Ghosn reclama inocência mas arrisca mais seis meses de detenção
Ex-presidente da Nissan compareceu num tribunal de Tóquio e fez-se ouvir pela primeira vez desde Novembro. Advogado admite que continuará em prisão até ao julgamento.
O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, reclamou nesta terça-feira inocência e negou as acusações de fraude fiscal que levaram à detenção em Novembro de 2018. Durante uma audição no tribunal distrital de Tóquio, onde lhe foram explicadas as razões da detenção, Ghosn fez-se ouvir pela primeira vez desde que foi detido, lendo uma declaração a contestar as acusações. O advogado do gestor admite, contudo, que Ghosn arrisca continuar na prisão por mais seis meses, até à realização do julgamento.
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O ex-presidente da Nissan, Carlos Ghosn, reclamou nesta terça-feira inocência e negou as acusações de fraude fiscal que levaram à detenção em Novembro de 2018. Durante uma audição no tribunal distrital de Tóquio, onde lhe foram explicadas as razões da detenção, Ghosn fez-se ouvir pela primeira vez desde que foi detido, lendo uma declaração a contestar as acusações. O advogado do gestor admite, contudo, que Ghosn arrisca continuar na prisão por mais seis meses, até à realização do julgamento.
Questionado sobre a hipótese de sair em liberdade, após três ordens de prisão preventiva, o advogado Motonari Otsuru disse: "Regra geral, neste tipo de casos no Japão, isso não acontece neste tipo de casos antes do início do julgamento."
Ghosn, de 64 anos, foi detido a 19 de Novembro, no aeroporto de Tóquio, e formalmente acusado de fraude fiscal a 10 de Dezembro. É suspeito de ter omitido 38 milhões de euros de compensações, recebidos entre 2010 e 2015. É ainda suspeito de ter ocultado mais 31 milhões de euros em remunerações, referentes ao período 2015-2018.
Carlos Ghosn, relata a Reuters, foi levado para a audiência desta terça-feira algemado e com uma corda à volta da cintura, vestindo um fato azul e uma camisa branca sem gravata. O ex-gestor parecia mais magro do que antes da detenção e o cabelo, outrora escuro, começa a mostrar raízes brancas.
A audiência em tribunal foi pedida pelo advogado de defesa para que fossem explicadas as razões da detenção. O juiz Yuichi Tada explicou que a detenção se deve ao risco de fuga e à possibilidade de esconder provas.
O antigo presidente da Nissan e ex-homem forte da aliança que o fabricante nipónico estabeleceu com a Renault em 1999, aproveitou a oportunidade para negar as acusações de que é alvo e, numa voz clara, leu uma declaração que trazia preparada. "Fui erradamente acusado e injustamente detido com base em acusações sem mérito e infundadas", disse o gestor.
"Acredito firmemente que, em todos os esforços que fiz em nome da empresa, agi honradamente, legalmente e com o conhecimento e a aprovação dos executivos dentro da empresa", acrescentou.
Opinião diferente têm os antigos companheiros de gestão na Nissan e na Mitsubishi (que se juntou à aliança em 2016), que o destituíram das funções de chairman que exercia nas duas empresas, ainda antes de haver conclusões dos inquéritos internos. Também o Ministério Público japonês entende que os indícios apontam para fraude fiscal, abuso de confiança e desvio de dinheiro. Só a Renault mantém Ghosn intacto nos órgãos, embora tenha entregado os poderes a outro gestor.
Além da ocultação de rendimentos (fuga ao fisco), Ghosn é suspeito de ter usado dinheiro da Nissan para cobrir perdas financeiras de 14,8 milhões de euros que sofreu em investimentos pessoais no subprime que correram mal. O gestor admitiu agora, segundo a BBC, que pediu de facto à empresa para que cobrisse esses prejuízos temporariamente, mas garantiu que a Nissan não perdeu dinheiro nessas operações.
Em defesa dele, acrescentou que a alternativa a essa medida teria sido pedir a demissão e usar o fundo de pensões para cobrir os danos financeiros.
A justiça japonesa suspeita ainda de um pagamento feito por Ghosn a um empresário saudita, no valor de 12,8 milhões de euros, para obter uma carta de conforto que o auxiliasse na concessão de crédito para cobrir esses prejuízos.
Se for julgado e considerado culpado, pode ser condenado a uma pena de até dez anos de prisão e a uma multa de 5,6 milhões de euros. Com Raquel Martins