Desta vez não houve feeling de Vieira que salvasse Rui Vitória

Treinador não sobreviveu à derrota histórica frente ao Portimonense e deixa o cargo ao fim de três temporadas e meia. Bruno Lage sai da equipa B para assumir o comando interino.

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Rui Vitória não resistiu a mais um mau resultado do Benfica LUSA/MIGUEL A. LOPES

Rui Vitória escapou por um triz à goleada sofrida pelo Benfica em Munique, frente ao Bayern, na Liga dos Campeões, no final de Novembro, mas não resistiu à histórica derrota das “águias” com o Portimonense para o campeonato, na quarta-feira. O feeling de Luís Filipe Vieira, que manteve o treinador contra tudo e contra todos, esgotou-se em pouco mais de um mês.

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Rui Vitória escapou por um triz à goleada sofrida pelo Benfica em Munique, frente ao Bayern, na Liga dos Campeões, no final de Novembro, mas não resistiu à histórica derrota das “águias” com o Portimonense para o campeonato, na quarta-feira. O feeling de Luís Filipe Vieira, que manteve o treinador contra tudo e contra todos, esgotou-se em pouco mais de um mês.

“Foi uma luz que me deu […]. Neste momento há um descontentamento generalizado entre os benfiquistas. Mas para aquilo que é importante no projecto do Benfica, é importante que o Rui Vitória continue”, garantia o presidente “encarnado” na noite de 29 de Novembro do ano passado, numa conferência de imprensa em que todos esperavam o anúncio da saída do técnico português.
O inesperado voto de confiança de Vieira, que apanhou inclusivamente de surpresa os seus pares da direcção da SAD (Sociedade Anónima Desportiva) e clube, começou por produzir frutos. Nada menos do que sete triunfos consecutivos, entre campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Liga dos Campeões.

Foi a melhor fase do Benfica na temporada, que culminou com a goleada caseira ao Sp. Braga, por 6-2, nas vésperas de Natal, naquela que também foi a melhor exibição da equipa esta época. Vieira parecia ter acertado em cheio, apesar de persistirem críticas internas e externas ao desempenho global do técnico bicampeão nacional.

Mas a situação voltou rapidamente a ficar insustentável para Vitória nos dois últimos encontros. Na Vila das Aves, frente ao Desportivo local, os “encarnados” tiveram de suar muito para regressarem a Lisboa com um empate (1-1), garantindo no limite a passagem às meias-finais da Taça da Liga (fase na qual irão defrontar o FC Porto). Mas o pior estava para vir.

Dois autogolos deixaram o Benfica de joelhos em Portimão, naquele que seria o primeiro triunfo da história dos algarvios frente ao candidato ao título. Pouco mais de uma semana depois de terem alcançado o segundo lugar do campeonato, os “encarnados” voltavam a descer à quarta posição da tabela, agora a sete pontos do líder FC Porto.

O desfecho não é inesperado e já foi comunicado pela SAD à CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) ao início da noite desta quinta-feira: “A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informa, nos termos e para o efeito do disposto no artigo 248.º-A do Código dos Valores Mobiliários, que chegou a um princípio de acordo com o treinador Rui Carlos Pinho da Vitória para a rescisão do contrato de trabalho desportivo com efeitos imediatos.”

A lista de eventuais sucessores deverá engrossar nos próximos dias, sendo que um eventual regresso de Jorge Jesus poderá não estar fora da equação. Para já, o comando técnico da equipa será assegurado interinamente por Bruno Lage, que orientava a equipa B, que ocupa também o quarto lugar da II Liga.

Licenciado em Educação Física, Saúde e Desporto, com especialização em Futebol, o treinador, de 42 anos, iniciou a sua carreira como adjunto das camadas jovens do Vitória de Setúbal, em 1997. Teve a primeira experiência como técnico principal no UF Comércio e Indústria, antes de voltar a ser adjunto nos AD Fazendense, Estrela de Vendas Novas e Sintrense.
Chegou, mais tarde, às camadas jovens do Benfica na temporada 2004-05, orientando nessa altura os escalões de Escolas, Iniciados, Juvenis e Juniores, e conquistando dois títulos nacionais e outros tantos distritais. Foi a primeira passagem pela academia do Seixal.

Bruno Lage partiu depois para uma experiência internacional. Primeiro nas camadas jovens e equipa B do Al Ahli, dos Emirados Árabes Unidos, rumando mais tarde para Inglaterra, na qualidade de adjunto de Carlos Carvalhal no Sheffield Wednesday e no Swansea. Muito elogiado pelo técnico português, deixou também boa impressão no segundo escalão do futebol britânico.
Agora, tem pela frente um novo desafio, o maior da carreira, como treinador principal. Assumira funções no Benfica B no arranque desta temporada e chega à equipa principal ainda com quatro frentes de competição em aberto. Para já, ostenta o estatuto de interino, mas o futuro dirá até quando ocupará o cargo.

O que caiu mesmo nesta quinta-feira  foi a promessa deixada por Vieira no final de Novembro. “O Rui Vitória será o treinador até ao final da época garantidamente... A não ser que haja algum imprevisto.” Houve e chamou-se Portimonense.