E se o Martim Moniz fosse uma grande praça pedonal?
É essa a proposta de um lisboeta, urbanista por recreação, que se insurge contra a forma como a maioria das praças da cidade estão desenhadas.
O anúncio da criação de um mercado com contentores na placa central do Martim Moniz tem originado um animado debate em Lisboa e parece ter funcionado como um catalisador de ideias para a praça. Eis mais uma: acabar com o tráfego automóvel circular, aumentar consideravelmente os passeios e criar um jardim.
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O anúncio da criação de um mercado com contentores na placa central do Martim Moniz tem originado um animado debate em Lisboa e parece ter funcionado como um catalisador de ideias para a praça. Eis mais uma: acabar com o tráfego automóvel circular, aumentar consideravelmente os passeios e criar um jardim.
Pedro Machado não é arquitecto e não é urbanista, mas isso não o tem impedido de idealizar uma cidade diferente, com menos espaço para os carros e mais para os peões. São esses os princípios que diz estarem presentes na sua proposta para o Martim Moniz, desenvolvida nas últimas semanas.
“Sou muito favorável a uma maior pedonalização dos espaços públicos”, diz Machado, que anda muito a pé pela cidade e depara-se diariamente com obstáculos à fruição urbana pelos peões. “A minha ideia foi aumentar a permeabilidade pedonal. É bom quando os espaços são mais permeáveis.” Em Lisboa, comenta, “praticamente todas as praças são em forma de ilha”, em que “o trânsito circula à volta” e chegar à ilha pode ser um grande desafio.
Depois de, no início de Dezembro, ter lido no PÚBLICO sobre as ideias do arquitecto Augusto Vasco Costa para o Martim Moniz, Pedro Machado imaginou duas soluções para aquela praça malfadada. Uma, mais conservadora, mantém a circulação automóvel em volta da placa central, embora reduzindo o número de vias de trânsito. A outra vai mais longe, prevendo a supressão total do tráfego junto à Capela de Nossa Senhora da Saúde. Para os automobilistas poderem continuar a fazer inversão de marcha, Pedro Machado coloca uma pequena rotunda junto à Rua da Palma.
Na segunda proposta, Machado sugere a “criação de um jardim na metade norte da praça e um mais pequeno na parte sul, de forma a desenhar a junção do centro da praça com o espaço pedonal da Senhora da Saúde”. Nessa zona despida de vegetação concentram-se alguns quiosques, junto a canteiros, e fica aberta a possibilidade de haver concertos e espectáculos. “Esta é a única praça do centro da cidade com um declive significativo [no sentido norte-sul], o que a torna especialmente indicada para este efeito”, argumenta.
No jardim a norte, que em ambas as soluções é o de maior dimensão, Pedro inclui um lago, que acredita poder ser um elemento “muito agradável” para os frequentadores do espaço. Aliás, este urbanista por gosto crê que estas propostas vão “de encontro àqueles que são os desejos manifestados pela população”. Depois de se conhecer o projecto do mercado com contentores, no fim de Novembro, muitos moradores da Baixa participaram numa reunião promovida pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior em que se manifestaram mais favoráveis à criação de um jardim e de um “espaço de silêncio”.
Com ou sem trânsito junto à Senhora da Saúde, em ambas as propostas de Pedro Machado há alguns elementos comuns: alargamento dos passeios junto à paragem do eléctrico 28 e do Hotel Mundial, redução do número de vias de tráfego em toda a praça e intervenção na fachada do Centro Comercial da Mouraria. “Eu sou sensível às pessoas que têm ali as suas lojas e as suas vidas”, diz, argumentando no entanto que aquele prédio é um elemento dissonante e não pode continuar assim. Defende, por isso, uma “pombalinização do edifício”, conferindo-lhe algumas características próprias do casario tradicional lisboeta. Nos esboços das propostas, Pedro Machado incluiu uma imaginação de “como tudo seria diferente” se não existisse o centro comercial.
Dois dias depois de a ter divulgado junto do Fórum Cidadania Lx (em cuja página de Facebook recebeu sobretudo críticas positivas), Machado enviou esta quarta-feira as suas propostas ao presidente da câmara, Fernando Medina. Em Agosto passado, a autarquia encomendou ao arquitecto José Adrião um “projecto de requalificação dos espaços exteriores da Praça do Martim Moniz” cujos contornos são ainda desconhecidos.
Em Novembro, aquando da apresentação do mercado com contentores, o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, garantiu ao PÚBLICO que esse projecto “vai incidir exclusivamente no lado das Escadinhas da Saúde, na envolvente da capela, para aumentar a área pedonal e organizar as paragens do eléctrico, para dar mais conforto às pessoas que utilizam aquela zona”.