Operação Zeus: Faltam militares corruptos no banco dos réus, avisa major
Arguido explica forma como dividia pagamentos de fornecedores das messes com cúmplices: “Fazia três montes. Nunca meti mais dinheiro num monte que noutro”
O major da Força Aérea Portuguesa Rogério Martinho, que está a depor em tribunal no caso da corrupção nas messes das bases, garante que faltam no banco dos réus vários militares que participaram no esquema durante anos.
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O major da Força Aérea Portuguesa Rogério Martinho, que está a depor em tribunal no caso da corrupção nas messes das bases, garante que faltam no banco dos réus vários militares que participaram no esquema durante anos.
O caso chegou a ter 86 arguidos, entre os empresários que abasteciam as messes e os seus cúmplices militares. Porém, na fase de instrução do processo o juiz Ivo Rosa decidiu não levar a julgamento 18 destes suspeitos, por entender que nestes casos não havia indícios suficientes da prática de crimes.
Rogério Martinho, que geria a messe da base de Monte Real, já admitiu que ganhou cerca de 60 mil euros ao longo de perto de três anos neste esquema de sobrefacturação, que a Polícia Judiciária apelidou de Operação Zeus - através do qual os fornecedores facturavam à Força Aérea quantidades de géneros alimentares superiores àquelas que efectivamente entregavam nas messes. O lucro era depois dividido entre os empresários e os militares.
O major explicou esta quarta-feira no Tribunal de Sintra como guardava num cofre da base de Monte Real os envelopes com dinheiro dos fornecedores. “Mais tarde abriam-se e eu fazia três montes”, um para si próprio e outros para dois cúmplices. “Dava-lhes a escolher o monte que queriam levar. Nunca meti mais dinheiro num monte do que noutro”, fez questão de assegurar.
O esquema, que segundo conta durava há décadas, repetia-se pelas bases aéreas de todo o país. “Para ter tomado estas proporções era uma coisa enraizada”, declarou. No Estado Maior da Força Aérea estavam, segundo o Ministério Público, os cabecilhas do grupo, um general e vários coronéis aos quais Rogério Martinho e os gerentes das restantes messes do país pagariam 500 euros mensais para fecharem os olhos e não inspeccionarem as despensas, ou só o fazerem com aviso prévio.
O major invoca duas ordens de razões para a justiça se ter “esquecido” de fazer sentar no banco dos réus todos os que fizeram parte deste negócio paralelo: alguns não chegaram a ser apanhados pela Judiciária, enquanto outros não foram pronunciados por Ivo Rosa para irem a julgamento. E diz que foi um capelão da Força Aérea que o incentivou a confessar os crimes, quando já tinha sido preso. “Disse-me: ‘Então Martinho, só aqui estão vocês, os da arraia-miúda? E os altos responsáveis? Isto já se passa há muitos anos.’”