com a celeridade necessária. “Quando a manta é curta e não chega para tudo há que priorizar e correr riscos”, admitiu por duas vezes.