Governo francês com os nervos em franja com apoio a ex-pugilista que agrediu polícias

Christophe Dettinger foi filmado a fazer recuar polícias ao soco num protesto dos Coletes Amarelos em Paris. Entregou-se na segunda-feira e o apoio não pára de crescer. Uma angariação de fundos terá chegado aos 114 mil euros.

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Christophe Dettinger à direita, de gorro e casaco negros Reuters/GONZALO FUENTES

Um antigo pugilista francês, Christophe Dettinger, que foi filmado a agredir com socos polícias de intervenção durante a última manifestação dos Coletes Amarelos em Paris, no sábado, está a reunir uma cada vez maior onda de apoio. O que está a deixar o Governo com os nervos em franja, numa altura em que tenta muscular a sua resposta à violência nas ruas durante os protestos.

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Um antigo pugilista francês, Christophe Dettinger, que foi filmado a agredir com socos polícias de intervenção durante a última manifestação dos Coletes Amarelos em Paris, no sábado, está a reunir uma cada vez maior onda de apoio. O que está a deixar o Governo com os nervos em franja, numa altura em que tenta muscular a sua resposta à violência nas ruas durante os protestos.

Dettinger entregou-se à polícia na segunda-feira e está preso preventivamente. Mas, para além de várias páginas de apoio nas redes sociais (uma delas, no Facebook, conta com mais de 17 mil seguidores), foi criada uma campanha recolha de fundos para ajudar o antigo pugilista a defender-se.

A recolha foi aberta no site Leetchi, que não informou o montante total reunido, mas calcula-se que tenham sido doados pelo menos 114 mil euros por quase oito mil pessoas. Em comunicado, o Leetchi informou que encerrou a conta nesta terça-feira, devido à polémica que também gerou, garantindo que o dinheiro vai ser utilizado apenas nas despesas legais do ex-pugilista.

“Vamos, claro, ser muito vigilantes na forma como este dinheiro é usado”, disse o site em comunicado, argumentando que todas as pessoas têm direito a receber doações públicas.

Vários ministros expressaram publicamente a sua revolta com o apoio financeiro dado a Dettinger. “Contribuir para uma angariação de fundos para apoiar alguém que atacou um agente é o mesmo que ser cúmplice desses graves actos de violência”, disse Marlene Schiappa, ministra para a Igualdade.

Muriel Penicaud, ministra do Trabalho, foi outra governante a reagir à onda de apoio, descrevendo-a como “incompreensível”. “Como podem estas pessoas dizerem aos seus filhos, aos mais novos, que a violência é a resposta?”, disse em declarações ao canal CNews.

No Twitter, Mounir Mahjoubi, secretário de Estado para os Assuntos Digitais, também não escondeu a sua indignação: “Aparentemente, agredir um polícia compensa. (...) Todos têm de assumir as suas responsabilidades: esta angariação é indigna”.

O movimento de apoio a Dettinger surgiu praticamente ao mesmo tempo em que o Governo apresentou uma série de medidas para combater a violência que marcou os oito protestos dos Coletes Amarelos que decorreram até agora.

Na segunda-feira, Dettinger, que foi duas vezes campeão francês na categoria de peso-médio, visto actualmente como um herói dos Coletes Amarelos, acabou por se entregar às autoridades. Disse que os seus actos numa ponte sobre o rio Sena em Paris, no sábado, aconteceram para se proteger do avanço da polícia de intervenção.

“Eu sou um Colete Amarelo. Eu tenho a raiva do povo dentro de mim”, disse ainda. Apesar disso, admitiu excessos. “Reagi mal”, cita a Reuters.

O bicampeão de boxe, de 37 anos, foi filmado no sábado a galgar as grades postas na ponte pedonal Léopold-Sédar-Senghor e a desferir vários socos contra dois polícias, obrigando-os a recuar.

Citado pela BBC, Dettinger revelou que esteve em todos os protestos dos Coletes Amarelos até ao momento e que o fez motivado pela preocupação relativamente aos pensionistas e ao futuro dos seus filhos.