Uma casa no Porto onde a dor das crianças se alivia em família
Ainda no perímetro do Hospital São João, a casa Ronald McDonald acolhe famílias de crianças internadas que, com carinho, cama e roupa lavada minimizam o impacto que a doença tem nas suas vidas e rotinas
“Uma criança doente é uma família doente”. E no perímetro do hospital de São João há uma casa, e voluntários, dispostos a minimizar a angústia e o desconforto de quem tem um filho em tratamentos. Aberta há cinco anos, pela Casa Ronald McDonald do Porto já passaram mais de 500 famílias, que ali encontram bem mais do que cama e roupa lavada, garante a gestora do espaço, Isabel Aragão.
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“Uma criança doente é uma família doente”. E no perímetro do hospital de São João há uma casa, e voluntários, dispostos a minimizar a angústia e o desconforto de quem tem um filho em tratamentos. Aberta há cinco anos, pela Casa Ronald McDonald do Porto já passaram mais de 500 famílias, que ali encontram bem mais do que cama e roupa lavada, garante a gestora do espaço, Isabel Aragão.
Quando uma doença ou acidente apanha uma criança, toda a família sai lesada. Por isso, o acolhimento gratuito às famílias que se vêem muitas vezes obrigadas a ter que percorrer vários quilómetros para que os seus filhos possam receber tratamento é essencial. Este é um dos objectivos que norteiam a actuação das casas Ronald McDonald, espalhadas por todo o mundo. Na do Porto, percebe-se rapidamente quando vemos os pequenos chegar, acompanhados pela mãe, a uma casa que já é deles.
Tuzolana está em tratamento no Hospital São João, onde nasceu há três anos. Há sete meses, foi recebida na casa juntamente com a mãe, Helena Bemba, e o irmão mais velho, Kihami. Vêm de Luanda, em Angola. “Esta menina, quando chegou cá, não falava e agora já está toda à vontade”, comentava Isabel. de facto, estamos junto ao hospital, mas o espírito que se respira em nada lembra hospitais: é uma casa como todas as outras - com quartos, cozinha, sala de jantar e de estar, lavandaria e muitos brinquedos, ou não fosse esta uma casa para as crianças e as suas famílias.
Manter rotinas, se possível
A intenção é, igualmente, que as famílias prossigam as suas vidas, e Helena conta que, de facto, “é como se estivesse em casa”. “Vou levar os meninos para o infantário, volto, arrumo uma ou outra coisa, faço a comida, lavo, passo. Mantenho a minha rotina”, assegura.
Há três anos, a história de Helena e dos seus dois filhos foi diferente. Na altura do nascimento da mais nova, a mãe ainda tinha condições para pagar um apartamento e, por isso, não precisou de recorrer à ajuda da casa, apesar de já saber da sua existência. Hoje, e com os preços do alojamento no Porto a disparar, se não fosse aquela instituição, não sabe como seria. “Sem esta casa não viria para o Porto, ou seja, a Tuzolana seria operada e seríamos obrigadas a regressar sem dar continuidade ao tratamento porque eu não tenho capacidades para alugar um sítio para ficar”, explicou.
Essa é a realidade de inúmeras famílias que, além de não conseguirem pagar um quarto, muitas vezes nem conhecem a cidade para onde vão. Com o intuito de contornar essa realidade, à chegada, recebem um guia com informação útil sobre a zona.
A verdade é que ali se deixa de lado a simples prestação de serviços e se entra num outro campo: o do coração. “No aspecto emocional não tenho adjectivos para descrever esta casa. Os funcionários são muito acolhedores tanto para os momentos bons como para os menos bons. Estão lá para dar um colo, um abraço, uma palavra de encorajamento e isso não há valor que pague”, explica Helena, acrescentando que a filha até já chama tio João a um dos funcionários.
Ana Rita Costa tem 22 anos, estuda Medicina e, além disso, é voluntária num lugar que, também para ela, acaba por ser “uma segunda casa”, diz. É o seu segundo ano de voluntariado aqui, e desde que começou “nunca mais quis parar”. “Sempre que estou com estas crianças aprendo com elas. Há coisas que marcam e a força destas crianças, que são autênticos heróis e heroínas, é uma delas”, lembra já enternecida. Tendo em conta que virá a ser uma profissional na área da saúde, a voluntária garante que a experiência na casa a sensibilizou para o impacto que a doença de um filho tem na família”.
Maria da Conceição veio de Esmoriz, em Aveiro, para que o filho de 15 anos pudesse receber tratamento. A casa Ronald McDonald é o seu tecto desde Março. Aqui recebeu o apoio de que precisava para continuar a lutar pelo futuro do Simão. “Ao conviver com as outras famílias, esqueço um bocadinho o meu problema, foi uma bênção que me apareceu”, confirma. Segundo a própria, neste momento a sua casa é esta. “Tem que ser esta, a outra está lá em Esmoriz e eu tenho que estar aqui com o Simão”, remata.
Segundo a gestora da casa, os “voluntários e os utentes tornam-se numa família.” “As mães que vêm sozinhas encontram aqui uma família para as acolher, acho que o conceito da casa está aí bem patente. A nossa grande preocupação não é só com as crianças que estão doentes, mas sim estarmos centrados na família como um todo”.
Fazer sentir em casa todas as famílias que por ali passam, acarinhar e garantir que continuam sãs para conseguirem ultrapassar uma das fases mais complicadas de gerir nas suas vidas é um dos pontos-chave da Fundação. Nesse sentido, todos os anos, em Setembro, fazem recrutamento e, consoante os interesses de cada voluntário, direccionam a sua actuação na casa.
Os voluntários que estudam ou trabalham em Psicologia acabam por prestar esse tipo de serviços às famílias, assim como alguém da área da Fisioterapia poderá fazer massagens, como estava a acontecer no dia em que fomos conhecer a casa. “É uma questão de vontade”, explica Isabel. Vontade de querer fazer tudo o que for possível com o simples intuito de ajudar o próximo, seja só a “brincar, a fazer um desenho, a jogar um jogo ou a ler uma história”, como refere a voluntária Ana Rita Costa.
Na Casa do Porto estão disponíveis 12 quartos. Por norma, estão sempre ocupados, num entra e sai movido pela melhoria das crianças (doentes), assim mesmo entre parênteses, porque, como diz Isabel Aragão, “antes de serem crianças doentes, são crianças”.
Texto editado por Abel Coentrão