Nestas cidades do faz de conta brinca-se ao futuro
Em colaboração com a autarquia de Albergaria-a-Velha, José Nuno Amaro e a sua equipa desenvolveram um tipo de bicicletas especiais que ajudam os mais novos a criar cidades sustentáveis.
Imagine uma cidade em que a forma como nos movemos é completamente diferente. Não existem carros ou transportes públicos movidos a combustíveis fósseis e quase toda a população se desloca a pé, de bicicleta ou em veículos eléctricos e mais amigos do ambiente. E este não é um cenário imaginado já assim tão distante.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Imagine uma cidade em que a forma como nos movemos é completamente diferente. Não existem carros ou transportes públicos movidos a combustíveis fósseis e quase toda a população se desloca a pé, de bicicleta ou em veículos eléctricos e mais amigos do ambiente. E este não é um cenário imaginado já assim tão distante.
Foi nestas cidades do futuro que José Nuno Amaro quis acreditar e tornar “realidade” nas salas de aula de todas as escolas públicas do concelho de Albergaria-a-Velha através do projecto PréPOP, que tem nas bicicletas seu ponto fulcral. Em colaboração com a autarquia, a Nuno Zamaro Indústrias concebeu e ofereceu 88 bicicletas que vão ser partilhadas por 250 alunos para que estes aprendam tudo o que há para saber sobre um futuro sustentável.
“Incentivamos cada escola a construir a sua cidade do futuro, a partir de alguns pontos importantes que são a partilha da bicicleta e de funções dentro dessa cidade. Como não há bicicletas para todas as crianças ao mesmo tempo, estas desempenham papéis diferentes, habituais numa cidade. Um é o polícia sinaleiro, outro o dono da estação de carregamento de energia eléctrica das nossas bicicletas. Todos têm um função associada ao faz de conta recriado em cada escola”, conta José Nuno Amaro.
Numa sala de pré-escolar de Albergaria-a-Velha, há uma rotunda, uma estação de carregamento das bicicletas eléctricas, uma prisão e alguns arranha-céus, tudo ao tamanho e medida de Matilde Oliveira, Tiago Cândido e Rafael Almeida, os escolhidos dessa manhã para desempenharem os papéis na cidade a brincar.
Ninguém quer fazer de polícia ou de dono da estação. Pelo contrário, todos os miúdos correm para as bicicletas em ponto pequeno, mas sabem que não podem andar sem que lhes seja colocado o capacete para que tudo seja feito com segurança, mesmo numa cidade de faz de conta. A bicicleta vermelha é a mais cobiçada, é a “dos grandes”, como diz Rafael Almeida, um futuro polícia que para já só quer ser ciclista.
Todo este cenário é adaptado à sala de aula ou ao exterior, onde as crianças podem andar mais livremente de bicicleta.
Durante o inverno, os prédios feitos em cartão, que por enquanto ainda ultrapassam Rafael em altura, estão montados dentro do edifício mas podem ser retirados e adaptados a cada actividade.
“O PréPOP é um projecto a brincar que temos que levar a sério. Porque se nós conseguirmos incutir, através de uma brincadeira, que a utilização da bicicleta é uma forma de aumentar as destrezas e capacidades motoras desta geração e uma actividade que ajuda o planeta, já é um grande passo”, diz o responsável pelo projecto. “Com o tempo, a criança acaba por ter um respeito maior perante todos como condutor, como peão, como utilizador de qualquer meio de transporte”, acredita.
O projecto faz parte do MOB.A — Mobilidade Operacional Bicicleta Albergaria, lançado pelo município em Março de 2017 e que visa promover a utilização de meios de transporte mais sustentáveis e amigos do ambiente. Para que estas crianças aprendessem a andar de bicicleta e ganhassem destreza de movimentos, a Nuno Zamaro Indústrias desenvolveu um tipo de bicicletas especiais para a aprendizagem sem pedais, as balance bikes.
O PréPOP também quer ajudar a estimular a escola e os professores em termos criativos. “Nós, como criadores do projecto, damos acima de tudo formação e algumas ideias de como se pode pôr em prática esta escola de mobilidade cívica”, diz José Nuno.
Um projecto para o país
O mais importante na fase inicial é que sejam os professores a acompanhar todo o processo, sendo que a equipa só intervém para criar e propor novas ideias e para mostrar alguns vídeos de educação cívica em formato digital. “O que nós queremos demonstrar é que um projecto de mobilidade numa escola pode ser uma coisa muito importante mas ser uma coisa simples barata”, afirma o criador do projecto.
A ideia da equipa é que, vendo o exemplo de Albergaria-a-Velha, outros concelhos queiram também adaptar o projecto à sua maneira. “O esforço do município é de activar o projecto e de no próximo ano ter mais bicicletas por todo o país. Também esperamos que sejam as próprias escolas a reagir ao projecto e mostrar o seu interesse em que sejam distribuídas mais bicicletas para que nós consigamos absorver essa procura na nossa empresa”, diz José Nuno.
Para tal, o projecto já se encontra na fase final do processo para candidatura ao programa LIFE, que contribui para o desenvolvimento sustentável e para o alcance dos objectivos e metas da Estratégia Europeia 2020 em matéria ambiental.