Queima de baleia bebé em São Pedro do Estoril gera contestação
Perito aponta para a falta de meios e de formação das autoridades competentes. ICNF propôs alternativa à incineração do corpo. Polícia Marítima e Câmara de Cascais alegam que era impossível a remoção da baleia do local.
Nos últimos dias do ano, surgiu numa praia do Estoril uma pira feita com pneus que ardeu longamente. O seu objectivo? Queimar o corpo de uma baleia bebé que tinha sido ali encontrada, já morta. A acção, da responsabilidade das autoridades concelhias e portuárias, já foi criticada por quem considera que a decisão, não só foi incorrecta, como ainda geradora de poluição. Tanto câmara como a capitania contrapõem que não havia outra solução.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Nos últimos dias do ano, surgiu numa praia do Estoril uma pira feita com pneus que ardeu longamente. O seu objectivo? Queimar o corpo de uma baleia bebé que tinha sido ali encontrada, já morta. A acção, da responsabilidade das autoridades concelhias e portuárias, já foi criticada por quem considera que a decisão, não só foi incorrecta, como ainda geradora de poluição. Tanto câmara como a capitania contrapõem que não havia outra solução.
Na madrugada de 26 de Dezembro, uma cria de baleia já cadáver arrojou na zona de rebentação da Ponta do Sal, em São Pedro do Estoril. O alerta foi dado por um popular que terá comunicado o sucedido à Polícia Marítima de Cascais, que logo tomou conta da ocorrência contactando as entidades competentes, nomeadamente o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), Direcção-Geral da Saúde, Câmara Municipal de Cascais (Cascais Ambiente) e Bombeiros Voluntários da Parede.
Segundo avança o Capitão do Porto de Cascais, Rui Pereira da Terra, a baleia tinha cerca de 5,80 metros de comprimento, 1,5 toneladas de peso e encontrava-se encaixada numa zona rochosa de difícil acesso, o que, aliado ao recuo da maré e à falta de meios e maquinaria disponível, em muito dificultou a remoção do animal nos dois dias que se seguiram. “Foram realizadas tentativas de deslizamento por via terrestre e marítima, mas as condições em que o corpo se encontrava não o tornaram possível”, afirmou.
Face a tais dificuldades, Anabela Isidoro, do ICNF, referiu ao PÚBLICO que o instituto terá “sugerido como alternativa que se desmanchasse o corpo de modo a que fosse mais fácil removê-lo posteriormente com o apoio de máquinas”. Confrontado com esta declaração, João Cardoso de Melo, director na Cascais Ambiente, afirmou que “a baleia estava encaixada nas rochas, o que não permitia o seu eficaz desmanchamento”, pelo que a Capitania do Porto de Cascais decidiu que a incineração do corpo no local era a solução mais viável.
Como se pode ler no comunicado, divulgado através das redes sociais na página da Autoridade Marítima Nacional, “foi efectuada uma operação de queima controlada, com a colaboração activa do Serviço de Protecção Civil e a Cascais Ambiente, competindo à Polícia Marítima garantir as condições de segurança e a restrição de acesso ao local prevenindo-se, deste modo, um problema de saúde pública e salvaguardando-se as condições ambientais no local”.
No entanto, Miguel Lacerda, mergulhador, consultor e um dos fundadores do Museu do Mar, contesta veemente esta decisão e aponta para a falta de competência e honestidade das autoridades envolvidas. “Devia ter-se tentado remover o animal e o ICNF devia ter-se deslocado ao local e feito uma avaliação à morte do mesmo. Seria uma excelente oportunidade de estudo”. Vai ainda mais longe e, na rede social Facebook, alertou para o facto de terem sido usados pneus na queima do corpo do animal, ao invés de materiais biodegradáveis como a madeira. “As entidades não estão preparadas para estas situações, daí que tenham recorrido à queima do cetáceo. Porém, os pneus, juntamente com a carne da baleia, são altamente tóxicos tanto para a saúde pública, como para a conservação do oceano”, declarou.
Ao PÚBLICO, enquanto o Capitão Pereira da Terra afirmou não ter tido conhecimento do material combustível utilizado para minimizar a massa da baleia, o director da Cascais Ambiente assumiu terem recorrido ao uso de gasóleo e de pneus, afirmando ter sido “um mal menor, pois o objectivo era eliminar os restos mortais e a madeira, por si só, não seria suficiente para queimar um animal daquela dimensão”. Acrescenta ainda que “a gordura da baleia é mais nociva do que a queima de três ou quatro pneus”, tendo esta sido “a solução mais viável e mais fácil” que encontraram.
Sob a orientação da Capitania e do ICNF, os técnicos da Cascais Ambiente procederam à incineração do cetáceo durante a noite, não só porque “as condições de humidade e direcção do vento se apresentavam mais favoráveis, mas também para que o fumo da queima não afectasse a população”, avançou o Capitão do Porto de Cascais.
Texto editado por Ana Fernandes