Azulejos do século XVII estão a ser roubados do Mosteiro de Odivelas
O mosteiro, onde está sepultado o rei D. Dinis, é monumento nacional desde 1910 e tem um dos maiores repositórios azulejares do país. Nos últimos dias do ano, desapareceram 164 azulejos, que datam do século XVII, de um painel que "estava completamente intocado".
Cerca de 170 azulejos do século XVII foram roubados, nos últimos dias de 2018, de uma galeria porticada do Mosteiro de Odivelas. O alerta foi dado por moradores da zona que perceberam que faltavam azulejos num painel daquela galeria do mosteiro que está desocupado desde 2015, quando o Instituto de Odivelas — que ali funcionava — foi transferido para as instalações do Colégio Militar, em Carnide.
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Cerca de 170 azulejos do século XVII foram roubados, nos últimos dias de 2018, de uma galeria porticada do Mosteiro de Odivelas. O alerta foi dado por moradores da zona que perceberam que faltavam azulejos num painel daquela galeria do mosteiro que está desocupado desde 2015, quando o Instituto de Odivelas — que ali funcionava — foi transferido para as instalações do Colégio Militar, em Carnide.
Até ao momento foram furtados azulejos de três espaços diferentes, num total de 164, disse ao PÚBLICO fonte da assessoria de comunicação do município. A autarquia teve conhecimento do roubo no dia 19 de Dezembro, tendo participado o mesmo na Esquadra da PSP de Odivelas. Segundo explicou a mesma fonte, foram também efectuadas diligências junto do director do Colégio Militar, solicitando a intervenção da Polícia Judiciária Militar. Foi também contactada a Polícia Judiciária.
No entanto, depois do desaparecimento dos primeiros azulejos e de terem sido alertadas as autoridades, ocorreram novos furtos, nos dias 21 e 25 de Dezembro.
O mosteiro, mandado construir pelo rei D. Dinis no século XIII, é monumento nacional desde 1910 e é hoje um dos maiores repositórios azulejares do país, destacando-se um painel exterior da galeria porticada do mosteiro, constituído por azulejos policromos (branco, azul e amarelo) do séc. XVII, com um "padrão rico", explicou ao PÚBLICO Ricardo Branco, historiador de arte e investigador da Universidade Nova de Lisboa.
“Se não se tomar medidas os furtos vão continuar porque os azulejos são valiosos. O conjunto está entre os mais notáveis do distrito de Lisboa, não só pela qualidade, mas também pela antiguidade e quantidade”, considera. E lembra também que já antes o Forte de Santo António da Barra, em S. João do Estoril, Cascais, havia sido votado ao abandono, sujeito a roubos, não compreendendo a razão pela qual não há vigilância na praça do mosteiro, sobretudo na zona onde estão estes azulejos que por não ser vedada acaba por estar "ao alcance de qualquer um".
A historiadora Raquel Henriques da Silva pediu mesmo que as autoridades que estão a investigar sejam diligentes, já que o direito à memória e à sua valorização "não pode ser comprometido por razões processuais”. Numa carta endereçada, na quarta-feira, ao Ministério Público, a professora de História da Arte da Universidade Nova de Lisboa pede que "perante esta situação paralisadora", a investigação seja atribuída à Polícia Judiciária (PJ), uma vez que "tem a competência exclusiva dos crimes ligados aos Bens Culturais e dispõe em Lisboa de uma ‘Brigada de Obras de Arte’ especializada e com muita experiência na investigação de furtos e roubos de azulejos históricos e artísticos".
Mosteiro nas mãos da câmara "em breve"
O Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, onde está sepultado o rei D. Dinis, ainda se encontra à guarda do Ministério da Defesa. No entanto, a sua gestão deverá passar “em breve” para as mãos da câmara de Odivelas. Ali, ao longo de mais de um século, funcionou um colégio feminino.
Muito antes de chegarem as estudantes, o mosteiro tinha sido casa de freiras da ordem religiosa de Cister. O edifício começou a ser construído no final do século XIII. Hoje, pouco resta da construção inicial. Ao longo de sete séculos, o conjunto foi sendo alargado. A última grande reforma ocorreu depois do terramoto de 1755, quando a abóbada da igreja abateu sobre o túmulo de D. Dinis que está, neste momento, a sofrer obras de conservação da cobertura e restauro do sacrófago. Estas intervenções estão a cargo do município e da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC). O PÚBLICO questionou também esta entidade sobre o furto dos azulejos, mas aguarda ainda respostas.
Por decisão do anterior Governo, as alunas e corpo docente foram integrados no Colégio Militar. Desde então, o edifício tem estado a cair na ruína, embrenhado no processo burocrático de cedência à câmara que se vem arrastando há vários anos.
Em Outubro foi aprovada uma alteração a um decreto-lei que permite a integração do Mosteiro de Odivelas no domínio público do Estado e a transferência da sua gestão para a Câmara de Odivelas, uma intenção já aprovada pela autarquia. Só que para o decreto-lei entrar em vigor teria de ser homologado e receber "luz verde" do Tribunal de Contas (TdC). De acordo com a autarquia, o TdC já deu aval à transferência, pelo que se prevê a assinatura do auto de cedência do Mosteiro entre a Direcção Geral do Tesouro e Finanças, Direcção Geral de Recursos de Defesa Nacional e a Câmara Municipal de Odivelas “para breve”. Só então será formalizada a transferência.
Segundo um acordo de cedência já assinado entre o município e o Governo, a autarquia receberá a gestão do espaço durante 50 anos, mediante a garantia de um investimento de 19 milhões de euros na requalificação do monumento e o pagamento de uma renda mensal de 23 mil euros.
A autarquia já anunciou publicamente que tem vários projectos para aquele espaço, nomeadamente a criação de um Centro Interpretativo sobre o Mosteiro de São Dinis.